O período de eleições recheia-se de conturbações, nimos exaltados e disputas intermináveis entre pessoas portadoras de idéias pretendidas como perfeitas. Atitudes de conflito assumem uma normalidade aviltante. Estão em jogo interesses particulares que aproximam ou distanciam homens, sedentos do poder social. Um poder que, na realidade, fecha-se nas mãos de poucos indivíduos. A maioria da população constitui um elemento a ser conquistado pelo convencimento do marketing eleitoral ou pela comprovação de ações administrativas realmente benéficas.
O cenário obscuro das eleições abriga as acusações, as ofensas e agressões, expondo publicamente fatos que constrangem indivíduos portadores de ética e noções de elevada moral. Eleição é o momento do apelo coletivo em favor de um determinado candidato e de agressão ao candidato concorrente
Por sua vez, a população age sempre na ofensiva, culpando os "políticos" de todas as mazelas sofridas. Atribui-se a eles, e somente a eles, as dificuldades enfrentadas na luta pela sobrevivência.
Aqui, cabem alguns questionamentos acerca desse comportamento disseminado pela sociedade: será que "os políticos" são realmente, os únicos culpados pelos problemas existentes? Será que também não contribuímos para isso? Afinal, quem os elege em cada novo pleito?
Quando a preferência partidária domina os pensamentos, o equilíbrio é preterido por comportamentos mais infantis, como crianças disputando doces ou brinquedos. Portanto, deve-se pensar menos na política partidária e questionar a política íntima, o governo interior. Como estão as ações dos cidadãos e cidadãs portadores de direitos e de deveres?
No cotidiano manifesta-se a face política dos homens e mulheres em sociedade. Nesse ponto, a reflexão aponta novos questionamentos: as ações estão corretas para que possa haver cobranças sobre as autoridades, ou seja, a "classe política", que administra o Estado? Essas ações são as menores possíveis e, aparentemente insignificantes, mas que demonstram o nível de comprometimento social do indivíduo para com o grupo. São ações, geralmente, não percebida no dia-a-dia:
- o uso da água potável e da energia elétrica, na residência, obedece à economia que poupe a fonte natural, permitindo sua renovação?
- o armazenamento do lixo obedece aos critérios de seletividade e acondicionamento, previstos pelas normas de higiene? Coloca- se o lixo na porta no momento de passagem do carro de coleta, ou fica exposto por horas a fio na rua?
- a administração dos recursos financeiros domésticos obedece ao princípio da economia, adquirindo o necessário e evitando gastos supérfluos?;
- o indivíduo esforça-se em seu crescimento pessoal, por meio dos estudos, do auxílio ao próximo e do aperfeiçoamento profissional? (escola, cursos, grupos de amigos, grupos de auxílio etc.);
- o indivíduo cuida da sua saúde física e mental, com boa alimentação e hábitos saudáveis?;
- o indivíduo pratica a ética em sua vida social? (não ultrapassa a vez do outro na fila; não busca um preço menor na aquisição de produtos, que o colocaria em vantagem pessoal sobre os outros compradores, mas, antes, luta por um preço menor e justo para todos).
Esses são alguns dos pontos que merecem reflexão na situação atual. As pessoas que não os estiverem seguindo, também não podem cobrar explicações ou compromissos dos administradores públicos ou assuntos como esses: honestidade nos gastos com recursos do Estado; melhores serviços de abastecimento de água e energia elétrica, bem como, coleta de lixo; justa administração econômica e política, com igualdade e justiça na distribuição das riquezas sociais; maior oferta de empregos; serviços públicos com melhor atendimento (saúde, educação, segurança etc.).
Observando esses fatos no cotidiano, percebe-se o quanto cada cidadão e cada cidadã contribui para manter a situação de desigualdade e injustiça, ou age no sentido de transformar a sociedade para uma democracia de fato.
Não pode haver queixa sobre a atuação do próximo (administrador público) sem verificar se a origem dos males sociais, não está nas próprias ações do queixoso. O cenário atual ainda demonstra como características marcantes, o egoísmo, a usura, a falta de solidariedade e de caridade.
Dessa forma, é necessária a luta por uma transformação social. Mas, essa luta, inicialmente, deve ser travada no íntimo de cada pessoa, eliminando as mazelas morais, assumindo compromissos pessoais por melhores dias para todos.