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General: Do consenso ao com senso
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De: mariomarinho2 (Mensaje original) |
Enviado: 19/09/2012 12:51 |
Já se sabia que a coligação entre Passos e Portas não colava cientistas ao tecto. Que o PSD e o CDS estavam no mesmo navio, mas um na proa e o outro na ré. Mas não se sabia que abririam um rombo no casco esperando continuar a vogar. Chega a ser juvenil. Perigosamente juvenil. Já se sabia que a coligação entre Passos e Portas não colava cientistas ao tecto. Que o PSD e o CDS estavam no mesmo navio, mas um na proa e o outro na ré. Mas não se sabia que abririam um rombo no casco esperando continuar a vogar. Chega a ser juvenil. Perigosamente juvenil.
A coligação que forma o Governo nunca foi uma aliança. Passos nunca passou grande cartão a Portas que nunca passou grande cartão a Passos. Foi uma parceria de interesse para tirar as estacas de duas propriedades que assim se verteram numa. Mas foi um casamento sem namoro e em camas separadas, que aguentaria apenas o tempo necessário. Mas nem o tempo necessário está a aguentar.
Sabemos hoje que um dos dois líderes partidários mentiu ao outro, não sabemos qual, não sabemos mesmo se os dois. No passado, já ambos mentiram. Passos, quando disse que não conhecia as medidas do PEC IV e depois se soube que afinal tinha estado com José Sócrates. Portas, na célebre história de uma sopa fria. Talvez por isso, nenhum confie no outro. Mas o ambiente de traição tornou-se insuportável. Estamos como quando Balsemão e Eanes se reuniam com gravador em cima da mesa, coisa que aliás Passos prometeria em relação a Sócrates. Como se reunirão Portas e Passos agora?
Pedro Passos Coelho errou na condução política da medida de aumento da taxa social única para os trabalhadores, revelando displicência. Paulo Portas não engana ninguém, engana toda a gente. Obviamente, quis descomprometer-se de uma medida impopular, pondo os pés de fora do navio. E assim se chega às vésperas de uma crise política.
Uma crise política neste momento é tão estúpida que ninguém a quer. Nem o PS. A Bolsa portuguesa já começou a cair, as taxas de juro a subir, as agências de "rating" a avisar: com crise política, a reputação externa de Portugal vai por água abaixo. E isso quer dizer mais dificuldade de regresso aos mercados, logo necessidade de mais dinheiro da troika, logo mais austeridade. Os dois partidos têm a obrigação de suportar o insuportável e pelo menos desfazer de modo controlado a paz podre.
O cenário de eleições antecipadas é tão incrível que ninguém o leva a sério. Mas mesmo se o CDS sair do Governo, ainda que garantindo apoio parlamentar, estará a legitimar um poder precário, que durará tanto ou tão pouco como uma rabanada. E não parece que tenhamos Presidente para o cenário extremo de Governo de iniciativa presidencial.
A gestão política do Governo é um fracasso, mas alguém tem de pegar nos paus e começar a reconstruir as pontes. As intervenções públicas têm sido provocatórias, quer do PP, quer do PSD. Mesmo Manuela Ferreira Leite, que fez o discurso de oposição ao Governo mais violento, foi incendiária quando convocou os deputados da maioria à desobediência, para que votassem "individualmente" o Orçamento do Estado.
A intervenção do Presidente é a réstia de solução. De outra forma, começaremos a concordar que a evolução da situação política ao longo das intervenções externas na Grécia, em Espanha, em Itália e agora em Portugal está a demonstrar uma crise no próprio sistema político tradicional. Não há solução sem um Governo forte, competente e resistente.
Se não é possível chegar a um entendimento em que Passos e Portas saiam ambos vencedores, pois que saiam ambos perdedores. A sua imagem e a dos seus partidos interessa pouco ao pé da agonia do País. Charles Talleyrand, que costumava dar conselhos a futuros diplomatas, acabava sempre da mesma forma: "E sobretudo, nada de demasiado zelo".
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