CARTA A UM DESCONHECIDO Margarida Reimão
Que sabes de mim? Vê-me passando e acreditas conhecer todo meu ser. Moras comigo e pensas entender todo meu eu. Que podes conhecer? Por certo a roupa que visto, a cor da minha pele, ou o balançar do meu corpo. Que sabes de mim, estranha criatura? Eu sou o teu labirinto de perplexidade e nada sabes de mim. Podes entender de silêncio, de distanciamento, de cibernética, quiçá de algum jogo sem arte, Mas nada entendes de mim: nem da melancolia dos meus olhos, nem da ternura de minh'alma, tampouco de minhas crises existenciais, dos meus ideais, ou dos frêmitos do meu coração. Passas pelo tempo e não consegues estender-me a paz. Se te interrogo, não tens respostas. És um conflitante desconhecido que me toca as mãos, pousa sobre meus ombros, mas nada sabes de mim. Estás numa ilha isolada e perdido em ti por incontáveis Séculos. Nada sabes de mim, nada, ao menos, sabes de ti.
Do Livro: Cartas a Um Desconhecido
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