O CEMITÉRIO PRINCIPAL DA CIDADE CAPITAL DE MOçAMBIQUE
Ao
saber a notícia fiquei absolutamente estarrecido, enojado, revoltado e
pedindo a clemencia de Deus para os mortos ali enterrados. O cemitério
com as sepulturas esventradas, caixões
abertos, corpos ou o que resta deles fora das campas, ossadas
espalhadas pelo chão do que fora um respeitado e florido espaço que
guardava os corpos daqueles que tendo vivido na cidade que escolheram
para viver, morrer e ali ficarem para todo o sempre, vandalizado,
destruído, como se por ali tivesse passado um tsumani dos mais graves
da nossa história. Gente sem escrupulos, gente vingativa, sem o mais
pequeno vislumbre de inteligência, gente que pedia vingança de actos
que certamente muitos daqueles corpos ali enterrados nunca foram
responsáveis nem culpados. Com a saída de Moçambique, da sua capital e
de todo o território dos portugueses que a isso foram obrigados
por uma revolução mal preparada, por oficiais do exército
inescrupulosos, que por medo ou por estarem fartos queriam à fina força
regressar aos seus lares, e isso ninguém lhes pode levar a mal, mas que
se esqueceram que tinham o sagrado dever não só de respeitar a
bandeira portuguesa e tudo aquilo que ela representa, mas também os
cidadãos, os seus valores, as suas heranças de um passado de poupanças,
sacrifícios, trabalho, perda de saúde e de vidas, como bem exemplifica
os que estavam enterrados nos cemitérios da Capital e certamente pelos
que espalhados por todo o território moçambicano continham os restos
mortais daqueles que em vida foram os pioneiros e fizeram de Moçambique
a Nação que é hoje. E o que mais me aterroriza é o de saber que
naquele espaço valioso no meio da cidade do Maputo desrespeitando tudo o
que há de mais sagrado num terreno em que em cada funeral, quer de
brancos, mestiços, pretos ou indianos, mais uma benção era ali
depositada, pela força da água benta depositada pelos sacerdotes que os
acompanhavam, tenho muita
pena e vergonha do que querem fazer naquele espaço sagrado: um edifício
não sei de quantas dezenas de andares, mandado construir ao que consta,
pela filha do actual Presidente da República de Moçambique Sr Guebuza.(Creio ser este o nome de Sua Excelência).
Que Deus tenha compaixão das pessoas
responsáveis por este desaforo e pelas almas dos corpos de quem em
vida lutou por um Moçambique melhor e teve a desdita de ali ter a sua
última morada.
José de Viseu