O Fundo Monetário Internacional (FMI) adverte que em Moçambique as populações mais carentes pouco se beneficiam do crescimento económico que se regista no país nas últimas duas décadas, escreve o proeminente escritor britânico, John Halon.
Falando em Londres, capital britânica, durante um encontro organizado pelo Instituto de Desenvolvimento Externo (Overseas Development Institute, ODI), o director do FMI para Africa, Roger Nord, explicou que em Moçambique, de um modo geral, os pobres continuam a se beneficiar menos, comparativamente ao resto da população, do rápido crescimento económico que regista no país nos últimos anos.
“Este é um problema, porque gera tensões sociais. Também é problema porque se os pobres não se beneficiarem o suficiente será muito difícil que este crescimento seja sustentável. Esse e’ um assunto que nós (FMI) estamos a discutir com profundidade, em Moçambique, por exemplo, onde as autoridades estão particularmente preocupadas em garantir que os pobres se beneficiem de igual modo como o resto do país”, acrescentou.
Na ocasião, Nord manifestou o seu optimismo, afirmando que Moçambique poderá evitar alguns dos problemas que se registam noutros países africanos tais como a Nigéria e Angola, afirmando que “durante os últimos 10 a 20 anos a Tanzânia, Uganda e Moçambique criaram mais instituições democráticas comparativamente a alguns países produtores de petróleo”.
A reunião do ODI tinha como objectivo o lançamento do relatório do FMI intitulado Perspectiva Económica Regional para a África Subsariana (Regional Economic Outlook: Sub-Saharan Africa FMI 2012).
O relatório sublinha que devido a natureza capital-intensiva da industria de exploração dos recursos minerais “a maioria das receitas gerada pela extracção dos recursos acaba beneficiando apenas as companhias estrangeiras”, razão pela qual “reveste-se de capital importância a elaboração de mecanismos adequados de licenciamento e tributação caso os países queiram maximizar os benefícios resultantes dos seus vastos recursos naturais”.
O relatório também sugere que alguns destes recursos “deveriam permanecer no subsolo para que também possam beneficiar as futuras gerações”.
Finalmente, o relatório do FMI adverte que em muitos casos as receitas da exploração dos recursos minerais não melhoram os indicadores sociais e, muitas vezes, “ não se reflecte no aumento da produtividade em sectores (tais como a agricultura e muitos serviços)”.
De facto, “é surpreendente” que vários países africanos exportadores de recursos naturais não tenham usado este dinheiro para melhorar (a sua muito baixa produtividade) agrícola”, lê-se no relatório do FMI.
Em Moçambique, existem sinais de que o Plano Estratégico do Desenvolvimento Sector Agrário (PEDSA) continua a registar progressos, não obstante o facto de ter como base de partida uma produção muito baixa.
Na semana passada, o Ministério da Agricultura anunciou que durante a campanha agrícola 2011/2012 foram produzidas 16.266.611 toneladas de produtos alimentares, o que representa um crescimento de 8,4 por cento comparativamente ao ano anterior.
A mandioca foi a cultura que registou o maior crescimento 12,6 por cento para atingir 11.368.912 toneladas, e tomate que cresceu 13 por cento, para atingir 220.276 toneladas.
Com relação a outras culturas alimentares a produção de cereais cresceu 6,9 por cento 3.129.678; leguminosas 7.6 por cento (41.090 toneladas); batata 7,1 por cento (203.520); cebola 6,7 por cento (85.050) e vegetais 7,2 por cento (750.464).
Nos últimos meses regista-se uma queda de preços de produtos alimentares. Aliás, dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE) demonstram que em Abril o preço de tomate em Maputo, Beira e Nampula registou uma queda de 6,6 por cento, peixe seco 5,8 por cento, coco 3,1 por cento, alface 6,6 por cento, feijão manteiga 1,2 por cento e arroz 0,6 por cento.
Talvez esta seja uma das razoes que poderá ter levado ao fracasso as manifestações que haviam sido convocadas ilegalmente para a sexta-feira da semana passada, por via de mensagens SMS.
Este cenário contrasta com o que se registava em Setembro de 2010 quando uma onda de tumultos abalou a cidade de Maputo e Matola, e que causaram a morte de mais de 10 pessoas, e que foram desencadeadas pelo elevado custo de vida.