Escrever bem é pensar em primeiro lugar no leitor. E pensar no leitor é, ponto primeiro, fazer a escolha certa das palavras. Falamos de léxico – primeira componente a ter em conta.
Escrever bem não significa escrever de uma forma sofisticada, usando o que vulgarmente se chama de palavras “caras”. Quem escreve de forma complicada e difícil não comunica, mas antes isola, exclui, discrimina; está tão-só a pensar em si e não em quem lê.
Palavras difíceis e pouco conhecidas travam o fluir da leitura, atrasam a compreensão. São como um tropeçar em arame farpado numa planície verdejante.
Palavras comuns, pelo contrário, são reconhecidas instantaneamente pelo leitor, tornando a leitura bastante mais fácil, logo, um prazer. No fundo, é o leitor sentir-se “em casa”, encontrando no texto um bom “anfitrião”!
Escolher bem as palavras é, portanto, o primeiro passo para o sucesso de um bom texto.
Ponto segundo. Escrever bem é também respeitar a memória do leitor. Ora, aqui falamos de sintaxe, que é a componente da gramática que se ocupa da combinação das palavras na frase. Pois bem, essa combinação tem de ser (quase) perfeita, pelo que se impõe um limite no número de elementos a articular.
Quem lê quer perder o menor tempo possível a compreender o que lê. Quer evitar voltar atrás vezes sem conta, quer ler com prazer e sem muito esforço.
Frases demasiado longas dificultam a compreensão, por isso, as frases devem ser curtas para serem memorizadas logo na primeira leitura.
Intercalações intermináveis e intercalações dentro de intercalações são também um tropeço à compreensão. No meio desse labirinto de palavras, o leitor pode conseguir encontrar o sujeito, mas fica a dar voltas e voltas para saber onde está o predicado!
Articular bem as palavras é, portanto, o segundo passo para o sucesso de um bom texto.
Ponto terceiro. Escrever bem é também fazer bom uso da pontuação. A pontuação é o tempero do texto, mas mal usada, pode ser um autêntico dissabor. Quando o leitor tropeça num sem-número de vírgulas, parênteses e travessões, acaba por perder o fio condutor da leitura.
E vírgulas a menos também podem ser um problema. Podem alterar de forma drástica o sentido de uma frase.
Se não colocarmos vírgulas na frase ”O marido da Ana que trabalha em Coimbra chega hoje”, ficamos a pensar que a Ana tem mais do que um marido. Dois pequenos sinais responsáveis pela incorrecção da frase.
Pontuar bem o texto é, portanto, o terceiro passo para o sucesso de uma boa redacção.
Ponto quarto. Finalmente, o estilo. O estilo é a maquilhagem do texto, que se quer bela, mas bastante suave!
Os bem conhecidos elo de ligação, há anos atrás, encarar de frente são alguns exemplos de redundncias que se devem evitar. Ideias repetidas não trazem nada de novo e aborrecem o leitor.
O excesso de estrangeirismos é também uma “praga” a combater.
Bem sei que existe um certo encanto em dizer spa em vez de termas, resort em vez de estncia, feedback em vez de retorno, mas a leitura tem de ser confortável e não uma corrida de obstáculos. Por isso, devem usar-se termos estrangeiros apenas quando não existe expressão correspondente em português.
Adornar o texto de forma equilibrada é, portanto, o quarto passo para o sucesso de uma boa redacção.
Em suma, escrever bem é saber articular de forma sábia as várias componentes da gramática: escolher bem as palavras, combiná-las o melhor possível e, por fim, colocar adornos estilísticos quanto baste.
E termino com o pressuposto base deste texto: quem escreve tem de colocar o interesse do leitor acima de tudo. Do mesmo modo que um pintor não pinta para si próprio, quem escreve também não deve escrever pensando em si, mas tão-só em quem lê.
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