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O Rei Chulalongkorn do Sião Visitou Portugal
Introdução
(1ª parte)
Quatro Reis do Sião, durante os seus reinados e, pela orientação do Povo siamês tornaram-se grandes vulgos no decurso de dinastias, reinantes, em Aiutaá e depois em Banguecoque.
S.M’s. os Reis: Narai, Mongkut, (Rama IV) Chulalongkorn (Rama V) e Bhumidol Adulyadej, Rama IX (monarca, actual, reinante) cujo sucesso de desenvolvimento económico e harmonização social da Tailndia a eles se lhes deve.
No final do século VXII o Rei Narai inicia as relações internacionais, em larga escala, principalmente com a corte de Luis XIV de França. Embora, estas, não tenham tido grande sucesso a porta ficou aberta para que os outros monarcas, seus sucessores, lhe seguissem a linha de pensamento.
Os súbditos do Rei de França,Luis XIV, enviados para o Sião (inclusivamente uma Missão Diplomata francesa à corte de Narai), tinha em mente que o encetamento de relações teria, como o propósito de colonizar o território (aliás como viria mais tarde, acontecer, a colonialização do Cambodja, Laos e Vietname).
A dinastia como título genérico adopta nome Rama.
Rama I, depois da queda de Aiutaá, em 1767, doou a Portugal em 1782, uma larga parcela de terreno, nas margens do rio Chao Praiá,em Banguecoque, para construir Feitoria, residência para o Feitor, doca para construir e reparar navios e, também como intermediário para criar relações comerciais com países ocidentais.
No terreno (onde mais tarde foi construída a “Nobre Casa” e residência do Chefe-de-Missão) foi edificada uma construção de tábuas e bambús e, esta, vai servir de acolhimento, por cerca de 60 anos, a feitores e cônsules de Portugal.
Rama I seguindo o pensamento e orientação do Rei Narai pretende que Portugal seja o país de interligação entre o Reino do Sião e o mundo ocidental para activar as relações internacionais e comerciais e que, infelizmente, tal coisa nunca viria acontecer.
Portugal tem um império imenso para administrar, a invasões napoleónicas, a instalação da Corte Portuguesa do Brasil faz com que os cônsules (nomeados pelos Governadores de Goa ou Macau), por falta de meios e vivendo com todo o género de carências, entra assim a Feitoria num estado de melancolia; uma barraca , erguida, em paus de bambú, onde os representantes, portugueses, em dificuldades e em estado, de pobreza, foram dividindo, em parcelas, o terreno; alugando-as a firmas para nelas construirem armazéns e, estes servirem para o escoamento e armazenamento das mercadorias vindas e idas através do Rio Chao
Praiá, o principal meio de comunicação em Banguecoque.
O Rei Phra Phutthaloetla (Rama II), em 1820, oficialmente, procede à doação do terreno, com grande cerimonial e protocolar, no Brigue S.João Baptista.
O Reino do Sião e dada às enormes riquezas existentes , países da Europa e os Estados Unidos da América firmam relações comerciais, de amizade e navegação, com a assinatura de acordos afim de iniciarem as permutas de mercadorias.
A rotina constante da chegada e partida de barcos de países, estrangeiros, é já um facto corrente.
O Porto Internacional de Banguecoque está a jusante e a pouco mais de uns três quilómetros da Feitoria de Portugal.
Em 1851 é intronizado o Rei Pra Chomklao Mongkut (Rama IV), monarca de uma inteligência rarissima e para que o Reino do Sião progrida há necessidade que ele se exprima na língua inglesa; os seus filhos, Príncipes Reais e individualidades, próximas, da sua Corte.
O Rei Mongkut contrata, para ensinar a língua inglesa na corte a professora Ana Leonowens (que mais tarde, com fantasia, imaginativa e no propósito de sensabilizar os leitores e vender as suas novelas, em 1872, é colocada à venda “ O Romance do Harem”).
A novela nos Estados Unidos da América, causou sensação e, embora, a vivência da Corte do Rei Mongkut não seja a realidada do descrito pela Ana Leonowens, não deixa porém de contribuir para que o Reino do Sião passe, através da prosa da novelista, para o contexto de uma das nações, mais conhecidas, da Ásia, no mundo da época.
Não corresponde à verdade as narrações, de prodigiosa imaginação, da Ana Leonowens sobre a realidade daquilo que se passava dentro dos muros do palácio real.
O Rei Mongkut escreve e fala correctamente inglês, trava correspondência, diplomática, com o Presidente dos Estados Undios da América, Abraão Lincon e a Rainha Vitória de Inglaterra.
Em 15 de Novembro de 1868, às cinco da tarde, o Rei Mongkut morreu de malária, conhecida, no Sião, como por “febre da água negra”.
Rei morto Rei posto e com isto ocupa lugar o seu filho, o Princípe Herdeiro, Chulalongkorn, e a quém se deve o progresso da Tailndia moderna de hoje.
Chulalongkorn tem apenas 15 anos quando foi intronizado Rei do Sião.
O jovem monarca aproveitou bem os ensinamentos de seu Pai e, reinando, vai concluir o sonho e a Obra do Rei Mongkut fazendo do Reino do Sião um país moderno; progressivo e, a continuação da unificação do povo siamês.
Chulalongkorn vai governar 42 anos e 23 dias (1868/1910).
Durante o seu reinado é abolida a escravatura, são iniciados e levados em frente muitos projectos e entre eles a organização do sistema administrativo e jurídico do reino comparável ao dos países do ocidente.
Promove o ensino de línguas estrangeiras no Sião; cria instituições onde se destaca a Cruz Vermelha Internacional; são abertos troços de linha férrea que permite ligar o Sião a Singapura numa distncia de 3.000 quilómetros; uma central dos correios e telégrafo; abertas ruas e novas canais de navegação dentro da capital.
O Rei Chulalongkorn sabe muito bem que a cobiça, estrangeira, para a colonizar o Sião existe e, isso foi-lhe lhe transmitido pelo seu Pai o Rei Mongkut:
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Além do monarca ser um conciliador e um orientador nato dos seus súbditos é um excelente diplomata.
No início de sua governação, monárquica, leva a cabo várias visitas, de cortesia a Java,Singapura, Índia e Birmnia (colónias de Inglaterra e Holanda) para que depois adapte, o que melhor lhe parecer dentro dos sistemas governativos, desses territórios, para a administração do Sião.
Mais tarde envia os seus filhos, príncipes, estudar para a Inglaterra, França e Rússia para que, depois da formação intelectual; das artes militares, relacionamente com o exterior e ao regressarem ao Sião, com os conhecimentos, pormenorizadas, adquiridos poderem dar a continuidade das reformas, iniciadas pelo avô o Rei Mongkut e seguidas pelo pai o Rei Chulalongkorn.
Visita os países seguintes:
1ª Singapura e Java de 9 de Março de 1870 a 15 de Abril de 1871;
2ª Singapura e cidades da costa do Oeste de 3 Novembro a 31 de Dezembro de 1871;
3ª Índia e Birmnia de 18 de Dezembro de 1872 a 15 de Março de 1873;
4ª Cidades da costa do Oeste, Singapura, Java e Penangue de 16 de Abril a 16 de Junho de 1890;
5ª Singapura e Java de 9 de Maio a 26 de Agsoto de 1896;
6ª Europa de 7 de Abril a 16 de Dezembro de 1897;
7ª Java 5 de Maio a 24 de Junho de 1901;
8ª Singapura de 20 de Fevereiro a 2 de Março de 1901;
9ª Europa 27 de Março de 1906 a 17 de Novembro de 1907.
O Rei Chulalongkorn visitou Portugal em 21 de Outubro de 1897
O “Diário de Notícias” de sexta feira do dia 22 de Outubro de 1897, na primeira página (embora esta despida de fotografias, como se compreende), dá realce à chegada a Lisboa do monarca siamês.
O reporter que fez a cobertura da chegada de sua Majestade o Rei do Sião abre a peça nos termos seguintes:
<< A hospitalidade era um dever sagrado entre alguns povos antigos e se não tem hoje o mesmo caracter religioso, a civilização moderna, inscreve-a egualmente entre os primeiros artigos do seu código.
O Rei do Siam é nosso hospede e bastava esta circumstncia para lhe tributarmos a nossa respeitosa homenagem como homem, quando a não merecesse oficialmente como chefe de uma nação, com quem há quatro seculos temos mantido, desde o começo, a mais cordeaes relações de amizade.
O Reino do Siam é um potentado que mais depressa deram o seu aperto de mão aos representantes da nossa soberania nas luminosas regiões do Oriente>>.
O jornalista, a seguir descreve a conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque, e dá realce aos feitos do guerreiro e diplomata e, continua a sua narrativa:
<< O Rei do Siam não podia escapar à vista perspicaz de Affonso de Albuquerque e por isso deliberou enviar-lhe uma embaixada, de que incumbiu Simão de Miranda de Azevedo, que se preparou muito bem para o desempenho d’esta missão, levando comsigo, para seu acompanhamento, seis homens de sua escolha, ataviados e concertados com elle.
A dadiva de Affonso de Albuquerque consistia n’umas couraças de setim cramesim, e n’um capacete guarnecido. Pequena, mas significativa amostra da nossa coragem e da nossa audacia.
Ide – disse o egregio capitão a Simão de Miranda – e affirmae a el-rei que lhe não mando senão as joias que tenho de que mais preso: são as armas com que puno e subjugo a perfidia e rebellião dos meus adversaries, e com as quaes defendo a lealdade de os meus amigos>>.
E continuando o reporter:
<< Quatro seculos decorreram depois d’estes extraordinarios acontecimentos, mas o ecco do nosso heroismo ainda não se apagou de todo no Oriente e se o rei do Siam conserva a sua memoria as tradições do seu país, é justa a justificada a sua curiosidade de visitar um povo pequeno, que todavia fez tão grande cousas.
Talvez vendo-nos de perto ache pigmeus os que a historia lhe pintava gigantes>>.
Lisboa, veste-se de gala na manhã de 21 de Outubro de céu límpido e azul; de colchas nas varandas e janelas; o colorido das roupas das damas da época debruçadas nos seus peitoris.
O movimento das carruagens, o roído das marchas militares, o povo a encher as margens das ruas e lá para trás os aguadeiros e, as mulheres, vendedeiras de fava rica, tremoços, azeitonas procurando fazer o seu negócio de rua.
O Comissário Teixeira, garboso, aprumado com os amarelos da sua farda, luzídios, que o faxina, ainda não tinha começado aclarar o dia os tinha polido com toda a destreza; ia dando ordens ao seu pelotão para que mantivessem o público bem enfileirado para quando S.M. o Rei do Sião por ali passasse e, que fosse fechado o trnsito aos “burricos”, carroças e carruagens para que o trajecto ficasse limpo.
No largo de Camões e Rocio tomava a formatura as brigadas de cavalaria compostas de: Lanceiros 2, Cavalaria 4, e na rua Augusta tomava posição a Marinha em grande garbo marcial, juntamente com a Engenharia e Infantaria 5.
O Terreiro do Paço ficou por conta de Artilharia 1, a quem estava incumbida a salva de 21 tiros, de quando a passagem de S.M. o Rei do Sião. Infantaria 2 e 7 perfilou na rua do Ouro; Caçadores 2 na rua Nova do Almada; Infantaria 16 no Chiado e a guarda municipal na rua Paiva de Andrada até ao Hotel Braganza onde o Rei e sua comitiva ficariam hospedados.
O Rei do Sião chegou de comboio à estação do Rocio e, às nove da manhã uma multidão aglomerava-se na gare, com muitas senhores, presentes, membros da nobreza, funcionalismo público e oficiais dos três ramos das Forças Armadas.
Há euforia dentro e fora da gare e alguma impaciência pela chegada do Rei do Sião quando entretanto chegou o Rei D.Carlos e tocado o hino nacional. O soberano português é seguido pelos membros dos ministérios, corpo diplomático, casa militar e civil, oficiais de todas as armas.
Às onze e cinco minutos a máquina a vapor número 92 composta de salão real, dois salões, carruagem salão, duas de primeira classe e uma mista estaciona na estação do Rocio. Altas individualidades dos Caminhos de Ferro Portugueses acompanharam o Rei do Sião, inclusivamente, desde Sevilha o engenheiro D. Carlos Vasque, chefe de divisão de via e obras dos Caminhos de Ferro,desde Madrid, Saragoça e Alicante.
O soberano siamês vestia uniforme branco e ouro e capacete igualmente branco e depois de deixar a carruagem real dirigiu-se ao Rei D. Carlos. Abraçaram-se e o monarca português deu-lhe as boas vindas na língua inglesa ao que na mesma língua Chulalongkorn lhe agradeceu na mesma língua. O Rei do Sião vinha acompanhado de seus filhos princípes e comitiva.
O público que assistia à chegada do monarca, queda-se eufórico, quer romper os cordões da polícia para ver de perto o Rei do Sião e, a muito, custo lá conseguiu o chefe Amorim amenizar o tamanho entusiasmo.
Os cumprimentos de boas vindas demoraram cerca de meia hora e findos estes os dois Reis, Príncipes, comitiva real, membros do Governo tomaram lugar nos elevadores “Edoux”, descendo ao pavimento inferior da estação, onde ali o povo foi difícil de conter pela polícia.
O Cortejo
<< Abria o prestito a cavalaria da guarda municipal que produzia um circuíto deslumbrante pela forma como se apresentou, seguindo-se-lhe dois postilhões da casa real; em seguida marciavam-se duas carruagens particulares: uma conduzindo os srs marques de Fronteira, D. Antonio Paraty e outro camarista, e outra com pessoas da comitiva siameza; seguiam-se dois coches puchados a 3 parelhas com a casa militar do rei do Siam; outro coche a 3 parelhas com o Sr. Conde de Villa Nova da Cerveira, coronel Duval Telles e capitão Lacerda, seguindo no coice o coche de gala puchado a 4 parelhas, onde tomavam logar el rei D.Carlos, o rei Chulalongkou e os principes de Siam.
A’ estribeira ia o sr. Conde de S. Januário, com quem o monarcha siamez trocou algumas palavras e lhe disse adeus com a mão.
<< O cortejo era seguido pelo estado maior e ordenanças sob commando do sr. Coronel Elias Cardeira, e por muitas carruagens conduzindo o ministério e outras pessoas. Fechava o cortejo a brigada de cavalaria sob o commando do Sr. Coronel Dantas Borracho.
Quando os soberanos sahiram da estação eram 11 e meia horas, chegando ao hotel Braganza pouco depois do meio dia.>>
A multidão apinhava-se no passeio nas ruas do trajecto do cortejo para verem de perto o Rei do Sião e a sua comitiva. As bandas de música executavam os hinos siames e português.
S.M. Chulalongkorn mostrava-se visivelmente satisfeito pelas demonstrações emotivas do povo e, trocava palavras com D. Carlos. Porém e à boa maneira portuguesa, da época, os homens, entre a multidão, tiravam o chapéu saudando os dois monarcas a que o Rei siamês correspondia com uma continência.
Os canhões troaram aos dispararem a salva de 21 tiros, em honra da passagem do tão ilustre monarca, no Terreiro do Paço.
O hotel Braganza, foi transformado em residência real e depois da chegada o Reis D.Carlos e Chulalonkorn dirigiram-se ao terraço do hotel e dentro da panormica que está para além o Rei do Sião diise ao monarca português: “em país nenhum, daqueles que já visitei, encontrei coisa mais bela e agradável” Chulanlongkorn referia-se à panormica que seus olhos vislumbravam lá do alto em cima de Lisboa e do Tejo.
<< O monarca oriental aproveitou o ensejo para manifestar mais uma vez ao rei de Portugal o quanto se sentia satisfeito pela brilhante recepção e por visitar um país que tinha tão bello sol.
El-.rei D.Carlos e o ministério retiraram, dirigindo se a magestade portuguesza para o paço das Necessidades, escoltado por um esquadrão de cavallaria municipal.
A’porta do hotel fazia a guarda de honra uma força de Infantaria 16, com a banda, commandada pelo capitão Lobo.>>
O almoço
O Rei D. Carlos retirou-se e e foi servido um almoço ao Rei do Sião, seus filhos e sua comitiva, no salão nobre do Braganza que estava lindamente decorado com plantas e flores. Fizeram companhia a S.M. o rei do Sião, o Marques de Fronteira, D. António Paraty, Roberto Ivens, capitão Lobo e alferes Peixote, oficiais da guarda de honra.
Pelas duas da tarde o almoço estava terminado e o Rei do Sião e sua comitiva dirigiram-se para a sala de fumo e, mais tarde, novamente para o terraço e com o auxílio de binóculos admiraram a margem esquerda do rio Tejo.
<< O panorama encantou-os sobremaneira porque não havia meio de os arrancar do extasi em que estavam mergulhados.>>
Às três e meia da tarde o Rei Chulalongkon dirigiu-se ao Paço das Necessidades afim de pagar a visita ao rei D. Carlos.
Saiu com a sua comitiva do hotel Braganza e toma lugar numa carruagem puxada a duas parelhas, juntamente com seus dois filhos príncipes, Marquês da Fronteira e seguido de outras carruagens com Roberto Ivens, D.António Paraty e outros dignatários da Corte do Sião.
Atrás do cortejo ia um piquete de Lanceiros 2, sob o comando do alferes Miranda e escoltado por outro piquete às ordens do tenente Santos.
Notas
<<…- A cavalaria da guarda municipal estacionou depois na rua Ferregial de Baixo, até o rei do Siam ir para Cascaes, acompanhando-o à estação do caminho de ferro de Alcantara.
- D. Carlos na gare, na sala de recepção e no coche deu sempre a direita ao regio visitante.
- O serviço de polícia na rua e estação do Rocio foi, por vezes, atrapalhado, não tendo validade para alguns guardas os passes de reportagem fornecidos pelo Sr. Commandante da polícia.
- El rei D.Carlos ostentava o uniforme de marechal general, com a banda das três ordens.
- Os cocheiros das carruagens descobertas que conduziram o monarcha siamez ao paço, trajavam calção, meia de seda e sobrecasaca.
- Ao entrar o rei do Siam no hotel Braganza, a creadagem, em trajes de gala, formou em duas filas na escadaria.
- Nos portões de ferro do hotel estão colocados 6 bicos do novo gaz acytylene, de que é proprietário em Lisboa o sr. Dumas, da rua de S. Nicolau, 60, 1º.
E’ uma luz brilhantissíma, de grande intensidade, e não fere a vista.
Do gaz acetylene, que está sendo usado nas fábricas, collegios e hoteis estrangeiros, principalmente em França, foram agora vendidos pelo sr. Dumas, para o Brazil, 500 apparelhos.
- O rei do Siam quando foi ao paço das Necessidades levava vestido o uniforme do commandante da guarda imperial siameza.
- Quando o soberano siamez entrou no hotel Braganza, foi içado ali o pavilhão real d’ aquelle paiz.
- El rei o sr. D. Carlos, entre outras condecorações que ostentava ao peito, levava a ordem do Elephante Branco de Siam.>>
Viagem a Cascais
No Paço das Necessidades a visita durou, apenas uns 10 minutos, despedindo-se Chulalongkorn do Rei D. Carlos e derigiu-se com o sequito para a estação Alcantara-mar, para tomarem o comboio para Casacais.
O comboio é composto de salão real, dois salões pequenos e uma carruagem de 1ª classe, uma mista e um furgão. Partiu às quatro da tarde. A guarda de honra coube à polícia com setenta elementos sob as ordens dos chefes Basílio, Paes e Simões.
Desde muito cedo que o rei Chulalongkorn era esperado em Cascais, corria ali a notícia que o monarca partiria às duas hora da tarde Alcantara-mar e, por este motivo que muita gente correu para a estação, principalmente as senhoras movidas pela curiosidade feminina.
<< A Formosa villa estava engalanada, vendo-se por toda a parte profusão de bandeiras e das janelas pendendo ricas colgaduras.
A rua Frederico Arouca, praça do Município e avenida D. Amélia, estavam lindamente ornamentadas e as janellas apinhadas de senhoras.
Numa palavra: Cascais estava em festa e preparada para receber condignamente o nosso régio hospede.
A estação, como já dissemos, estava repleta de gente, na maior parte de senhoras que veraneiam em Cascaes e no Mont’ Estoril.
O comboio real chegou a Cascaes às quatro e meia da tarde. A banda dos bombeiros tocou o hino siamês e subiram ao ar girandolas de foguetes.
Do salão real até à porta da estação as senhoras abriram alas, adiantando-se a camara municcipal com o respectivo estandarte, para receber o soberano de Siam.
Apenas Chulalongkon saltou em terra, o nosso presado amigo sr. Costa Pinto, digno presidente da camara deu, em inglez, ao monarca siamez as boas vindas e felicitando-o em nome dos povos do concelho, pela régia visita, desejou-lhe todas as felicidades. Chulalongkon agradeceu muito a saudação: I thank you very much.>>
A caminho da cidadella
<< Em seguida sua magestade siameza tomou lugar na carruagem que o aguardava, a fim de se dirigir à cidadella cumprimentar sua majestade a rainha srª D. Amélia.
Na primeira carruagem tomou lugar Chulalongkon e os dois filhos com o sr. Marquez de Fronteira: na segunda, gente da comitiva e o sr. Roberto Ivens; na terceira comitiva e o sr. Conselheiro Beirão; na quarta, comitiva e na quinta, idem acompanhados pelo sr. D. António Paraty.
Haviam ainda mais três carruagens que não foi preciso utilizar.
Os foguetes estralejavam em todos os pontos da villa, não deixando de se queimarem desde que o soberano chegou até que partiu.
Durante o trajecto até à cidadella havia muito povo nas ruas do transito, produzindo bonito effeito as janellas dos challets apinhados de senhoras, e as filas de pessoas à entrada da residencia real n’aquella villa>>.
Na cidadella
<< A’ entrada da cidadella formava a guarda de honra de infantaria 7, sob o commando do capitão Saldanha. A banda tocou o hyno siamez e a bateria do forte deu salvas, tanto à entrada como a saída.
Estava tambem ali o governador da praça.
A’ porta do paço foi Chulalongkon recebido pelos srs. Condes de Figueiró e de Sabugosa, duqueza de Palmella e conde da Ribeira, sendo introduzido na sala das recepções e bem assim o seu sequito.
Durou pouco mais de 10 minutos a visita, no fim da qual foi o monarcha oriental acompanhado até a carruagem pelos mesmos personagens pondo-se o cortejo a caminho para a estação.
A’ partida a artilheria salvou e os foguetes continuaram a estralejar.>>
O regresso
Na estação de Cascaes conservara-se ainda bastante gente para assistir a partida do rei do Siam.
Enre o seu sequito tomaram lugar nos respectivos salões, ao son do hynno siamez e acompanhados pela camara que se conservara na gare, partindo o comboio às 5:10.
A chegada ao Caes do Sodré foi às 5,50, tendo o comboio real tido uma paragem em Paço d’ Arcos, junto da ponte.
No comboio acompanharam os srs.: general Cabral Couceiro, Carrascal Bossa, inspectores Dias e Correia, Vernee, Luciano de Cravalho e dr. Moncada.
No largo do Caes do Sodrén aguardavam sua majestade o rei do Siam dois esquadrões de cavalaria 4 e Lanceiros, que acompanharam o rei até ao hotel Braganza, onde chegou às 6 horas.
Tomou ali chá com a comitiva, e mudaram a toillete vestindo uniformes de gala que são muito vistosos.
Na mesma ordem que haviam levado para as Necessidades seguiram às 7 ½ da noite para o Paço d’Ajuda, não levando comtudo a escolta de cavallaria.
No Caes do Sodré era a polícia feita por 5º guardas e no hotel Braganza, à noite, por 60 polícias com os chefes Pedro e Antunes.
Havia muito povo nas proximidades do hotel Braganza e Caes do Sodré.
A polícia em Cascaes, sob as ordens do cabo Barbosa, é digna de elogio pelo bom serviço que ali prestou.
Eguaes elogios merece a polícia de Lisboa, não só pelo serviço aturado e violento, como pela ordem e cordura com que se portou.
Para Cascaes seguiram hontem à noite dois esquadrões de lanceiros 2 e cavallaria 4.
A recepção
<< Teve logar Às 8 horas no paço d’Ajuda, no denominado salão azul, que estava brilhantemente iluminado.
A’quella hora já ali se encontrava sua majestade a rainha sr.ª D. Maria Pia e sua alteza o sr. Infante D. Affonso, que receberam o rei Chulalongkon e sua comitiva, chegando pouco depois suas majestades el-rei D.Carlos e a raimha sr.ª D. Amélia, começando em seguida a recepção.
A’ direita da família real portugueza ficou sua mejestade el-reik de Siam e o seu sequito, e à esquerda o ministério e casa militar e civil d’el-re.
O rei do Siam trocou differentes palavras com os altos dignatários que concorreram a recepção, principalmente com o sr. Conde de S.Januário.
O aspecto que offerecia o salão n’esse momento era deslumbrante.
Do corpo diplomático esteve tudo quanto se encontrava na capital.
Terminada a recepção, a família real e convidados dirigiram-se para o salão nobre, que estava luxuosamente ornamentado com plantas, flores e crystaes, e ali teve lugar o banquete de gala.>>
O Banquete
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Aos brindes levantou primeiro a taça de champagne sua majestade o Rei do Sião e, agradeceu a hospitalidade e a recepção que lhe tivera sido dispensada em Portugal e, desejou à família real portuguesa as maiores felicidades. Seguidamente o Rei D.Carlos levantou a taça e transmitiu ao monarca siamês aos maiores venturas e prosperidade ao seu Reino.
O banquete foi abrilhantado pela orquestra de cmara, sob a regência do maestro Ilídio de Carvalho.
Terminou o repasto e o serão real às 11 horas da noite e depois das despedidas o Rei do Sião e sua comitiva sairam para o Hotel Braganza.
No largo da Ajuda, durante o banquete permaneceu muita gente para assistir à passagem do monarca do Sião e entre esta muitas senhoras. No átrio do paço da Ajuda a banda de Infantaria 1, sob a direcção do contra-mestre Manuel da Encarnação, executou o reportório seguinte:
Hinos da Carta e Siamês; Marcha Turca de Mozart; Des Frevous de Walochis; Festas do Minho de Moraes; Quadros Disolventes de Nietto; Cavalleria Rusticana de Mascagni; De vuelta del Vivvero de Gimenez; Canções do Alentejo de Moraes; Davo Veze de Ascher; Lecide de Massenet; Rei de Lahore de Massenet; Sardana de Berton e Hino Siamês.
Programa para o dia 22
- O rei do Sião recebe o Corpo Diplomático acredidato no Reino de Portugal às 11 da
manhã;
- Visita a vários edifícios públicos, à fábrica de armas e material de guerra, museu de
artilheria, museu e jardim da escola Politécnica,Jerónimos e museu colonial em Belém.
Depois do jantar no hotel Braganza partirá à noite para Cascaes onde, em sua hora e comitiva estão preparadas brilhantes festas e iluminações. Na cidadela tomará chá, sendo convidados para asssitirem os oficiais-mores e suas mulheres, membros do Governo, ministros de Estado honorários residentes em Cascaes bem como o Presidente da Cmara e o administrador do Concelho.
Está agendada uma visita para o dia seguinte a Sintra e um almoço no Paço da Pena oferecido pelo Rei D. Carlos ao qual, além do Rei do Sião e sua comitiva estarão presentes as Rainhas, infante D. Afonso, membros da Corte e dos ministérios
Notas diversas (Condecorações)
<
O Príncipe real foi agraciado com a gran cruz da Torre de Espada, os outros princípes com a Cruz de Cristo; o ministro, com a da Conceição; os demais membros da comitiva com commenda de Cristo e Conceição.
Por sua parte, o rei do Siam agraciou el-rei D. Carlos com a mais alto grau da ordem de Maha Chackri, ou da grande corôa, que só é conferida a soberanos, princípes ou princezas, não sendo por ora conhecidas as restantes condecorações com que agraciará alguns outros personagens do nosso pai>>
Uma decima de Garcia de Rezende
<< Garcia de Rezende, o chronista de D.João II, dedicou na sua Miscellansea, que se pode tambem considerar uma breve chronica em verso, a seguinte decima aos mais do Siam e Pacer:
Outros reis não tem cuidados
De reger nem de mandar,
Estão sempre despejados
Com mulheres, criados,
Sem mais que folgar:
E tem uns governadores
Rejãos, que são regedores,
Tudo mandam: só lhes dão,
Aos reis d’isso razão,
Como seus superiores
A vida oriental da volupia e da ocidentalidade!>>
Moedas de Siam
<< No gabinete numismatico do palácio real da Ajuda existe uma importante colecção de moedas siamezas, algumas rarissimas e de grande antiguidade.
Esta colecção foi oferecida a sua majestade el-rei o sr. D. Luiz, por António Marques Pereira
(N.minha: Cônsul de Portugal no Sião de Janeiro de 1875 a Março de 1882.)
A parte não menos curiosa da colecção é formada por deseseis moedas de vidro e seiscentas e trinta e tres de porcelana.E, porem, de advertir que as moedas d’esta especie só tinham curso entre os monopolistas do jogo. Tem o nome especial de pi.
O mesmo offerente publicou em 1870 uma breve memoria sobre esta colecção, que foi prefaciada pelo nosso amigo e ilustre numismata dr. Teixeira de Aragão.
(N. minha: é de realçar a veracidade com que o jornalista (ou equipa de reportagem) relatou o evento real, em pormenor e, destaco à fiel sobre as moedas siamesas expostas no Palácio da Ajuda)
Visita à Sociedade de Geografia
<< Ouvimos que uma das visitas que serão lembradas ao rei do Siam, será à magnifica installação da Sciedade de Geographia de Lisboa, por todos os motivos muito digna de ser visitada.
Hoje, nas illuminações em Cascaes, serão apresentadas na alameda D. Maria Pia, em frente do palácio real, muitos focos alimentados pelo gaz acetylene, de que tem o privilégio exclusivo em Portugal o sr. Alvaro Rebello Valente, e o director technico da succursal em Lisboa o nosso amigo o sr. Brederode Smith.
No dia 16 ultimo, quando ali se realizaram as primeiras experiências, o nosso amigo Brederode Smith, em nome do Sr. Alvaro Valente, offereceu para um instituto de caridade d’aquella vila uma quantia que lhe havia sido dada para casa illuminação, commemorando assim o bom exito da experiência.
Em consequência de Chulalongkon se achar um tanto fatigado pela viagem, não começará hoje tão cedo como tencionava as visitas a vários edifícios e estabelecimentos.>>
José Martins
(Fim da Primeira parte)