Hora de trancar o armário...
fechar as gavetas e apreciar a vida pela janela...
sorrir pela banda que passa...
fazer careta como criança atrás da vidraça...
Se nada mais resta pra revirar,
eu só vou guardar novidades nas minhas
estantes e gavetas
elas podem ficar tracadinhas,
perfumadinhas aguardando...
Nos últimos anos amontoei um punhado de ilusões,
guardei muitas palavras emboloradas,
colecionei olhares pedintes,
abraços sem uso,
os beijos ficaram esquecidos...desbotando...
Em dias de inverno espremi os cantinhos
para caber um gostinho de saudades da infncia,
o sabor do doce da vovó...
Embrulhei em pequenos retalhos coloridos
algumas poucas lágrimas
para lembrar de que cor era o arco-íris...
Nos frasquinhos pequenos e dourados
fiz questão de colocar minhas maiores alegrias,
couberam muitos por-de-sol,
sereno de noites inteirinhas e mãos
cheinhas de chuvas...
Os potinhos brancos eu reservei para as
conversas com os amigos,
e os meus inúmeros pedidos de perdão...
É bem verdade que os meus livros amarelaram,
mas os meus heróis jamais envelheceram, estão lá
todos prontos pra pular pra fora quando
eu quiser conversar...
No meu armário de lembranças
a organização ficou imprescindível,
e como quem guarda com carinho tudo que tem,
tudo foi passado a limpo, cheirado e sentido.
A mulher que nasceu de mim
encheu malas e mais malas de desconfortos,
indecisões e sem medo
trancou e jogou fora as chaves dessas malas.
Agora que está tudo no seu devido lugar,
sobraram gavetas e espaços...
A vida me pede que a viva urgentemente...