Duas linhas paralelas muito paralelamente iam passando entre estrelas fazendo o que estava escrito: caminhando eternamente de infinito a infinito.
Seguiam-se passo a passo exactas e sempre a par pois só num ponto do espaço que ninguém sabe onde é se podiam encontrar falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha uma delas certo dia voltou-se para a outra linha sorriu-lhe e disse-lhe assim: «Deixa lá a geometria e anda aqui para o pé de mim...»
Diz a outra: « Nem pensar! Mas que falta de respeito! se quisermos lá chegar temos de ir devagarinho andando sempre a direito cada qual no seu caminho!»
Não se dando por achada fica na sua a primeira e sorrindo amalandrada pela calada, em um grito deita a mãozinha matreira puxa para si o infinito.
E com ele ali à frente as duas a murmurar olharam-se docemente e sem fazerem perguntas puseram-se a namorar seguiram as duas juntas.
Assim nestas poucas linhas fica uma estória banal com linhas e entrelinhas, e uma moral convergente: o infinito afinal fica aqui ao pé da gente.