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General: PASSAM-SE HOJE 10 ANOS SOBRE A MORTE DE AMALIA RODRIGUES
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De: ZÉMANEL (Mensaje original) |
Enviado: 05/10/2009 14:40 |
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De: ZÉMANEL |
Enviado: 05/10/2009 14:49 |
Amália Rodrigues
Amália da Piedade Rebordão Rodrigues nasceu em 1920, em Lisboa, no seio de uma família pobre originária da Beira Baixa. A data certa do nascimento é desconhecida: em documentos oficiais nasceu a 23 de Julho, mas Amália sempre considerou que nasceu no dia 1 de Julho. Educada pela avó, cantou pela primeira vez em público em 1929 numa festa da Escola Primária da Tapada da Ajuda, que frequentava. Mais tarde trabalhou como bordadeira. Em 1933, empregou-se numa fábrica de bolos e rebuçados em Lisboa e dois anos mais tarde, com a irmã Celeste, trabalhou numa loja de souvenirs no Cais da Rocha, acompanhada pela mãe, vendedora de fruta. Em 1935, desfilou na Marcha de Alcntara e cantou pela primeira vez acompanhada à guitarra numa festa de beneficência. Estreou-se em 1939 no Retiro da Severa, a casa de fados mais importante da altura, acompanhada por Armandinho, Jaime Santos, José Marques, Santos Moreira, Abel Negrão e Alberto Correia, interpretando três fados. Em 1940 casa com o guitarrista amador Francisco da Cruz. No dia 25 de Junho de 1940 é a atracção convidada da revista do Teatro Maria Vitória, Ora Vai Tu! A primeira de muitas revistas em que participou. A sua estreia no estrangeiro, a 7 de Fevereiro de 1943, ocorreu em Madrid, a convite do embaixador Pedro Teotónio Pereira. Amália separa-se do primeiro marido. Em 1944 viajou pela primeira vez para o Brasil, onde actuou no Casino de Copacabana. O sucesso levou a prolongar a estada de seis semanas para três meses, tendo regressado no ano seguinte ao País. Amália Rodrigues gravou os primeiros discos de 78 rotações, a 17 de Outubro de 1945, no Brasil para a etiqueta Continental. A estreia no cinema ocorreu a 16 de Maio de 1947 com o filme Capas Negras, de Armando Miranda, que bate todos os recordes de exibição, com 22 semanas consecutivas em cartaz no cinema Condes, em Lisboa. Em Fevereiro de 1948 recebeu o Prémio SNI para a melhor actriz de cinema pela sua interpretação de Fado, de Perdigão Queiroga, estreia no Porto e é anunciado como sendo inspirado na vida de Amália, o que a fadista sempre negou. Em Abril de 1949 cantou pela primeira vez em Paris e em Londres, em festas do Departamento de Turismo organizadas por António Ferro. Em 1950 continua a sua tournée pela Europa, actuando em Berlim, Dublin e Berna. Começa a cantar poemas de Pedro Homem de Mello e David Mourão-Ferreira. Em Dublin, canta Coimbra, que fica no ouvido da cantora francesa Yvette Giraud, que a populariza em França como Avril Au Portugal. Em 1951, Estreia de Vendaval Maravilhoso, de Leitão de Barros, um dos filmes preferidos de Amália entre aqueles em que participou. Gravou pela primeira vez em Portugal, para a editora Melodia (Rádio Triunfo) a. Numa digressão por África canta em Moçambique, Angola e Congo Belga. Em 1952 cantou em Nova Iorque, onde ficou 14 semanas em cartaz, e assinou contrato discográfico com a casa Valentim de Carvalho, fazendo as primeiras gravações nos estúdios da EMI, em Londres. Em 1953 Amália torna-se na primeira artista portuguesa a actuar na televisão americana no famoso programa Coke Time with Eddie Fisher, onde interpreta Coimbra. É de 1954 também o seu primeiro álbum, Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal And Flamenco From Spain, publicado nos EUA pela Angel Records. Este álbum nunca foi publicado em Portugal com o mesmo alinhamento. No ano 1955 participou no filme Os Amantes do Tejo, de Henri Verneuil, onde interpreta a Canção do Mar e o Barco Negro. Filma no México Musica de Siempre com Edith Piaf. No dia 10 de Abril de 1956 estreou-se no famoso Olympia, de Paris, numa das festas de despedida de Josephine Baker, e em Julho de 1958 foi condecorada por Marcelo Caetano na Exposição Mundial de Bruxelas. No dia 4 de Novembro de 1958 estreou-se na televisão portuguesa no papel principal da peça O Céu da Minha Rua, adaptada de uma peça de Romeu Correia. Em 1961, confirmam-se os boatos que desde há muito andam no ar. Amália casa-se no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra, e anuncia que vai abandonar a carreira artística passando a viver no Brasil. Um ano depois Amália regressa a Lisboa. Em 1962 foi editado o álbum Amália Rodrigues, mais conhecido como Busto ou Asas Fechadas, grande viragem na sua vida artística, onde canta Estranha Forma de Vida, Povo Que Lavas No Rio, de Pedro Homem de Mello, e, pela primeira vez, músicas de Alain Oulman. Em 1963, em Beirute, é tal o seu prestígio, que a convidam a acompanhar com os seus fados uma Missa de Acção de Graças pela independência do Líbano. Continua sempre a voltar aos países que não se cansam de a reclamar. Em Paris, o acolhimento do público é sempre delirante, não só no Olympia, como participando nos mais sensacionais acontecimentos artísticos. Em 1964 Amália regressa ao Cinema com Fado Corrido, um Filme de Brum do Canto baseado num conto de David Mourão Ferreira, onde mais uma vez lhe dão um papel de fadista. Na estreia do filme em Lisboa confirmou-se mais uma vez que Amália continuava a ser a artista preferida do público português. Onde quer que aparecesse era sempre uma sensação. Em 1965, Amália atinge a sua melhor interpretação no cinema em As Ilhas Encantadas do estreante Carlos Vilardebó, baseado numa novela de Herman Melville. Neste filme, diferente de todos os outros da sua carreira, Amália pela primeira vez não canta. Amália volta a receber o prémio de melhor actriz com As Ilhas Encantadas e no ano seguinte aparece no filme francês Via Macau. Em 1966, é editado o primeiro disco em que recria o folclore, a que mais dois se seguirão. Com uma grande orquestra sinfónica, dirigida por André Kostelanetz, actua no Lincoln Center, em Nova Iorque, e no Hollywood Bowl, em Los Angeles. Canta em França, Israel, Brasil, África do Sul, Angola e Moçambique. Amália cantou na inauguração da Ponte sobre o Tejo, gravou Concerto de Aranjuez, com uma letra em francês, e Vou Dar De Beber à Dor, de um compositor até então desconhecido, Alberto Janes, que se tornará num dos maiores êxitos de Amália, com mais de 100 mil cópias vendidas. Em 1967 em Cannes, Anthony Quinn, com enorme entusiasmo, anuncia oficialmente que prepara dois filmes para Amália, sendo o primeiro Bodas de Sangue de García Lorca. Mas Amália prefere exprimir-se no canto. Em 1969 cantou na União Soviética, correndo o mundo que unanimemente lhe reconheceu o talento. Em Janeiro de 1970, Amália parte para Roma para actuar no Teatro Sistina em Roma. O sucesso foi tal que o fenómeno “Amália” se espalha por Itália. Começava então “La Folia per La Rodrigues”. Amália canta pela primeira vez em Tóquio, e também o Japão, apesar de tão longínquo e com uma cultura tão diferente, se rende ao fascínio de Amália. Desde então sucedem-se as tournées pelo Japão abrangendo várias cidades. Todos os seus discos são editados nesse país, que com ela tanto se identifica. É frequente, quando Amália parte para o Japão todos os seus espectáculos estarem já esgotados, lançando assim Amália, uma verdadeira ponte cultural entre Portugal e o Japão. Este disco conquista para Amália os mais importantes prémios da indústria discográfica: IX Prémio da Critica Discográfica Italiana (1971), o Grande Prémio da Cidade de Paris e o Grande Prémio do Disco de Paris (1975). Em 1972 no Brasil, estreia-se no Canecão do Rio de Janeiro Um Amor de Amália, onde pela primeira vez, num espectáculo organizado, Amália canta e conta histórias da sua vida. Tanto é o sucesso que, o show é repetido no ano seguinte. Esse espectáculo, onde Amália é acompanhada para além da guitarra e da viola, por uma orquestra e um coro, foi gravado em disco. No dia 25 de Abril de 1974 dá-se a revolução que derrubou o regime fascista que há 48 anos governava Portugal. Amália, devido a um contrato que tinha para actuar na televisão espanhola, partiu para Madrid no dia seguinte. Em Lisboa, a grande popularidade internacional de Amália fez que de imediato circulassem boatos que a ligavam ao regime deposto. Embora só ligeiramente prejudicando a sua carreira, estes boatos afectaram gravemente a sensibilidade de Amália. Apesar destes boatos, Amália aparece logo no Coliseu onde 5 mil pessoas aplaudem de pé, provando que o seu público nunca a abandonou. A partir dessa altura, faz as mais longas tournées por Portugal, e o seu sucesso internacional continuou a aumentar fazendo tournées por todo mundo. Em 1976 são editados Amália no Canecão, álbum ao vivo que regista parte do show de Amália naquele palco brasileiro em 1973, e Cantigas da Boa Gente compilação de material lançado anteriormente em singles e Eps. Também neste ano canta no Thétre de Champs Elysées, em Paris. É publicado pela UNESCO o disco Le cadeau de la vie, onde figura ao lado de Maria Callas, John Lennon, Yehudin Menuhim, Aldo Ciccolini, Gyorgy Cziffra e Daniel Barenboim. No ano de 1977 são editadas mais duas compilações – Fandangueiro e Anda o Sol na Minha Rua – de um novo single de Alberto Janes, Caldeirada, e de Cantigas numa língua antiga, primeiro álbum de material original de Amália em três anos, embora dele façam parte alguns temas já anteriormente registados pela fadista, aqui gravados em novas versões. Neste ano volta ao Carnegie Hall de Nova York. Em 1980, Amália edita Gostava de ser quem era, o seu primeiro álbum de material inédito em três anos, composto por dez fados originais com letras da própria Amália, escritas em sua casa durante a convalescença de uma doença. Também em 1980 recebeu do Presidente da Republica a condecoração de grande oficial da ordem do infante D. Henrique. Logo em seguida é homenageada pela Cmara de Lisboa. Amália edita, em 1982, com poucos meses de intervalo, O senhor extra-terrestre, um maxi-single com duas canções de Carlos Paião, e “Fado”, um novo álbum de estúdio composto exclusivamente por novas gravações de composições de Frederico Valério, muitas delas criadas por Amália. O álbum atinge o 5º lugar do top de vendas de álbuns compilado pela revista Música & Som. Em 1983, é editado o álbum Lágrima, composto por 12 originais gravados durante 1982 e 1983, de novo com letras suas. Será o seu último disco de material inédito até à edição de Obsessão, em 1990. É editado, em 1984, Amália na Broadway, que reúne oito standards de musicais americanos gravados por Amália em 1965 nos estúdios de Paço de Arcos com o maestro inglês Norrie Paramor, mas nunca antes editados em disco. As gravações haviam sido pensadas para um álbum de standards americanos que nunca veria a luz do dia. O álbum atinge o 17º lugar do top oficial de vendas de álbuns. A 19 de Abril de 1985, Amália dá o seu primeiro grande concerto a solo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O sucesso do Coliseu repete-se em Paris onde Amália é condecorada pelo Ministro da Cultura Jack Lang, com o mais alto grau da Ordem das Artes e das Letras. E de Paris de novo parte para o mundo. Em Julho é editado o duplo álbum O melhor de Amália – Estranha forma de vida, que reúne 24 dos mais populares e aclamados fados de Amália e atinge o 1º lugar do top de vendas, mantendo-se oito meses no top e vendendo para cima de 100 mil exemplares. Na sequência do êxito, é editado um segundo álbum compilação, O melhor de Amália volume II – Tudo isto é Fado, que ultrapassa as 50 mil cópias vendidas e atinge o 2º lugar do top. Em 1987, é editada a biografia oficial de Amália, Amália – Uma biografia, por Vítor Pavão dos Santos, director do Museu Nacional do Teatro, jornalista e talvez o maior admirador de Amália em território português. O primeiro CD de Amália é editado em Portugal: Sucessos, uma compilação concebida originalmente para o mercado internacional, e que apenas ficará em catálogo até se iniciar a transferência para CD dos vários álbuns de Amália. É também lançado neste ano, o triplo - álbum de luxo Coliseu 3 de Abril de 1987, que regista na íntegra o concerto de Amália no Coliseu de Lisboa naquela data. Obtém o Disco de Ouro e atinge o 13º lugar dos tops. Em 1989, comemorando os 50 anos de carreira de Amália, a EMI-Valentim de Carvalho edita Amália 50 anos, uma colecção de oito duplos-álbuns ou CD´s temáticos agrupando muitas das gravações de Amália para a companhia, entre os quais várias raridades e gravações inéditas. Em Portugal sobre o patrocínio do Presidente da Republica Mário Soares, de quem recebe a Ordem Militar de Santiago de Espada, as comemorações são um verdadeiro acontecimento a nível nacional. Festas, condecorações, exposições, tudo para Amália não é demais. Estas festividades, prolongam-se numa grande tournée Mundial. -Lisboa, Madrid, Paris, Roma, Tel Aviv, Macau, Tóquio, Rio de Janeiro, Nova York. Também nesse ano é recebida pelo Papa, no Vaticano, em audiência privada. 1990 Vê ser editado Obsessão, o primeiro álbum de material original e inédito de Amália em sete anos, composto por temas gravados durante o interregno. É editada, em 1991, a cassete de vídeo Amália live in New York City registo do concerto no Town Hall de Novembro de 1990. Recebe do presidente francês, Georges Miterrand, a Legião de Honra. Em 1992 é editado o CD Abbey Road 1952, que reúne a totalidade das primeiras gravações realizadas por Amália para a Valentim de Carvalho nos estúdios de Abbey Road em Londres. Em 1995, é editada pela primeira vez em CD a compilação Estranha forma de Vida – O melhor de Amália, e a RTP transmite, ao longo de uma semana, a série documental Amália – uma estranha forma de vida, cinco episódios de uma hora dirigidos por Bruno de Almeida incluindo muitas imagens de arquivo provenientes dos cinco cantos do mundo e nunca antes exibidas em Portugal. Neste ano é ainda editado Pela primeira vez – Rio de Janeiro, CD que reúne as 16 gravações que Amália realizou no Rio de Janeiro em 1945 para a editora Continental. É a primeira edição oficial em CD destas gravações, há muitos anos indisponíveis em Portugal, restauradas digitalmente em Londres, nos estúdios de Abbey Road. Em 1997 é editado o seu último álbum com gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975, O Segredo. Também em 1997 o falecimento do marido de Amália, César Seabra, após 36 anos de casamento. Amália publica um livro de poemas “Versos” na editora Cotovia. Nova homenagem nacional na Feira Mundial de Lisboa Expo98.Amália Rodrigues, foi encontrada sem vida no dia 6 de Outubro de 1999. A morte da Amália Rodrigues aconteceu quando faltavam dois dias para o fim da campanha eleitoral das legislativas de Outubro de 1999. No dia da morte da fadista o Primeiro – ministro António Guterres anunciou três dias de luto nacional e o Presidente da República, Jorge Sampaio, depois de consultados os partidos com assento parlamentar, confirmou um funeral com honras de Estado. O funeral realizou-se no dia 8 de Outubro, sendo Amália Rodrigues sepultada no cemitério nos Prazeres. No dia 8 de Julho de 2001, os restos mortais de Amália Rodrigues foram transladados do Cemitério dos Prazeres para a galeria do Panteão Nacional. Amália Rodrigues é a única mulher, cujo os restos mortais, se encontram no Panteão Nacional. |
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De: ZÉMANEL |
Enviado: 05/10/2009 14:53 |
Amália e a sua obra voltam a ser celebradas. Um pouco por todo o País, mas sobretudo em Lisboa, a agenda das próximas semanas destaca o ícone do fado, e não só. "Amália, Coração Independente" ocupa o Centro Cultural de Belém e o Museu da Electricidade a partir de terça-feira. A entrada é livre para todos os que queiram ver ou rever trajes, fotografias ou instalações. E, já agora, reouvir um repertório vasto e valioso. E se Amália cantava, a música per se não poderia faltar. O grande fenómeno de vendas do ano, o colectivo Hoje, leva o disco Amália Hoje aos coliseus. São três noites em Lisboa - a primeira é já amanhã - uma no Porto e outra em Vila do Conde. Há também um concerto de homenagem, no Teatro São Luiz, protagonizado pela irmã Celeste Rodrigues, Joana Amendoeira e João Ferreira Rosa. Fora dos palcos, o antigo editor da EMI, David Ferreira, organizou a antologia "Coração Independente". O plano de edições fica completo com a colecção "Amália Nossa", organizada por Rui Vieira Nery. Na televisão, os dez anos sobre a morte de Amália Rodrigues são recordados pela RTP1 com a transmissão de uma minissérie de dois episódios com 90 minutos cada, baseada no filme com o mesmo nome. Sandra Barata Belo volta a vestir a pele da fadista. Por outro lado, o Museu do Fado propõe um ciclo de conferências sobre o tema "Memórias de Amália na Televisão", de terça-feira a sábado. Precisamente na terça arrancam as emissões da Rádio Amália, na frequência 92.0 FM. A estação pertence a Luís Montez, responsável pela empresa de espectáculos Música no Coação, e que detém também as rádios Capital, Nova Era, Festival, Radar, Oxigénio e Marginal.
A exposição
"Amália, Coração Independente" é um excerto de um dos fados mais emblemáticos de sempre, Estranha Forma de Vida, e é também o título da exposição que vai estar patente no Museu Berardo e no Museu da Electricidade, da próxima terça-feira até ao dia 31 de Janeiro. A entrada é livre. O objectivo de "Amália, Coração Independente" é repensar a artista através de documentos, filmes, vestidos e jóias, entre outros objectos e suportes. O traje, desenhado e coordenado por Amália, o guarda-roupa, as jóias e as revistas que fazem parte do acervo da Fundação Amália em Lisboa são elementos visuais numa retrospectiva na qual a fotografia e o cinema também têm o seu lugar. Uma outra abordagem temática da exposição assenta na recriação de traços da personalidade da diva por artistas como Joana Vasconcelos e Leonel Moura.
A música
22 semanas depois de se ter estreado na tabela nacional de vendas de discos, Amália Hoje por lá se mantém, em terceiro lugar. Mais de 40 mil álbuns vendidos significam que estamos na presença do grande fenómeno do ano. A estreia em palco aconteceu no Verão, mas os concertos da semana que se avizinha são certamente os mais emblemáticos. Amanhã, terça e quarta-feira, o colectivo Hoje vai estar no Coliseu dos Recreios. Seguem-se duas actuações, uma no Coliseu do Porto e outra em Vila do Conde. Já sexta e sábado, o Teatro São Luiz propõe uma homenagem protagonizada por Celeste Rodrigues, Joana Amendoeira e João Ferreira Rosa. E na sexta-feira Alexandra recorda a fadista no Parque Mayer. Os discos também não podiam faltar. Coração Independente é uma nova antologia organizada por David Ferreira, que chega às lojas na terça-feira. Amália Nossa é o nome da colecção dirigida por Rui Vieira Nery.
A televisão
Primeiro, foi o filme. Amália foi um êxito estrondoso de bilheteira, mas, apesar disso, a produção da Valentim de Carvalho prometeu mais. A minissérie de dois episódios de 90 minutos passa na RTP amanhã e terça-feira, pelas 21.00. Sandra Barata Belo interpreta uma Amália Rodrigues que desafiou mentalidades e costumes. Mais do que a obra, o filme no qual é baseado a minissérie relata uma vida marcada pela separação dos pais, pela relação difícil com a mãe, pela morte da irmã Aninhas e pela sensação de isolamento e perda. A realização é de Carlos Coelho da Silva. Paralelamente, o Museu do Fado propõe um ciclo de conferências sobre o tema "Memórias de Amália na Televisão", de terça-feira a sábado. A coordenação é de Bruno de Almeida, autor do documentário The Art of Amália.
A rádio
No dia em que passam dez anos sobre a morte de Amália Rodrigues, arranca a rádio com o nome da fadista na frequência 92.0. O seu proprietário é Luís Montez, da empresa de espectáculos Música no Coração, e que é também detentor da Oxigénio, Radar, Marginal e Capital, em Lisboa, e Nova Era e Festival, no Porto. Nomes como Carlos Ramos, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Maria Teresa de Noronha, Maria da Fé, Camané, Cuca Roseta, Carlos do Carmo, Katia Guerreiro, João Ferreira Rosa, Ana Moura, Carlos Zel, Mariza e, claro, Amália vão poder ouvir-se diariamente, ou seja, passado, presente e futuro. Das 12.00 às 14.00, há uma sessão de discos pedidos no programa Senhor Fado, que se prevê um sucesso. O director da Rádio Amália é Augusto Madaleno.
A toponímia
Uma pequena busca pela toponímia à procura de Amália: há um jardim com o seu nome, em Lisboa, várias ruas noutras cidades do País - há uma foto da fadista com Valentim Loureiro, em hora de pompa, em Gondomar. Oeiras, Loures, Cascais, Sintra, Moita, Seixal e Setúbal também têm a sua placa Rua Amália Rodrigues - Brejão, onde a diva tinha casa de praia, tem a Praia Amália. E um lastro de polémica: depois da sua morte, um grupo de colaboradores lançou um movimento para que parte da Rua de S. Bento tivesse o nome da voz do fado. Mas apenas conseguiu gerar uma grande polémica e uma acção de "guerrilha urbana": por toda a rua onde nasceu Alexandre Herculano começaram a surgir, à revelia, placas com a inscrição Rua Amália Rodrigues. Mas foi acção vã: hoje, na cidade de Amália há um jardim com o seu nome, que fica na parte superior do Parque Eduardo VII e foi desenhado por Gonçalo Ribeiro Telles. A partir da Alameda cardeal Cerejeira
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De: ZÉMANEL |
Enviado: 05/10/2009 14:54 |
No século XX, quando Portugal atravessava o período cinzento da ditadura de Salazar, o empobrecimento e as guerras coloniais, surgia refulgente uma das mais belas vozes femininas do mundo: Amália Rodrigues. Dona de um carisma que conquistou não só o seu país, como o mundo, Amália Rodrigues traduziu a voz de Portugal nos quatro cantos do planeta. Do Estado Novo à Revolução dos Cravos, da perda do império colonial ao ingresso na União Européia, a figura de diva da Amália Rodrigues esteve presente. A voz que cantou Camões, que na sua beleza de tágide, representava tão bem a alma lusitana, a essência do povo que inventou a saudade e perpetuou este sentimento nas suas digitais. Em Lisboa falava-se no mito da Amália nos bares, na cmara, no metropolitano, nas ruas, nas casas de fado de Alfama e do Bairro Alto, ela era unanimidade, o símbolo vivo daquela cidade que a viu nascer. Envelhecida, Amália Rodrigues era homenageada o todo momento, reverenciada, amada por todos. E aquela paixão do povo português era bem recebida por ela. Jamais recusou dar um autógrafo ou um sorriso a um fã, gostava de ser amada, precisava do carinho do seu público como precisava do ar para respirar. Na década de noventa, Lisboa perdera um pouco da verve lusitana, tornando-se mais européia. Amália Rodrigues era o patrimônio vivo dessa verve, era o século XX português retratado em todas as décadas. Trazia uma boca excessivamente vermelha, como uma das cores da bandeira portuguesa, dona de uma voz que dilacerava os sentimentos por ela cantados, tudo nela era de um magnetismo que despertava a paixão incondicional do seu povo. Quando Amália Rodrigues morreu em outubro de 1999, Portugal perdia o seu maior patrimônio artístico. Amália deixava de vez a vida que consagrara à arte e ao seu povo, para assumir a condição de mito, que jamais ofuscará a mulher que foi. Amália Rodrigues está sepultada no Panteão Nacional, local onde estão sepultados muitos dos reis portugueses. Pela primeira vez na história daquele país, uma cantora de fado, vinda de Alcntara, um bairro popular de Lisboa, repousa os seus restos mortais ao lado da mais alta nobreza. Não é só uma cantora de fado que lá está, é a Amália Rodrigues.
De Alcntara Para o Mundo
Amália da Piedade Rebordão Rodrigues, nasceu em Alcntara, Lisboa, segundo o seu registro, em 23 de julho, mas ela afirmava que tinha nascido em 1 de julho, o ano era de 1920. Filha de uma família do Fundão, na Beira, foi criada em Lisboa pela avó materna, quando os pais retornaram para a Beira. Amália cresceu pobre, em um bairro popular, repleto de costumes e tradições folclóricas. Participa das Marchas de Alcntara, onde canta pela primeira vez na vida. É em Alcntara que ela conhece o torneiro mecnico Francisco Cruz, por quem se apaixona, entregando-se a ele. Além da perda da virgindade, vem a perda da ilusão do primeiro amor, Chico, como era conhecido, nega-se à partida, a reparar a honra caprichosa e Amália, aos 18 anos, tenta o suicídio, ingerindo uma bola de veneno de rato que preparara. Foi salva por uma vizinha, que a fez ingerir azeite quente, fazendo-a vomitar durante três dias. Mais tarde, Chico casa-se com ela, é um casamento que serve apenas para salvar a honra ultrajada, já não há amor, o casamento duraria apenas três anos, a própria Amália tomou a iniciativa do divórcio. Mas o destino de Amália Rodrigues já está traçado na mais alta das constelações das estrelas do mundo. Acompanhada pelo irmão pugilista Filipe Rebordão, ela começa a cantar nos retiros do fado. É no famoso Retiro da Severa que faz a sua estréia em 1939. Trazia no palco um porte novo de entrar em cena, com a cabeça deitada para trás, os olhos fechados, as mãos dramaticamente cruzadas. Quando soltava a voz, trazia um timbre que desafiava prantos sem cair no choradinho. A ascensão pelas casas de fado de Lisboa é imediata. A sua fama corre o Bairro Alto, a Mouraria. Torna-se estrela nos palcos do Luso, no Politeama e no Cassino do Estoril. E de Portugal, segue para o mundo.
O Fado de Amália Rodrigues e a Elite
Mas é através das mãos do banqueiro e aristocrata Ricardo Espírito Santo, que Amália Rodrigues faz uma lapidação da sua pessoa. Apaixonado, o banqueiro apresenta a fadista já afamada, para os nobres, os ricos e poderosos de Lisboa, que não tinham o costume de freqüentar as casas de fado. Todos se renderam ao fascínio da Amália, e passou a ser sofisticado vê-la cantar. O fado da cantora deixa de ser voltado apenas para o público popular, para atingir a elite da sociedade portuguesa. Amália Rodrigues torna-se um ícone do fado. Estréia-se no cinema, fazendo vários filmes que fazem parte da história do cinema português. Em 1954, faz o filme “Os Amantes do Tejo”, uma produção francesa, onde canta os clássicos “Barco Negro” e “Solidão”, uma versão de David Mourão-Ferreira da “Canção do Mar”. Com este filme abre as portas da França. Fará apresentações históricas no Olympia de Paris. Em 1961, Amália Rodrigues casa-se no Brasil com o engenheiro César Seabra, um matrimônio que iria durar até a morte do marido, em 1997.
Reverenciada Pela Ditadura e Pela Democracia Portuguesas
Em plena ditadura salazarista, Amália Rodrigues era uma referência de Portugal, o que refletia o Estado português e o seu regime vigente. Já no fim do regime ditatorial, em 1969, ela é condecorada pelo novo presidente do conselho de ministros, Marcelo Caetano, na Exposição Mundial de Bruxelas. Apesar de nunca ter tido uma militncia política, seja de direita ou de esquerda, a perseguição ideológica fez os seus respingos na carreira da cantora, logo após a Revolução de 25 de Abril, em 1974. A revanche da esquerda logo nos primeiros anos que se seguiram à revolução condenava o fado, tido como um dos símbolos do Estado Novo, considerado portanto, fascista. A opinião pública, cansada de quase meio século de ditadura, deixa-se levar por este conceito. Mas Amália Rodrigues era um mito incontestável, além de qualquer ideologia, era o símbolo vivo de Portugal dentro e fora do país. Aos poucos se concilia com o povo e a sua nova visão diante de um estado democrático. Ao passar os ventos da instabilidade de um novo Portugal, a intolerncia ao fado é esquecida, o gênero musical é incorporado à essência da alma portuguesa. Alguns anos após a Revolução dos Cravos, Amália Rodrigues é elevada à condição única de musa perpétua da música portuguesa. Reconciliada com a história e com a sua gente, Amália Rodrigues é condecorada pelo então presidente Mário Soares, com o grau de oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, em pleno estado democrático português. Na velhice, Amália Rodrigues era reverenciada por todas as gerações como uma deusa. Era homenageada em todos os lugares onde estava. Agradecida pelo amor dos portugueses, ela sorria, cruzava as mãos ao peito e apenas dizia: “Obrigada!”. No dia 6 de outubro de 1999, calava-se para sempre aquela mulher que arrepiava as multidões quando subia ao palco, a trajar longas vestes negras, a boca muito vermelha, a cabeça atirada para trás, os olhos fechados e as mãos entrelaçadas. Calava-se a maior voz da saudade lusitana. Lisboa jamais seria a mesma, a cidade perdia um dos seus maiores monumentos históricos, monumento não feito de pedra ou de concreto, mas de carne, sangue e voz. Com a morte de Amália Rodrigues, Portugal fechou o século XX , entrando um ano antes no século XXI.
BIBLIOGRAFIA
1920 - Nasce em Lisboa no Bairro de Alcntara a 1 de Julho (data escolhida por Amália porque nos registros consta o dia 23). 1929 - Entra na Escola Oficial da Tapada da Ajuda, onde terminará a instrução primária. 1934 - Trabalha como bordadeira, engomadeira e tarefeira. 1935 - Desfila na Marcha de Alcntara e canta pela primeira vez, acompanhada à guitarra, numa festa de beneficência. 1938 - Representando o Bairro de Alcntara participa no Concurso da Primavera. 1939 - Estréia-se como fadista no Retiro da Severa. 1940 - É atração no Teatro Maria Vitória, na revista Ora Vai Tu!. Casa-se com Francisco Cruz. 1943 - Canta em Madrid, a convite do embaixador português. Divorcia-se de Francisco Cruz. 1944 - A estada no Brasil, prevista para seis semanas, estende-se por três meses. Atua no Cassino da Urca. 1945 - No Brasil grava os primeiros dos 170 discos (em 78 rotações) da sua carreira. 1947 - É protagonista no filme “Capas Negras”, batendo todos os recordes de exibição (22 semanas em cartaz no Cinema Condes). 1948 – Recebe o prêmio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para a melhor atriz, pelo seu papel em “Fado”, filme de Perdigão Queiroga. 1949 - Atua pela primeira vez em Paris e Londres. 1950 - Canta em Roma, Trieste e Berlim. 1951 - Digressão a África: Moçambique, Angola e Congo. 1952 - Atua pela primeira vez em Nova York no La Vie en Rose, ficando 4 meses em cartaz. Assina contrato com a Valentim de Carvalho, que passa a gravar todos os seus discos. 1953 - É a primeira artista portuguesa a cantar na televisão americana no programa Eddie Fisher Show. 1954 - Edita o primeiro LP nos Estados Unidos. Atua no Mocambo, em Hollywood. 1955 - Interpreta “Canção do Mar” e “Barco Negro” no filme de Henri Verneuil “Os Amantes do Tejo”. Filma no México “Música de Sempre” com Edith Piaf. 1957 - Estréia-se no Olympia em Paris e começa a cantar em francês. Charles Aznavour escreve para ela “Ai, Mourrir pour Toi”. 1961 - Casa no Rio de Janeiro com o engenheiro César Seabra. 1962 - Lança o disco “Asas Fechadas” e “Povo que Lavas no Rio” do poeta Pedro Homem de Mello. 1965 - Protagoniza o filme As Ilhas Encantadas. 1966 - Atua no Lincoln Center (Nova York) com uma orquestra sinfônica dirigida pelo maestro André Kostelanetz. 1967 - Recebe em Cannes, pelas mãos do ator Anthony Quinn, o prêmio MIDEM (Disco de Ouro) para o artista que mais discos vende no seu país, fato que se repete nos dois anos seguintes, proeza só igualada pelos Beatles. 1969 - É condecorada por Marcelo Caetano. 1970 - Atua em Tóquio, Nova Iorque e Roma e recebe uma alta condecoração francesa. 1975 - Regressa ao Olympia em Paris. 1976 - É editado pela UNESCO o disco “Le Cadeau de la Vie” em que figura ao lado de Maria Callas e de John Lennon. 1977 - Canta no Carnegie Hall de Nova York. 1985 - Volta a cantar no Olympia de Paris. Dá o primeiro concerto a solo no Coliseu dos Recreios de Lisboa. 1989 - Comemora os 50 anos de carreira com uma exposição no Museu do Teatro em Lisboa. 1990 - Dois grandes espetáculos: Coliseu dos Recreios e no São Carlos onde, pela primeira vez em 200 anos, se ouve cantar o fado. 1994 - Atua pela última vez em público no mbito de Lisboa, Capital da Cultura. 1995 - É operada a um tumor no pulmão. Edita o seu último disco “Pela Primeira Vez”. 1997 - Morre César Seabra, seu marido. 1998 - É lançado o disco O Melhor de Amália, muito aclamado pela crítica internacional. É homenageada na Expo 98. 1999 - A 6 de Outubro morre em Lisboa, na sua casa na Rua de São Bento.
DISCOGRAFIA
1945 – Perseguição 1945 – Tendinha 1945 – Fado do Ciúme 1945 – Ai Mouraria 1945 – Maria da Cruz 1951/52 – Ai Mouraria 1951/52 – Sabe-se Lá 1953 – Novo Fado da Severa 1953 – Uma Casa Portuguesa 1954 – Primavera 1955 – Tudo Isto É Fado 1956 – Foi Deus 1957 – Amália no Olympia 1963 – Povo Que Lavas no Rio 1964 – Estranha Forma de Vida 1965 – Amália Canta Luís de Camões 1969 – Formiga Bossa Nova 1970 – Amália e Vinícius 1970 – Com Que Voz 1970 – Fado Português 1971 – Oiça Lá ó Senhor Vinho 1971 – Amália no Japão 1972 – Cheira a Lisboa 1973 – A Una Terra Che Amo 1976 – Amália no Canecão 1976 – Cantigas da Boa Gente 1983 – Lágrima 1984 – Amália na Broadway 1985 – O Melhor de Amália Rodrigues – Estranha Forma de Vida 1985 – O Melhor de Amália – Volume 2 – Tudo Isto É Fado 1990 – Obsessão 1992 – Abbey Road 1952 1997 – Segredo
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De: ZÉMANEL |
Enviado: 05/10/2009 14:58 |
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Junho 10, 2008 às 2:12 pm |
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