O peixe-boi
O peixe-boi dorme.
Tranqüilo peixe-boi
Que se deixa embalar
Pelo calmo correr
Da correnteza do rio.
Então ele abre um olho,
Abre outro,
E dá um grande bocejo.
O peixe-boi acorda
E come uma alga
Do fundo do rio.
Um pouquinho mais adiante,
Come outra alga.
Ele mastiga
Vagarosamente
E sente sono.
Enquanto engole
O verde capim dos rios,
O peixe-boi pensa
Em sua família.
Ele então se entristece,
Sente um peso a lhe apertar
O peito
E tem vontade de chorar.
O peixe-boi não tem mais
Pai nem mãe.
Um caçador malvado
Levou-os embora,
Para longe do triste peixe-boi.
O peixe boi não tem mais
Irmão nem irmã.
Um barco desgovernado
Os atropelou e os tirou
Do pobre peixe-boi.
O peixe-boi não tem mais
Amigos nem companheiros.
A sujeira dos esgotos
Das casas dos homens
Espantou todos
Os outros peixes-bois
Para mananciais distantes.
O peixe-boi está sozinho,
Peixe-boi sem rebanho,
Peixe-boi sem cardume,
Coitadinho do peixe-boi!
E por isso ele chora,
Chora como uma criança
Aninhada em sua cama.
Mas ninguém percebe
Esse choro
Pois, assim que brotam,
As lágrimas do peixe-boi
Se misturam à fria e triste
Água do rio
E desaparecem
Sem rastro.