... não anda para trás .
Um estudo publicado amanhã na Nature sugere uma resposta a uma das grandes dúvidas da biologia: a evolução não pode ser revertida, não há botão para rebobinar o longo e lento trabalho que transformou por exemplo o australopitecos no Homem.
Uma equipa de investigação da Universidade de Oregon chegou a esta conclusão ao seguir a História de uma proteína humana. Perceberam que mesmo que se revertesse as mutações que foram alterando as funções da molécula para o trabalho que ela realiza, ela não readquiria a sua conformação original e seria inútil.
“Os biólogos evolucionistas sempre estiveram fascinados em saber se a evolução pode ou não andar para trás”, disse em comunicado Joseph Thornton, último autor do artigo. A questão, segundo o investigador, manteve-se cinzenta porque, por um lado, é difícil saber quais as nossas características ancestrais, por outro lado conhecem -se mal os mecanismos que levaram às mutações.
A equipa de Thornton deu a volta à questão, e utilizou como objecto o receptor de glucocorticóides (RG). Uma proteína que está na membrana de certas células, pronta para se ligar ao cortisol, uma hormona que circula pelo sangue e que regula a resposta ao stress, entre outros fenómenos.
O antepassado desta proteína, com 400 milhões de anos, sofreu no passado sete mutações consecutivas para passar a cumprir as novas funções. Através da informática, engenharia proteica e cristalografia por raio-X a equipa conseguiu não só determinar exactamente as mutações que ocorreram como rebobinou os acontecimentos. Primeiro reconstruíram a proteína no exacto momento em que ela ganhou a capacidade para se ligar ao cortisol, depois, passo a passo, reverteram as sete mutações.
“Nós esperávamos obter um receptor promíscuo [capaz de se ligar a várias moléculas] exactamente igual ao antepassado do RG, mas em vez disso obtemos uma proteína completamente morta e não funcional”, explicou o investigador. Aparentemente, logo a seguir às mutações que deram novas funções à proteína aconteceram uma série de alterações no gene, que apesar de não terem relevncia para a sua função impossibilitam o estado ancestral da proteína. Os investigadores foram à procura destas alterações e encontraram cinco mutações que são incompatíveis com antiga arquitectura da proteína antiga, mas que não tiveram efeito nenhum no funcionamento dela quando apareceram.
“As mutações restritivas da RG previnem o reverter da evolução”, adiantou o cientista. “Isto significa que mesmo que a função antiga [da proteína] volte de repente a ser óptima [mais adaptada], não existe forma da selecção natural levar a proteína directamente para o estado antigo.”
Ou seja, é impossível voltar ao passado e quando se dá um passo evolutivo os outros caminhos fecham-se.