Da esquina eu olhava o meio do quarteirão. Ele estava sempre lá... disfarçando com seu jeito travesso... mas sabendo que era ele que eu olhava.
De longe, daquela distncia enorme que separava a esquina do meio do quarteirão... ele sabia o que eu lhe dizia, eu sabia o que ele me dizia.
Da esquina eu olhava o meio do quarteirão, e , no final de tarde do domingo ele saia todo lindo e cheiroso...
Da esquina eu olhava o meio do quarteirão e via ele voltando, correndo apressado... dormir cedo... no dia seguinte...
Da esquina eu olhava o meio do quarteirão... e via ele namorando no carro com a namorada, o beijo da despedida... e o olhar sem jeito porque eu estava olhando...
Da esquina eu olhava o meio do quarteirão mas ele não estava lá, era cada vez mais difícil vê-lo... faculdade...pensão...viagem... mas eu continuava olhando.
Hoje, quase não fico mais na esquina, mas quando fico... olho o meio do quarteirão e ele não está mais lá... e não estará... mas ,continuo olhando o meio do quarteirão.
Da esquina eu olho o meio do quarteirão... e meus olhos marejam, meu peito aperta, sinto o seu cheirinho gostoso de menino, tenho a impressão que sairá daquela casa... que correrá para a igreja... que correrá para a Av 9 de julho... que correrá para o panosso... que acenará, com sua mão forte, dando o sinal para que eu entre e volte, no dia seguinte, a olhar o meio do quarteirão...