Podemos apontar como principais condições históricas do surgimento da filosofia na Grécia:
• As viagens marítimas – que permitiram aos gregos descobrir que os
locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram,
na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos
mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não
possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o
desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a
exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não
podia oferecer;
• A invenção do calendário – que é uma forma de calcular o tempo
segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que
se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou
uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino
incompreensível;
• A invenção da moeda – que permitiu uma forma de troca que não se
realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados
por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do
valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova
capacidade de abstração e de generalização;
• O surgimento da vida urbana – com predomínio do comércio e do
artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca,
e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietárias de
terras, por quem e para quem os mitos foram criados;
• A invenção da escrita alfabética – que, como a do calendário e a da
moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de
generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética,
diferentemente de outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos
dos egípcios ou os ideogramas dos chineses –, supõe que não se
represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o
que dela se pensa e se transcreve;
• A invenção da política – que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia:
1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana
que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas
relações internas.
2. O surgimento de um espaço público que faz aparecer um novo tipo de
palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito.
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser
formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas
que procuram, ao contrário, serem públicos, ensinados, transmitidos,
comunicados e discutidos.
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