Houve, no actual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista,
dois Condados Portucalenses ou Condados de Portucale distintos: um primeiro,
fundado por Vímara Peres após a presúria de Portucale (Porto) em 868 e
incorporado no reino da Galiza em 1071, após a morte do conde Nuno Mendes (e que
embora gozando de certa autonomia, constituiu sempre uma dependência do reino
das Astúrias/Leão/Galiza), sendo sensivelmente equivalente ao actual
Entre-Douro-e-Minho). Um segundo, constituído c. 1095 em feudo do rei Afonso VI
de Leão e Castela e oferecido a Henrique de Borgonha, um burguinhão que veio
auxiliá-lo na Reconquista de terras aos Mouros, tendo também recebido a mão de
sua filha Teresa de Leão. Este último condado era muito maior em extensão, já
que abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra, suprimido em
1091, partes de Trás-os-Montes e ainda do Sul da Galiza (mormente da diocese de
Tui). De notar que Condado é um termo genérico para designar o Território
Portucalense, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados Comite
(conde), Dux (duque) ou Princeps (Príncipe).
Por uma questão de comodidade, aludir-se-á ao longo deste artigo ao primeiro
condado portucalense como Condado de Portucale, e ao segundo como Condado
Portucalense, dado serem essas as expressões mais consagradas.
Índice [esconder]
1 História
1.1 Portucale
2 Condado de Portucale
2.1 Condes de Portucale: a casa de Vímara Peres
3 Condado Portucalense
3.1 Condes Portucalenses: Casa da Borgonha
4 Referências
[editar] História
O nome do condado vem do topónimo Portucale, com o qual desde o século IX se
designava uma cidade situada perto da foz do Douro, designada de Portus Cale,
"Porto de Cale", que se julga ser um nome híbrido formado por um termo latino
(Portus, "porto") e outro grego (?????, transl. kalós, "belo"), donde qualquer
coisa como "Porto Belo"; Outra explicação é de que o nome deriva dos povos de
cultura castreja que habitariam a área de Cale nos tempos pré-romanos - os
Callaeci. Uma explicação alternativa é a de que o nome deriva da deusa venerada
pela tribo e que poderia históricamente relacionar-se com a palavra Cailleach
(definida como "deusa ancestral"), na Irlanda, numa invasão celta proveniente da
Galécia e que teria nesses primórdios invadido a actual Irlanda. Uma outra
teoria afirma que a palavra cale ou cala, seria celta e significava "porto", uma
"enseada" ou "abrigo", e implicava a existência de um porto celta mais antigo.
[1]Ainda outra teoria propõe que Cale deriva de Caladunum. [2]
Data assim desse período a expressão terra portucalense ou província
portucalense para designar um território distinto que era limitado ao norte pela
terra bracarense, e ao sul pelo rio Vouga, e tinha por centro e cabeça a
povoação de Portucale.
No século I a.c. as “Histórias de Salustio” referem uma “Cales civitas”
localizada na Gallaecia; Cale teria também sido conquistada por Perpena; no
século IV, no “Itinerário de Antonino” , fala-se de uma povoação chamada de Cale
ou Calem ; no século V, Idácio de Chaves escreve sobre um “Portucale castrum”
[3].
[editar] Portucale
Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano se
encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização exacta; o
Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo cônego Pierre David
após a sua identificação pelo também cônego Avelino de Jesus da Costa, um dos
nomes mais importantes da diplomática portuguesa[4], refere-se, séculos depois,
a um povoado que designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda,
e outro, o Portucale Castrum Novum, na direita.
Quando do domínio dos Suevos, Portucale foi palco de vários acontecimentos,
contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário durante a invasão de
Teodorico (457), a revolta do seu governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado
rei e foi executado, e a última batalha (585) de Andeca, último rei suevo,
vencido por Leovigildo.
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a
segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense, situada na
província da Galécia, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a invasão,
a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a reconquista do
Porto, em 868.
[editar] Condado de Portucale
A reocupação e possível reconstrução ou fortificação de Portucale verificou-se
após a presúria de Vímara Peres, em 868, vivendo, a partir de então, um próspero
período da sua história: daí partiu toda a acção de reorganização, bem sucedida,
e nalguns casos de repovoamento, para além dos limites da antiga diocese nela
sediada, quer ao norte do rio Ave, quer ao sul do rio Douro. Por esta altura, o
território designava-se já de Terra Portugalense. Pouco a pouco são alargadas as
fronteiras do território que, neste sentido, confinava com outros territórios
(Braga, Lamego, Viseu, Terras da Feira e Coimbra).
A reconquista permitiu também a restauração diocesana, tendo os bispos de
Portucale sido instalados numa pequena povoação chamada Magneto (a qual os
especialistas fazem corresponder com a actual Meinedo, no concelho de Lousada).
Apenas dez anos decorridos sobre a reconquista definitiva de Portucale tivesse
sido tomada a cidade de Coimbra e erigida em condado independente às mãos de
Hermenegildo Guterres; a sua posição de charneira entre os mundos cristão e
muçulmano permitiu uma vivência de maior paz no Entre-Douro-e-Minho. As
campanhas do Almançor, em finais do século X, porém, fizeram recuar a linha de
fronteira de novo até ao Douro.
Na segunda metade do século XI, reconstituiu-se ao sul o condado de Coimbra (que
incluía não só a cidade do Mondego, como ainda as terras de Lamego, Viseu e
Feira), sendo entregue ao conde (ou alvazil, segundo outros documentos coevos)
Sesnando Davides, um moçárabe valido do rei Fernando I de Leão e Castela, que
conquistara definitivamente a cidade em 1064 (este condado viria mais tarde a
ser incorporado no Portucalense).
Paulo Merêa refere a existência de documentos comprovadamente encontrados na
província de Ourense, na Galiza, nos quais surge a referência expressa a terras
situadas em Portugal, ou seja, ao sul do rio Lima, e que então pertenciam, e
vieram ainda a pertencer durante algum tempo, no âmbito da organização
eclesiástica de Tui, repovoada durante o reinado de Ordonho I.
O repovoamento da Terra Portugalense ocorreria no tempo de Afonso Magno, sob o
governo de Vímara Peres e seus descendentes.
[editar] Condes de Portucale: a casa de Vímara Peres
Foram condes da casa de Vímara Peres (nem sempre em linha recta, mas recorrendo
às vezes à sucessão congnática):
Vímara Peres (c. 868-873)
Lucídio Vimaranes (filho do precedente - 873-?)
Onega Lucides (filha do precedente) ? Diogo Fernandes (?-antes de 924)
Mumadona Dias (filha dos precedentes) ? (926) Hermenegildo Gonçalves (também
chamado Mendo I Gonçalves, filho do conde Gonçalo Afonso Betote)
Gonçalo I Mendes (filho dos precedentes) (c. 950-999; em 997 intitula-se
magnus dux portucalensium)
Mendo II Gonçalves (filho [ou neto?] do precedente) (999-1008) ? Tutadona
Moniz
Alvito Nunes (descendente de Vímara Peres, casado com a condesa Tutadona
Moniz) (1008-1015)
Ilduara Mendes (filha de Mendo Gonçalves) ? Nuno I Alvites (filho do
precedente) (1017-1028)
Mendo III Nunes (1028-1050)
Nuno II Mendes (1050-1071) - último conde da família de Vímara Peres;
derrotado pelo rei Garcia da Galiza na batalha de Pedroso.
(As datas entre parêntesis indicam o período durante o qual existem documentos
assinados pelo conde em causa, e que permitem assim determinar o seu tempo de
governo).
[editar] Condado Portucalense
Evolução das fronteiras dos territórios na Peninsula Ibérica ao longo da
reconquista, 790-1300.Não se deve confundir o Condado Portucalense — concessão
dos dois territórios de Coimbra e de Portucale ao conde D. Henrique — com o
condado de Portucale, que começou a existir desde a presúria de Vímara Peres,
prolongada pelos seus descendentes — embora nem sempre segundo uma linhagem
perfeita — até à morte do último conde, na batalha de Pedroso, em 1071, que
tentava conseguir maior autonomia face a Garcia II da Galiza, que governava o
Reino da Galiza e Portugal de seu pai, Fernando Magno.
Porém, o atrofiamento do condado de Coimbra, criado em 878, mas suprimido com a
conquista da cidade por Almançor no final do século X, permitiu a supremacia
nortenha, que nem mesmo a reconstituição de uma autoridade equivalente à do
conde — em benefício de Sesnando Davides, em 1064, e prolongada até à sua morte,
em 1092 — pôde impedir.
Entretanto, a ambição de Afonso VI de Leão e Castela reconstituiu novamente a
unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por morrer, depois de
preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para as mãos de Raimundo de
Borgonha, casado com D. Urraca. A esta altura, o vigor das investidas
Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor
reforçar o território: um comando na zona central, entregue ao próprio rei
Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a
ocidente, entregue a Raimundo; este último não conseguiu defender eficazmente a
linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo rei
taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas
mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns
historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI[5] de reforçar ainda mais
a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a
Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de Borgonha.
O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se
ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes.
Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham
amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento
orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando,
no caso português, as condições lhe eram propícias.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu
foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas
Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias,
muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do
castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique
(1112), passa a viúva deste D. Teresa, a governar o condado durante a menoridade
do seu filho Afonso Henriques.
D. Teresa começa (1121) a intitular-se «Rainha», mas os conflitos com o alto
clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara
o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos
Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da
gerência dos negócios públicos.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si próprio
cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim guerreiro
independente.
Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do
infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida, D. Afonso Henriques toma conta
do condado e dele vai fazer o reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques
conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de Ourique, em
1139, e declarou a independência. Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e
sua primeira dinastia, com o rei Afonso I de Borgonha (Afonso Henriques).
[editar] Condes Portucalenses: Casa da Borgonha
Henrique da Borgonha (1095 - 1112)
Teresa de Leão (1112 - 1128)
Afonso Henriques (1128 - 1139, com o título de dux)
(segue-se a independência de Portugal).
Referências
? Celtic Linguistics
? Dictionary of Greek and Roman Geography
? Leite de Vasconcelos, José.Cale e Portucale. Opúsculos Vol. V – Etnologia
(Parte I) Lisboa, Imprensa Nacional, 1938
? "FLUC homenageia Avelino de Jesus da Costa", ACABRA.NET - Jornal
Universitário de Coimbra (visitado em 28-7-2008)
? Muito se especula acerca das razões que levaram Afonso VI de Leão a incluir
Henrique de Borgonha nos seus planos: quiçá por ser sobrinho da falecida
rainha D. Constança (mais poderoso, portanto, que Raimundo por pertencer à
linhagem dos duques e não dos condes de Borgonha); por seu intermédio, era
também sobrinho-neto de São Hugo de Cluny, o que introduz a hipótese de
Henrique se tornar um caudilho militar para os interesses da Ordem de Cluny no
território.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Condado_Portucalense"
"A sabedoria tem dúvidas
a ignorância tem certezas absolutas"