Forma como Governo anunciou novas medidas de austeridade levam Júdice a sentir “saudades de Sócrates”. Senadores criticam o que ficou por dizer.
A comunicação de Passos Coelho ao País na sexta-feira nem à direita recolhe aplausos. Vários senadores do PSD e CDS criticam a forma como o primeiro-ministro anunciou as novas medidas de austeridade, apontando-lhe falta de estratégia comunicacional, mas também lamentando que não tenham sido anunciadas medidas de redução de despesa e de austeridade sobre os rendimentos e os grandes lucros.
Ao Diário Económico, José Miguel Júdice junta-se a um coro de críticas que durante o fim-de-semana apontaram o dedo à forma de comunicar do primeiro-ministro e remata: "Que saudades do tempo do engenheiro Sócrates, porque era um profissional de comunicação e este primeiro-ministro não é. Isto foi um erro de apresentação, foi muito mal vendido e sobretudo foi muito mal preparado". Para ex-bastonário dos Advogados, Passos devia ter anunciado todas as medidas que vai tomar e não apenas aquelas que afectam os trabalhadores, porque, diz, não acredita que não venham aí mais impostos sobre o capital e sobre empresas que têm grandes lucros. "O que vem a seguir é para os outros e vai ser muito violento", antecipa o advogado, dizendo também que não espera que as profissões liberais, como a sua, fiquem de fora dos sacrifícios:"Mesmo não descontando para a Segurança Social vamos pagar imposto, porque não me passa pela cabeça que o primeiro-ministro se tenha esquecido destas profissões".
Mais do que aquilo que Passos anunciou, foi aquilo que Passos não disse que mais críticas tem recolhido à direita. Mira Amaral, um dos seus apoiantes internos desde sempre, considerou "chocante" a ausência de medidas de redução da despesa pública e a manutenção da abolição dos subsídios de reformados e pensionistas. À Lusa, o ex-ministro de Cavaco disse mesmo que o Governo está "a perder ‘timing' político" e considerou ainda "chocante que as grandes empresas que não estão no sector dos bens transaccionáveis como a PT ou a EDP, recebam ajuda que não precisam". Também Marcelo Rebelo de Sousa lamentou esta hipótese no seu comentário na TVI, acusando igualmente Passos de "impreparação" e de ter sido "no mínimo descuidado e no máximo desastrado".