(...)
— Pode agora fazer-me o favor de descrever sua casa, paisagens, etc.?
É a Terra aperfeiçoada. Certo, a que chamais quarta dimensão, até certo ponto, existe aqui, mas não podemos descrevê-la claramente. Nós temos montes, rios, belas florestas e muitas casas; tudo foi preparado pelos que nos precederam.
Trabalhamos atualmente, por nossa vez, construindo e regulando tudo para os que, ainda durante algum tempo, têm que continuar a sua luta na Terra. Quando eles vierem, encontrarão tudo pronto e preparado para recebê-los.
Vamos contar-lhe uma cena que presenciamos, não há muito. Sim, uma cena no nosso mundo. Disseram-nos que ia realizar-se uma cerimônia em uma planície, não muito longe da nossa casa e a que poderíamos assistir. Era a cerimônia de iniciação de alguém que acabava de transpor a porta do que chamaremos preconceito, isto é, prevenção contra todos os que não fossem da sua escola, e que devia partir para uma esfera mais ampla em aplicações úteis.
Para lá nos dirigimos, conforme nos foi ordenado, e encontramos muita gente, vinda de diversas procedência. Alguns chegaram em... Porque hesita? Estamos descrevendo, literalmente, o que vimos – carros; dê-lhes outra denominação, se quiser. Eram puxados por cavalos, que pareciam compreender perfeitamente os seus condutores, pois não tinham rédeas, como se usam na Terra, e pareciam ir para onde os condutores queriam que eles fossem. Alguns vinham a pé e outros se transportavam pelo espaço, aereamente. Não, não. As asas não são necessárias.
Depois de todos reunidos, formou-se um círculo e alguém se adiantou, aquele que deveria ser iniciado. Trajava uma veste cor de laranja, porém, brilhante, não como a cor que você conhece. Nenhuma das nossas cores são assim. Somos obrigados a expressar-nos na nossa velha língua.
O que o tinha a seu cuidado, tomou-o pela mão, colocou-o em um pequeno outeiro verde, no meio do espaço livre, e orou. Ocorreu então um belo fenômeno. O céu parecia tingir-se, na sua maior extensão, de azul e ouro, e dele se desprendeu uma nuvem, como um véu, que se diria tecido de uma renda diáfana; estava decorado com figuras de pássaros e de flores, figuras que não eram brancas, mas douradas e brilhantes.
A nuvem pouco a pouco se estendeu e pousou sobre ambos; eles pareciam ter-se identificado com ela e ela com eles, e, ao dissipar-se, deixou-os mais belos do que dantes; e eles permaneceram belos, porque tinham subido a uma esfera de luz mais alta. Entoamos, então, um cntico, acompanhado por instrumentos invisíveis. Era uma cena belíssima, ao mesmo tempo prêmio para os que a tinham merecido e incentivo para os que ainda deviam trilhar o caminho por esses dois já percorrido.
A música, segundo me foi mais tarde explicado, partia de um templo fora do círculo, porém não parecia provir de parte alguma. É esta uma propriedade da música, entre nós. Muitas vezes como que se origina do ambiente.
Nem sequer a joia faltou. Ao dissipar-se a nuvem, vimo-la no semblante do iniciado; era vermelha, cor de ouro. O seu guia já possuía uma no ombro esquerdo, e notamos que ela aumentara em tamanho e brilho.
Embora possua uma ideia de como se desenvolve esse fenômeno, não tenho dele suficiente certeza para podê-lo explicar, havendo ainda dificuldade em traduzir o que sentimos.
Terminada a cerimônia, separamo-nos, a fim de continuar nas nossas respectivas ocupações, e embora a demora fosse maior do que prevíramos, exerceu ela benéfico efeito sobre todos nós.
Em certa montanha, do outro lado da planície, percebi uma luz que tomava a forma de bela figura humana. Não penso tenha sido a de Nosso Senhor, porém a de algum Espírito Elevado que veio trazer-nos força e mostrar a Sua vontade. Sem dúvida, outros puderam ver mais claramente que eu, visto como, quanto mais adiantados formos, tanto melhor vemos e compreendemos.
23 de setembro de 1913