PORTO INSEGURO
Maria Lucia Victor
Do meu caminho entendo eu. Meu norte traço a bico de pena e no vôo das águias que ao pôr-do-sol descambam nos azuis do mar ao anoitecer.
Sigo minha estrada de asperezas, tentando afastar as rochas brutas das incertezas enquanto pntanos traiçoeiros me acenam seus perigos.
Só nuvens guiam meu trajeto e nele me perco de quando em vez, pois sou humana.
Aqui e ali faço crescer umas tímidas violetas cor de Sexta-feira Santa, incertas na beleza, quase mortas, ainda assim, flores.
às vezes planto rosas, que em rubro esplendor explodem qual sóis fugazes para depois morrerem mais como pesares do que como alegrias desabrochadas em campos de esperança.
Trago comigo uma bússola que só eu conheço, e com ela persigo as veredas do destino. Mesmo assim sou traída pelos sentidos e afogo-me nas areias inclementes do deserto que só eu experimentei.
Prossigo de qualquer jeito. Nas trilhas das crenças indefinidas, tanto posso dar no mar quanto nas estrelas, mas não há faróis nem guias.
Peço, então, a não sei qual divindade benfazeja, mãos postas diante do fogo sagrado das paixões, que me faça chegar por fim a um porto mesmo que inseguro, onde eu possa crer ainda que sem certeza.
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