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No início de 1988, um jovem vereador da cultura da Câmara Municipal de Lisboa, o Arquitecto Victor Reis, lembrou-se de celebrar os 100 anos do nascimento de Fernando Pessoa, convidando o mestre Lagoa Henriques a criar a primeira estátua à escala humana, sem pedestal.
Seis meses mais tarde, a 13 de Junho , era inaugurada pelo Presidente Mário Soares, no Chiado em Lisboa, a estátua que passou a ser um novo ícone da cidade e do país. Como todas as obras de arte marcantes, também esta enfrentou a ferocidade de um grupo de críticos , que a consideraram vulgar e desrespeitosa à memória do poeta. Opiniões que receberam como resposta a afectividade dos portugueses e de quem nos visita traduzida em milhões de fotografias.
Há cinco dias atrás, no dia do aniversário do nascimento de Fernando Pessoa, vozes exaltadas discutiam que a Grécia deveria vender algumas das suas ilhas para apoiar a resolução da sua actual tragédia. Acredito que nunca acontecerá. Não porque se trate de uma questão legal ou constitucional, mas porque nenhum povo livre e democrático aceitará algum dia alienar a sua identidade. Salzburgo, não vive sem a sua orquestra. Londres orgulha-se do seu grande veleiro Cutty Sark (que chegou a ser português ), Roskilde na Dinamarca tem brio no seu museu Viking. Ninguém imagina Veneza sem a Praça de São Marcos. Lisboa também é impensável, sem as palavras de Pessoa:
"(...) Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada (...)
O conceito de bem público entende-se melhor, quando se ganha a consciência, que podendo existir valor , como neste caso, não existe preço. É que um tesouro nacional, é um conceito que está para além daquilo que a ordem jurídica considera património do Estado. Com cálculos relativamente simples, conseguiríamos também chegar ao valor do Mosteiro dos Jerónimos. Conhecendo as matérias primas, os anos de construção, a mão-de-obra envolvida, e as especiarias que ajudaram a financiar esta obra, chegaríamos a um Valor Actual Líquido. Mas nunca conseguiríamos chegar a um preço, porque não se quantifica a memória, a história, e a vida de todos aqueles que depositaram, temporariamente, nas nossas mãos, o património comum. No preciso momento em que lê estas palavras, alguém está a tirar uma fotografia sentado na cadeira da estátua de Fernando Pessoa no Chiado. Uma estátua que custou em 1988, sete mil e quinhentos contos. Quanto valerá agora?
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http://economico.sapo.pt/noticias/valor-sem-preco_146678.html