Todas as vezes que mexe no cabelo, cruza as pernas e todas as suas micro-expressões enviam uma mensagem.
Raquel Laneri
06 de Julho de 2009Aprenda a controlar a forma como as pessoas a vêem.
Diz "se faz favor" e "obrigada". Não subas o tom de voz. Senta-te de
costas direitas com as pernas juntas e as mãos sobre as pernas. Não
chames as atenções. E nunca, mas mesmo nunca, fales de modo arrogante.
Estas são as lições que muitos pais ensinam às suas filhas. Apesar
destes atributos - boa educação, deferência e humildade - e o modo como
são projectados através dos nossos gestos, maneira de andar e
auto-apresentação possam seguramente ser úteis na sala de aula e em
alguns ambientes sociais, a verdade é que podem estar a impedir a
progressão de muitas de nós a nível profissional.
Jeannine Fallon, directora executiva de comunicação na Edmunds.com,
ficou a par deste tema num curso de formação intitulado "Mulheres Sem
Limites," no qual participou há 10 anos quando trabalhava na Volvo.
"Recordo-me perfeitamente de um ensimanento," diz acerca da sessão.
"Numa mesa de uma sala de reuniões, as mulheres têm tendência para
colocar todos os materiais num monte, bem arrumados, e esconder-se
atrás da mesa, enquanto que os homens tendem a escarrapachar-se,
afastar-se da mesa, cruzar as pernas e pôr as mãos atrás da cabeça.
Aquilo que nos impressionou foi que o conceito de ocupar espaço está
relacionado com o conceito de domínio." Qual foi o resultado? "Desde
então nunca mais me sentei e escondi atrás de uma mesa."
Uma imagem vale mil palavras. Na verdade, independentemente do quão
recheado for o nosso currículo, quão brilhantes forem as nossas ideias,
quão calvinista for a nossa ética profissional, nós somos julgadas pela
forma como nos apresentamos.
Os estudos revelam que são precisos quatro minutos para criar a
primeira impressão e, segundo um estudo amplamente citado do professor
Albert Mehrabian da UCLA, a linguagem corporal representa 55% dessa
impressão, o tom de voz 38% e os restantes 7% dizem respeito às
palavras em si.
Infelizmente, de acordo com Carey O'Donnell, presidente do Carey
O'Donnell Public Relations Group, com sede em West Palm Beach, Flórida,
"muitas de nós não fazem ideia que os nossos sinais não verbais são
relevantes. Existem milhares de micro-expressões, e as pessoas
lêem-nas, mesmo que só estejam a traduzir estes sinais
subconscientemente.
Eis alguns dos tiques visuais que são comuns nas mulheres:
- Inclinar a cabeça: um sinal de que está a escutar mas que
pode ser mal interpretado como querendo indicar submissão ou até mesmo
"flirting".
- Dobrar as suas mãos sobre as pernas: esconder as mãos debaixo
de uma mesa ou secretária, por exemplo, revela falta de confiança; um
sinal que remonta a tempos antigos, quando os homens exibiam as palmas
das mãos para mostrarem que estavam desarmados.
- Cruzar as pernas: um sinal de resistência.
- Sorrir excessivamente: uma indicação de falta de idoneidade e seriedade.
- Cruzar os braços à sua frente: traduz uma posição de insegurança ou defensiva.
- Brincar com o cabelo, jóias ou roupas: pode indicar angústia ou, uma vez mais, pode ser mal interpretado como "flirting".
Muitos destes hábitos estão bem enraizados e, mesmo quando pensamos
que já os eliminá-mos, tendem a surgir novamente em situações de stress
ou de nervos. "Por exemplo, quando numa reunião só estão homens e uma
mulher, a mulher tem tendência para ficar nervosa," afirma Carol Kinsey
Goman, consultora de executivas e autora do livro The Nonverbal
Advantage. "Por serem maiores e ocuparem mais espaço, os homens têm um
comportamento imponente, assertivo. Tal pode ser intimidativo."
"As mulheres são muito mais expressivas que os homens. Os homens
conseguem dissimular muito mais e isso põe-nos doidas porque não
conseguimos ler o que se está a passar - não sabemos em que ponto é que
estamos. … E quando continuamos a tentar explicar uma ideia e não
obtemos qualquer reacção, temos tendência para entrar em pnico e
exagerar para apresentar as nossas razões."
Ora, como atenuar estes tiques se nem sequer sabemos que os estamos
a fazer?
"Um espelho pode ser muito útil," refere Kinsey Goman. "Pratique o seu
discurso de variadíssimas formas - com a cabeça inclinada, com a cabeça
direita - e repare nas diferenças. Pratique os gestos. Os gestos são
óptimo, mas não os faça acima dos ombros - dá-lhe um ar demasiado
errático."
O'Donnell também sugere que grave as suas apresentações e depois que
as visualize sem som. "Quando nos vimos em fotografias, ou
especialmente na televisão, costumamos dizer "Por amor de Deus, quem é
aquela pessoa?", ri-se. "Quando se visualiza sem som, preste atenção
aos sinais visuais, tais como, está a abanar as mãos freneticamente, a
rir inadequadamente quando ninguém se está a rir, parece que está
nervosa a olhar para um lado e para o outro? Depois veja a gravação
mais uma vez e preste atenção ao seu tom de voz e às muletas que
utiliza no discurso, tais como, portanto e é assim."
No que respeita a como lidar com os nervos antecipadamente, Theresa
Zagnoli, fundadora e CEO da Zagnoli McEvoy Foley, uma empresa de
consultoria de comunicação e litigação, recomenda que feche a porta do
seu gabinete ou se refugie numa sala de estar e inspire profundamente
10 a 20 vezes. Uma outra dica: liberte os nervos estalando os dedos do
pé algo que, ao contrário do brincar com o cabelo ou o afastar-se na
sua cadeira, passará despercebido.
Zagnoli também advoga uma táctica intitulada "espelhamento".
"A ideia é quanto mais parecida ficar com a pessoa que está a lidar,
mais facilmente irá criar uma relação com a mesma," refere. "A pessoa
que está sentada à sua frente fala com uma voz suave? Essa pessoa fala
lentamente, sorri e ri-se muito? O seu bloco de apontamentos está na
secretária ou em cima das pernas? Toma muitas notas? Tem as pernas
cruzadas? Está inclinada para a frente ou para trás? Eu tomo nota de
todas estas coisas e depois como que me transformo para tornar-me mais
como essa pessoa."
Alguns homens e mulheres de negócios recusam esta ideia ou a ideia
de que temos de nos transformar para levarmos a nossa avante. Porém,
Zagnoli garante que não se está a comprometer nada. O "espelhamento", a
mímica e a supressão de maus hábitos ou impulsos "não alteram quem você
é," afirma. "Não alteram o seu coração, o seu cérebro, as suas ideias.
Na verdade, ao alterar a forma como se comporta, pode comunicar melhor
esses pensamentos e sentimentos."