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A graça e a ilusão sbeblows_
Lábios que não beijei Agora lhes beijo, e agradeço a sobrevivência do sonho, a sobrevivência dos sons, dos ruídos. A hipótese de ser libidinoso e bom. Risos mordidos, escrachados... O escndalo na rua, na calçada, atrás do poste, do muro pichado nas bocas, com bocas coladas. Lábios que não beijei Agora lhes beijo, e agradeço o guia, mil vezes, refeito pelas mãos velozes. Dedos doidos, inquietos, exploradores; A permanente expedição pela carne. A idéia de ferro e fogo em nossos tecidos desalinhados. A linha rompida, rasgada... A invasão do privado. Os músculos impacientes, a eminente explosão dos botões e a incontinência dos zíperes, na busca do mais fundo... E vem à tona bocas de pernas para o ar em levitação. Lábios que não beijei Agora lhes beijo, e agradeço o aroma de maçã, cereja, outra fruta... Gosto de amor condensado, intenso. A cisma de apalpar uma escultura, bolinar... Sugar língua clandestina E, por fim, desvendar uma identidade pelo tato. Lábios que não beijei Agora lhes beijo, e agradeço a graça e a ilusão de bocas que se bifurcam como nos jardins de Alá, e do além. A falta da úmida saliva, bactérias, o atordoado gesto sumário, a extensão do que não houve... O estado grave, o coma e a cama que não chegamos. Lábios que não beijei Beijo-lhes agora, de joelhos, e agradeço a distncia sensata que nos manteve. O que fomos depois E nossos lábios desunidos jamais souberam O que somos, e a certeza de quilômetros rodados em outras bocas. O beijo partido... O que me coube nos lábios, a cama que poderia ter sido, poderia ter dado, poderia ser, mais não foi. E não houve... E nem foi ouvido...
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