ESPELHO Margarida Reimão
Olhei para mim e vi que parecia você. No entanto, acreditei não ter mutações. Fui vacilante, mas deixei seus gestos Irem se incorporando a mim. Deixei que meus poros absorvessem seu cheiro E que meus nervos respondessem aos seus reflexos Fui distanciando-me do que era meu Para viver dentro de você Numa transgressão alienada e anárquica.
Com desespero calmo, separei-me do mundo E fui morar cada vez mais dentro de você Até que minha carne contraiu suas formas Meu suor passou a ser o seu suor O gosto de minha boca ficou igual ao da sua E, nessa loucura perseguinte Pisei na realidade com fantasia utópica.
Olhei em sua direção e enxerguei com seus olhos, Depois o cansaço veio e tomou conta de mim Nesse repetitivo jogo de imagens. E foi assim que atravessei minha lógica e me conheci, Descobrindo minha avenida larga E foi naquele momento que eu quebrei o espelho.
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