Abraça-me!
Encontro-me assim,
meio perdida
na dissonncia de uma melodia
que não compus.
Não consigo perceber
um encaixe harmonioso
entre aquilo que espero
e aquilo que posso.
Tenho-me
como algo sem preço,
cujo valor se perde
ou inflaciona,
eternamente dependente
do julgamento de quem vive
num mundo que não construí,
preso a valores
aos quais não dispenso
a menor significncia,
aplaudindo um protótipo de beleza
muito distante do meu modelo...
Conheço-me!
Não quero nuvens escuras
no céu que pinto
nem palavras soltas
nas linhas que componho.
Desdenho do odor do lodo
e das marcas cinzentas dos bolores.
Quero sol a dourar os meus propósitos
e estrelas a luzir nas minhas esperanças.
Abraça-me!
Preciso saber que não estou só
nesta luta sem tréguas,
nestes apelos incomuns,
nestes sonhos que parecem únicos,
neste jardim onde me canso
de retirar as ervas daninhas...
Abraça-me!
Ainda há um horizonte
e, quem sabe,
descanse no ocaso
o mundo que sonhei p'rá mim...