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ANGÓNIA: ECOS DO MONTE DOMWE
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De: nhungue (Mensaje original) |
Enviado: 04/12/2012 12:05 |
De: isaantunes (Mensaje original) |
Enviado: 10/10/2009 16:31 |
Quinta-feira, 27 de Agosto de 2009
“ (…) é consenso nacional, partilhado pela comunidade internacional, que Moçambique mudou”. Armando Guebuza, in Jornal Notícias.
Escrevo do cume do ponto mais alto da Província de Tete - Monte Domwe. Tenho comigo um caderno e pedaço de Jornal notícias. Na página frontal confronto-me com o seguinte título: “Moçambique mudou - Armando Guebuza, no encerramento da sessão do CC da Frelimo, que considera que tal se deve ao cumprimento das promessas feitas em 2004”.
Ai, sem hesitação, vasculhei a minha mente, olhei para os arredores. Felizmente, daqui do cume de Domwe vejo longe. Vejo as pessoas, as povoações, as artérias, os caminhos, machambas, as infra-estruturas sociais…de todos distritos da província que me pariu e do distrito – meu berço. Vejo todas as acções governamentais do Zumbo a Mutarara, de Angónia a Changara. Mas porque não posso me deter em tudo, concentro-me nesse planalto mais elevado do país – o Planalto de Angónia - dividido em Angónia, Tsangano e Macanga. Assim repenso na afirmação do Camarada Presidente nos seguintes temormos:
Moçambique mudou;
Angónia, Tsangano e Macanga, são distritos de Tete, uma das províncias de Moçambique,
Angónia, Tsangano e Macanga mudaram.
Diz-se que é consenso nacional e internacional que Moçambique mudou, porque alocou-se aos 128 distritos do país do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais, (sete milhões de meticais), aumentou-se a produção e a produtividade agrárias e introduziu-se culturas onde antes não eram praticadas ou há muito que tinham sido abandonadas, reformou-se o sector público e expandiu-se as redes escolar, sanitária e de abastecimento de água. Por outro lado, a construção de mais estradas, pontes, ferrovias, redes de telefonia fixa e móvel, a extensão de energia eléctrica a mais distritos e bairros suburbanos, a expansão do Ensino Técnico e a implantação de instituições de Ensino Superior em todo o país reforçam o leque das realizações apontadas pelo Chefe de Estado.
Pela lógica acima formulada, é igualmente consenso nacional e internacional que Angónia, Tsangano e Macanga mudaram. Será? Daqui do monte vejo que efectivamente alocou-se os sete milhões aos habitantes do Belo Planalto, mas apenas os membros dos Conselhos Consultivos, seus familiares e amigos é que receberam, não se descurando dos membros do nosso glorioso partido. Portanto, é consenso nacional e internacional que Moçambique mudou. Não é consenso nacional que os distritos mudaram. Daqui do monte Domwe testemunha-se que mudou o esquema de distribuição de fundos entre os que sempre tiveram acesso aos recursos. Assim grito e o Domwe faz eco: os sete milhões não estão a combater a pobreza! Perpetuam as desigualdades, a corrupção e o burocratismo no Planalto de Angónia!
Novas culturas efectivamente foram introduzidas. Vejo tabaco, gergelim, paprika… São factos. Vejo igualmente a corrida desenfreada a Tsangano para massificar a produção de trigo. Porém, não vejo acções de reflorestamento para compensar a destruição indiscriminada de árvores em consequência do fomento de cultivo de tais culturas. Os socalcos do Domwe estão nus. A nudez vegetal cobre igualmente Ntakasa, Mwezi, Ng’andu, Dzenza – Manyenyezi, Chidzolomondo, Kauziuzi -Água-Boa…Por isso, não creio ser consenso nacional e internacional que neste aspecto Moçambique mudou, Angónia, Tsangano e Macanga não mudaram.
Grito de viva voz e em bom som, com o Domwe a fazer eco, que a rede escolar se expandiu. Até lá em Mtengo-Wa- Mbalame tem uma escola secundária. Chidzolomondo vai ter uma escola secundária, a sede de Tsangano tem uma escola secundária… Mas, fico rouco e nem Domwe me ouve quanto a expansão das redes sanitária e de abastecimento de água. Vejo as mamãs e as meninas a sairem dos poços tradicionais com baldes de água. Aqueles furos convencionais de águas que a Cruz Vermelha, a Água Rural e a Federacao Luterana construíram na longínqua década 90 estão todos inoperacionais. Não vejo novos Centros de Saúde. Nesse aspecto Angónia, Tsangano e Macanga não mudaram.
Concordo com a expansão de energia eléctrica. A linha passa até da minha machamba lá para as bandas de Mthini. Macanga, Domwe, Vila Ulongwe, Fonte – Boa, Mtengo-wa-Mbalame e Tnsangano -Sede estão iluminados. Neste aspecto “Cahora Bassa é Nossa!”. Mas ao longo da linha (estradas que ligam Macanga, passando de Domwe à Ulongwe, e de Ulongwe passando de Fonte –Boa, Mtengo wa Mbalame , Tsangano Sede, até Mphulu e de Mtengo wa Mbalame a Biriwiri, estão todas esburacadas. Não há meios de transporte de bens e pessoas por causa disso. As tais culturas acima mencionadas que as vejo daqui do Monte Domwe, estão a deteriorar-se por falta de escoamento. Nem aquelas bicicletas conseguem dominar a fúria dos buracos. Pavimentar tais estradas é mudar Moçambique, é desenvolver o Planalto de Angónia.
Expansão do ensino técnico e superior? Se se expandiu só lá entram os que conseguem pagar, mais de 80% provenientes de famílias das mesmas pessoas que produzem relatório de consenso nacional e internacional sobre a mudança de Moçambique e, logicamente, falam da mudança do Planalto de Angónia. Daqui do Monte contemplo a Universidade do Zambeze, lá na Escola Secundária de Ulóngue e o Instituto Superior Cristão (HEFSIBA). Contemplo igualmente o Instituto de Formação de Professores de Angónia. Poucos são processos limpos. Muitos de seus estudantes entram por cunho dos seus progenitores, familiares e amigos. Isso piora com a política de Unidade Nacional na formação de professores primários. Dai, que grito e o Domwe faz eco: Angoni ali pa diwa la katangale (os Ngoni estão na armadilha da corrupção). Por isso, o Planalto não mudou.
No capítulo sobre auto-estima não vejo. A nossa economia cá no Planalto depende dos nossos irmãos Ngoni do Malawi. A moeda que nos serve é Kwacha. É lá onde temos lojas, moagens, insumos agrícolas, silos agrícolas, sem falarmos da cultura. O hino, as danças, a musica, a gastronomia ultrapassam estas fronteiras menos claras que o colono forçosamente nos herdou.
Teremos auto-estima quando tivermos todos problemas acima mencionados completamente resolvidos. Entendemos que auto estima vem do desenvolvimento e não o contrário, e nem deve vir em forma de rajada política do quadrante sul e norte, vermelho e amarelo, nem do canto do galo ou cacarejar da perdiz, para às nossas mentes.
Agora que devo descer daqui do cume do Monte-Domwe, por temer que me façam descer de outras formas apropriadas para silenciar a verdade, lanço o último grito e o Domwe faz eco:
Angónia, Tsangano e Macanga não mudaram;
Angónia, Tsangano e Macanga, são distritos de Tete, uma das províncias de Moçambique, logo;
Moçambique não mudou!
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De: nhungue |
Enviado: 04/12/2012 12:06 |
De: isaantunes |
Enviado: 11/10/2009 08:18 |
Queridos amigos, Partilhei convosco este manifesto de um angoni, muito bem escrito, dando conta do que vai, pela minha terra, apreciado do cimo do Domwe, não só porque o achei muito interessante,mas, também, para vos chamar a atenção, para os "blogs" de moçambicanos talentosos, em várias áreas, que se vão encontrando na "Net". Beijinhos. Isabel |
De: marioalmeidasj |
Enviado: 20/10/2009 19:51 |
Isabel, Ficas a saber que esse Domingos Bihale foi meu aluno de Português na 10ª classe na Fonte Boa, em 1998. Portanto, algo, ainda que pequeno, contribui, para a sua escrita e, espero também, para a sua visão do mundo. Mulungu akusungeni! Abraços, Mário
De: isaantunes |
Enviado: 20/10/2009 20:04 |
Mário, Sendo assim, os meus parabéns ao professor de português, do Domingos Bihale. Quanto à sua visão do mundo, não restam dúvidas que não tem medo de lutar, para que ele seja melhor. Como disse, no meu comentário, há jovens moçambicanos a escreverem muito bem. Tenho pena de não ter tempo para pesquisar e partilhar o que de bom se pode encontrar. Um beijinho. Isabel |
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