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LINGUA PORTUGUESA: Pronomes pessoais da norma padrão da língua portuguesa
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De: NATY-NATY  (Mensaje original) Enviado: 17/10/2009 20:30

Trataremos dos pronomes pessoais, da locução a gente e do pronome você.

Pronome do latim pronomen: em lugar do nome. São palavras que substituem ou acompanham o antecedente.

Os pronomes pessoais subdividem-se em:

a) Pronomes pessoais do caso reto: eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas. Representam as pessoas do discurso.

Em toda situação de comunicação, há três pessoas envolvidas: emissor (a pessoa que fala): eu ou nós; receptor ou interlocutor (a pessoa com quem falamos): tu ou vós; e assunto (a pessoa de quem falamos): ele, ela ou eles e elas.

Eu do latim ego: designa a pessoa que fala, o emissor; sempre exercerá função de sujeito da oração. "Ser feliz é ter maturidade para dizer: eu errei; ou ter sensibilidade para falar eu preciso de ti; ou ter capacidade para dizer eu te amo".

Tu do latim tu: designa a pessoa com quem falamos, o interlocutor. Emprega-se quando nos dirigimos à pessoa de nossa intimidade ou como se fosse, geralmente, pessoa de mesmo nível social, econômico, etário, etc., independente de quem seja. Tratar por tu é tratar com elegncia, é dispensar ao interlocutor um termo culto da norma padrão. Se tratar por tu fosse falta de respeito, como alguns pensam, os portugueses, os povos que falam o espanhol, os italianos, os franceses, os norte-americanos, os ingleses, os alemães, os holandeses, etc. se desrespeitam mutuamente, pois todos eles usam o tu habitualmente na fala e na escrita para tratar o interlocutor (o tu é o pronome de segunda pessoa no idioma desses povos, you é tu). Faltar com respeito é tratar o interlocutor por expressão vulgar. Devemos chamá-lo pelo nome e, no decorrer da conversa, tratá-lo por tu. Como o tu é pronome de segunda pessoa, exigirá o verbo na segunda pessoa do singular.

Observemos o uso do pronome tu nos seguintes diálogos:

"Pilatos o interrogou: és tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: tu o dizes. Tornou Pilatos: nada respondes? Vê quantas acusações te fazem! Jesus, porém, não respondeu palavra alguma, a ponto de Pilatos muito se admirar".

Machado de Assis e o leitor: "Leitor, não é muito que percebas a causa daquela expressão e destes dedos abotoados. Já lá ficou dito atrás, quando era melhor deixar que a adivinhasses; mas provavelmente não a adivinharias, não que tenhas o entendimento curto e escuro, mas porque o homem varia do homem, e tu talvez ficasses com igual expressão, simplesmente por saber que ias dançar sábado." (Machado de Assis, Esaú e Jacó, Globo, 1997, 14).

Observemos o uso habitual da segunda pessoa do singular (tu) na fala e na escrita em outros países. Poderíamos citar muitos outros textos mas estes são suficientes para demonstrar o uso do tu em outros países:

Portugal: "Já compraste teu bilhete? Compra aqui tua entrada para o maior festival de música do mundo. Rock in Rio Lisboa". (www.sapo.pt 15.2.06). "Olá, olá! Já conheces o site que a RTP fez só para nós? ...não contes aos crescidos... Vem espreitar!". (www.rtp.pt, 23.11.05). Argentina (destaco o uso do vós): "Vos estás en Brasil. Tu gente te llama a un numero Argentino. Es asi de simple. Hola Argentina. Tu linea en tu país". (www.clarin.com 14.6.2006). "Y ahora, côn tu línea Hola Argentina, te ofrecemos Netfono, para que puedas recibir las llamadas de tu Hola Argentina, en forma gratuita e para que puedas realizar llamadas a todo el mundo con las mejores tarifas". (www.holaargentina.com 14.6.2006).

Chile: Si te estás preparando para una práctica, quieres sumergirte en el mundo del idioma español... Si eres principiante, podrás ganar dentro de pocas semanas una buena base en el idioma que te permitirá hacerte entender sin dificultad. Si tu nível es avanzado, podrás refrescar e mejorar tu manejo del español. Si has aprendido español en otro país... podrás conocer aqui las particularidades nacionales". (www.contactchile.cl 26.6.06). Espanha: "Descobre tu mundo. Descúbre-lo. Hay un mundo como tú. Ya en tu ciudad". (www.elpais.es 30.11.05). "Sácale el máximo partido a tus ahorros. Porque lo disfrutarás automáticamente cada vez que superes tu saldo máximo desde que te hiciste cliente". (www.elpais.es 27.3.2006).

França: (destaco o uso do vós) "Vous êtes célibataire et vous souhaitez enfim vous épanouir dans une vraie relation à deux? Oui mais... A votre avis vous vous accorderiez mieux avec une personne plutôt extravertie et non conventionnelle ou introvertie et raisonnée? Pour le savoir et mieux vous connaaître, faites gratuitement notre test de personnalité scientifique, et trouvez celui ou celle qui changera votre vie!". (www.liberation.fr 6.6.2006). Tradução: Vós sois solteiro e vós desejais enfim vos realizar num relacionamento verdadeiro a dois? Sim, mas... Na vossa opinião, vós combinaríeis melhor com uma pessoa mais extrovertida e não tradicional ou introvertida e racional? Para sabê-lo e conhecer-vos melhor, fazei gratuitamente nosso teste de personalidade científico e achareis aquele ou aquela que mudará vossa vida".

Itália: "Due click e tuo pensiero è online. Non hai ancora un blog? Con i blog de la Stampa da oggi puoi diventare editore di te stesso! Crea subito tuo diario online: potrai pubblicare opinioni, dialogare con i lettori... Se invece sei già esperto, potrai scegliere un servizio de livello professionale, con tuo nome di mominio... Crea ora il blog che preferisci!" (www.lastampa.it 12.7.2006). Tradução: "Dois clicks e teu pensamento estará online. Não tens ainda um blog? Com os blogs de la Stampa, de hoje em diante podes te tornar editor de ti mesmo! Cria imediatamente teu diário online: poderás publicar opiniões, dialogar com os leitores... Se ao contrário já és experiente, poderás escolher um serviço de nível profissional, com teu nome de domínio... Cria agora o blog que preferes!" Venezuela: "Se deseas tener información sobre nuestras tarifas y promociones, inscribete e participa en dois boletos a San José de Costa Rica". (www.eluniversal.com 24.5.2006).

Ele, ela, eles, elas do latim ille: designam a pessoa de quem falamos, o assunto; substituem o antecedente exercendo função de sujeito ou de objeto indireto. "Se o dinheiro não for teu servo, ele será teu senhor" (ele substitui dinheiro). – Pierre Charron. "Se não ensinares teu filho e não o preparares para exercer uma profissão, abrirás caminho para que ele roube" (ele substitui teu filho) – Martin Lloyd Jones. "Aqui temos uma aliança que Deus faz contigo que oras a ele".

Os pronomes ele/ela quando mal utilizados, podem apresentar ambigüidade: "O ministro comunicou a seu secretário que ele seria exonerado". Corrigindo (bem perto do possuidor): "O ministro comunicou a sua exoneração a seu secretário". Pedro garantiu a Paulo que ele seria bem sucedido. Corrigindo: Pedro garantiu que (ele) seria bem sucedido a Paulo.

O mesmo/a mesma são palavras de reforço e não têm função de substituir o antecedente. O uso dessas expressões em lugar de ele/ela compromete gravemente o texto. Se o dinheiro não for teu servo, o mesmo será teu senhor. Se não ensinares teu filho e não preparares o mesmo para exercer uma profissão, abrirás caminho para que o mesmo roube.

Nós do latim nos: designa as pessoas que falam, os emissores; funciona como sujeito da oração ou como predicativo do sujeito. Cortar árvores, matar animais, poluir o meio ambiente! Nós somos responsáveis pela natureza". "A leitura é fundamental para nós".

Vós do latim vos: funciona como sujeito do verbo e serve para nos dirigirmos a duas ou mais pessoas: "Se vós me amais, amai-me baixinho". Usa-se também para nos dirigirmos a uma só pessoa, a um santo ou à própria divindade, em sinal de respeito ou cortesia. "Foi para vós que ontem colhi, senhora, este ramo de flores que ora envio". – Manuel Bandeira. "Virgem Maria, Noiva eleita, a Vós recorro". – Alphonsus de Guimarães.

No Brasil, muitos o consideram arcaico e antiquado. Mas na Argentina, Chile, Espanha, El Salvador, França, Guatemala, Honduras, Itália e muitos outros países, ele está em pleno uso na fala e na escrita e, como eles mesmos dizem, "sin embargo, actualmente ha renacido um orgullo nacional por el uso del vos". (http://es.wikibooks.org/wiki 20.6.2006).

Omissão dos pronomes: Não há contra-indicação quanto ao uso dos pronomes pessoais: eles são pequenos e discretos e passam despercebidos. Na fala sempre que pudermos omiti-los será melhor; na escrita sugerimos usá-los apenas quando necessário; o texto ficará mais conciso e não haverá prejuízo à compreensão, porque as desinências verbais indicam as pessoas gramaticais.

"Adoro meu estilo de vida; adoro Herbalife" (omissão do eu). "Ama e faz o que quiseres" (omissão do tu) – Santo.Agostinho. "Vivemos no presente, sonhamos com o futuro, mas aprendemos verdades eternas com o passado" (omissão do nós) – Madame Chiang Kai-Sheik. "Não sois máquinas. Homens é que sois" (omissão do vós) – Charles Chaplin.

É possível que no futuro as locuções o mesmo/a mesma, muito utilizadas na escrita, completem a "destruição" dos pronomes pessoas retos: o vós foi liquidado pelo vocês; o tu está praticamente liquidado pelo você; eu e nós estão sendo liquidados pelo a gente; e finalmente ele e ela por o mesma/a mesma. Será que isso é opção inteligente ou pode ser chamado de evolução da língua? Por que apenas nós, os brasileiros, estamos rejeitando os pronomes pessoais? Por que somente aqui no Brasil, em nome de uma pseudo-evolução da língua (a linguagem padrão está sendo destruída portanto não há evolução), estamos criando tantos "pronomes" (a gente, você, vocês, o mesmo, a mesma, o referido, a referida) para substituí-los? As causas são várias: uma delas é a ignorncia: no Brasil, segundo dados do IBGE, 75% dos brasileiros são analfabetos ou analfabetos funcionais. Mas não são só esses que não sabem usá-los.

Geralmente os brasileiros não são orientados a usá-los na infncia e na adolescência e conseqüentemente não adquirem hábito de usá-los. Se eles não os conhecem e não sabem usá-los como os preservarão? Outra causa é a perversão: adoramos a depravação, a promiscuidade, a mistura desordenada da língua, a corrupção, e com o tempo a língua sofre as conseqüências: vulgariza-se, perde a qualidade, anarquiza-se, o vulgar passa a ser superior aos nossos olhos. Se não respeitamos a vida, a família, os princípios éticos, etc, respeitaríamos pronomes pessoais, linguagem padrão? Não. "Falem como quiserem, é a mesma coisa, não tem problema, o importante é se comunicar, muitos dizem". Não deveríamos aceitar quaisquer mudanças; deveríamos julgá-las e verificar se representam avanço ou retrocesso. Se temos o ouro, por que o trocaríamos pelo barro?

b) Pronomes pessoais oblíquos: exercem funções de complementos verbais, ou seja, sempre serão objeto direto ou objeto indireto do verbo. Singular: me, mim, comigo; te, ti, contigo; se, si, consigo, o, a, lhe. Plural: nos, conosco; vos, convosco; se, si, consigo, os, as, lhes.

Te do latim te: é usado quando nos dirigimos a uma pessoa e tem função de objeto direto ou de objeto indireto.

O Enem te prepara para as provas da vida. Ouvidoria Caixa. Estamos aqui para te ouvir. Eu te amo. Eu te obedeço.

Ti do latim tibi: exerce função de objeto indireto, ou seja, sempre será antecedido de proposição e depois dele não poderá haver verbo. Nada faria contra ti. Confio em ti. "E nós ficamos por aqui; pra ti um bom dia". "Tô de olho em ti". Não vais sem eu mandar. "Acaso não dei ordens para tu comprares o barco?"

Contigo do latim tecum (com a pessoa com quem falamos): exerce função de objeto indireto do verbo.

Conto contigo. Vem e leva-me contigo. A solução do caso está contigo.

Atenção: Embora muito comum nas linguagens escrita e falada, sugerimos evitar o uso do pronome você em lugar dos oblíquos te, ti, contigo (você não é pronome oblíquo):

"Enem. Prepara você para as provas da vida". – Ministério da Educação. "Ouvidoria Caixa. Estamos aqui para ouvir você". Eu amo você. "E nós ficamos por aqui; pra você um bom dia". Conto com você.

Se, si, consigo: os dois últimos exercem função de objeto indireto, são reflexivos e somente refletem a ação verbal sobre sujeito de terceira pessoa. "Evaristo recusa-se a colaborar conosco. "Hei de tornar meu filho mais confiante em si". "O cálice da grandeza traz sempre consigo o inevitável vinho da derrota".

O, a, os, as: sempre exercem função de objeto direto. "O mal da igualdade é que nós só a queremos em relação aos nossos superiores". (a substitui igualdade) "O erro é erro mesmo que todos o pratiquem; o certo é certo mesmo que ninguém o realize" (o substitui erro e certo) – François La Rochefoucauld.

Embora muito comum na linguagem falada, sugerimos evitar as construções: Nós encontramos ele no shopping. Somente vejo ela à tarde. O mal da igualdade é que nós só queremos ela em relação aos nossos superiores.

O mesmo, a mesma, o referido, a referida: a função de substituir ou acompanhar o antecedente é exclusiva dos pronomes; portanto devemos evitar o uso dessas expressões em lugar dos oblíquos.

"O Brasil é rico em matérias-primas, mas não basta possuir as mesmas, o desejável é industrializar as referidas matérias-primas e auferir todo o potencial de lucro embutido nas mesmas". "Eu podia escrever o nome do frei pois ninguém conhecia o mesmo." "Pedimos escusas por não termos remetido a referida encomenda."

Linguagem padrão: "O Brasil é rico em matérias-primas, mas não basta possuí-las, o desejável é industrializá-las e auferir todo o potencial de lucro nelas embutido". "Pedimos escusas por não a termos remetido."

Lhe, lhes do latim illi: substituem o antecedente exercendo função de objeto indireto. "A empresa Alvorada é dirigida pelos senhores Paulo e José, os quais lhe dedicam todas as energias" (lhe substitui empresa alvorada). Encontrando as filhas sozinhas, abriu-lhes o coração" (lhes substitui filhas). Usos incorretos: "A empresa Alvorada é dirigida pelos senhores Paulo e José e os mesmos dedicam à mesma todas as energias".

Nos, conosco: exercem função de complemento verbal: "Recebeu-nos com os braços abertos. Suas palavras não nos influíram entusiasmo. Vem jantar conosco domingo. Trabalho aos domingos não é conosco". – Novo Aurélio Século XXI.

Vos, convosco: são usados quando nos dirigirmos a duas ou mais pessoas: "Alguém vos espancou, vos bateu?" "Gostaria de conversar a sós convosco. Deixo convosco a resolução do problema". – Novo Aurélio Século XXI.

A locução a gente: O a gente como expressão de primeira pessoa, designando as pessoas que falam, teve origem nas camadas de pouca instrução, geralmente as pessoas que não tiveram acesso a estudo e portanto não conseguiam usar adequadamente os pronomes pessoais do caso reto, do caso oblíquo e os pronomes possessivos. Atualmente o uso dessa locução está ligado basicamente a três grupos: pessoas que não tiveram acesso a estudos; pessoas que tiveram acesso a estudos mas foram influenciadas pelo meio e pelos veículos de comunicação; e pessoas que usam os pronomes pessoais mas excepcionalmente buscam por meio da linguagem popular empatia na comunicação.

Classificamos a locução a gente como brasileirismo e como expressão vulgar por se enquadrar perfeitamente nas definições: "Brasileirismo: modo de falar aceito pelo uso mas contrário às normas gramaticais; idiotismo do português do Brasil." (Novo Aurélio Século XXI). "Brasileirismo: criação fonética, morfológica, sintática ou semntica tipicamente brasileira." (Professor Paulo Hernandes). "Vício de linguagem: uso lingüístico que foge à norma estabelecida". (Novo Aurélio Século XXI). "Expressão vulgar: uso lingüístico popular (fonético, morfológico ou sintático) em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região." (Colégio Rainha da Paz).

Levantamos contra o uso do brasileirismo a gente dentre outras três objeções: compromete gravemente a qualidade da linguagem; o uso crescente levará no futuro, na fala e na escrita, ao desuso de diversos pronomes (eu, nós, mim, comigo, nos, conosco, meu, minha, meus, minhas, nosso, nossa, nossos, nossas e alguns tempos verbais); não há necessidade de a utilizarmos porque a norma padrão recomenda pronomes adequados para cada situação.

Analisemos alguns exemplos:

(1) "Nem sempre a gente tem todo o dinheiro que a gente deseja. Essa experiência vale para cada um de vocês: nem sempre a gente pode comer tudo o que gostaria, nem sempre a gente pode dar tudo o que sonhava para os filhos da gente. O importante é que o filho tenha clareza de que a gente está fazendo o máximo que a gente pode". (De autoria de uma autoridade importante do País). Passando-o para a linguagem padrão, temos:

(2) "Nem sempre temos todo o dinheiro que desejamos. Essa experiência vale para cada um de "vocês": nem sempre podemos comer tudo o que gostaríamos; nem sempre podemos dar tudo o que sonhamos para os nossos filhos. O importante é que eles tenham clareza de que estamos fazendo o máximo que podemos".

O texto (1) é redundante e deselegante: tem 65 palavras, repetiu a expressão a gente sete vezes e a linguagem está inaceitável para uma pessoa instruída. O texto (2) tem 51 palavras, não repetiu nenhuma e a linguagem está clara (entendível por todos), concisa, elegante e irretocável. O uso do a gente traz graves conseqüências à expressão falada ou escrita, caracterizando pobreza vocabular; como veremos, ele não pode ser omitido na oração como o nós o foi no texto (2).

Submetamos o a gente a um teste:

(3) "O natal que a gente sonha. O natal que a gente quer. O natal que a gente deseja. O natal que a gente vive é TUDO. O natal que a gente quer TEM na Yamada. Tudo tem na Yamada". (Negrito nosso).

Retirando os a gentes do texto (3), temos:

(4) "O natal que sonha. O natal que quer. O natal que deseja. O natal que vive é TUDO. O natal que quer TEM na Yamada. Tudo tem na Yamada".

O texto (4) ficou ambíguo, totalmente indefinido; não sabemos qual sujeito pratica as ações expressas pelos verbos em destaque. Os sujeitos desses verbos podem ser a gente, você, ele ou ela.

Conclusão: Não podemos utilizar o recurso de omitir a locução a gente para evitar repetições porque o texto ficará ambíguo, indefinido. O a gente é imprescindível ao período; sem ele o texto ficará sem compreensão e o sujeito será indeterminado (os pronomes retrocitados).

A locução a gente facilita a linguagem, não há como negar, mas impõe condição obrigatória: o emissor terá de repeti-la todas as vezes que praticar uma ação, tornando-se cativo, refém dela. Por meio de observações já realizadas, as pessoas que habitualmente a utilizam, citam-na em média 4 vezes por minuto; se falarem 5 minutos, citarão 20 vezes; se falarem 10 minutos, citarão 40 vezes, redundncia anormal e enfadonha. Diferentemente, os pronomes "eu" e "nós" permitem liberdade; o emissor é livre para usá-los ou não.

Passando o texto (3) para a linguagem padrão, temos:

(5) O natal que sonhamos. O natal que queremos. O natal que desejamos. O natal que vivemos é TUDO. O natal que queremos TEM na Yamada. Tudo tem na Yamada.

Usamos 10 palavras a menos, utilizamos o espetacular, maravilhoso recurso de omitir, ocultar o pronome para evitar repetições, a comunicação está clara e as orações têm sujeitos definidos, nós. No texto (5), o sujeito nós praticou cinco ações (sonhar, querer, desejar, viver e querer); e poderia ter praticado mil porém não o encontramos no período.

Apenas a norma padrão oferece os recursos e os ornamentos necessários à linguagem concisa e elegante. O bom texto, e eu diria também a boa conversação, não podem repetir demasiadamente a mesma palavra.

Leitor, se ficaste com dúvida quanto à obrigatoriedade de repetir o a gente, repete o teste com o texto a seguir.

(6) "A gente confia no Brasil. A gente torce pelo Brasil. A gente apóia o Brasil. A gente é brasileiro até de baixo dágua. Correios, patrocinadora oficial dos esportes aquáticos". (Negrito nosso).

(7) Linguagem padrão.: Confiamos no Brasil. Torcemos pelo Brasil. Apoiamos o Brasil. Nós somos brasileiro até de baixo dágua.

A locução a gente era e deveria ser característica dos analfabetos. Mas se nada for feito contra ela, as formas dos textos (1), (3) e (6) serão a linguagem do brasileiro, seja analfabeto ou doutor, ressalvadas as exceções. Uma das formas de combatê-la é mostrar quem ela é, expô-la ao ridículo, desmoralizá-la.

Existem alguns homônimos do brasileirismo a gente que podem e devem ser usados: "Chegou um agente da ONU para tratar assuntos com o governo". "Vento, chuva, rio ou mar, agentes de erosão, arrastam fragmentos para regiões mais baixas". "O Catete era passagem obrigatória de toda a gente, que olharia para as grandes janelas. – Machado de Assis.

O pronome você: teve origem bastante interessante. Até então, a norma padrão da língua portuguesa, seguindo o modelo do Latim, estabelecia para a segunda pessoa, o interlocutor, dois pronomes: tu e vós; o tu para nos dirigirmos a uma pessoa e o vós para nos dirigirmos a duas ou mais pessoas; o vós também era usado para nos dirigirmos a uma pessoa como forma de tratamento respeitoso.

O pronome vossa mercê teve origem como pronome de tratamento respeitoso e era usado em situações especiais. Com o uso comum a diversas classes sociais como reis, nobres, burguesia, o vossa mercê deixa de satisfazer as exigências da sociedade e é substituído por diversos outros pronomes de tratamento (vossa senhoria, v. majestade, v. alteza, v. excelência). Contudo, na prática ele continua em uso pelas pessoas que não tomaram conhecimento das mudanças ocorridas, entra em processo de simplificação com o decorrer dos anos e resulta na forma você.

Certamente por apresentar facilidade de uso, regra do menor esforço, verbo na terceira pessoa, o você propagou-se pelo país. Desta feita, já não mais como pronome de tratamento respeitoso, mas como pronome de trato íntimo. Paulatinamente à crescente aceitação do você houve a decrescente aceitação do tu. Deixou-se de usar um termo padrão, o tu, recomendado para as situações de trato normal, para usar um termo alheio àquela norma, o você. Se o vossa mercê foi substituído por outros pronomes, a sua história deveria encerrar-se aí. Na verdade, não era nem para existir o pronome você porque a norma padrão já recomendava para o trato normal o tu. Classificamos o pronome você (uso em lugar de tu, te, ti, contigo) como brasileirismo e como expressão vulgar por se enquadrar perfeitamente nas definições (ver conceitos retrocitados).

No Brasil, os veículos de comunicação, principalmente a televisão, exerceram e exercem influência decisiva na difusão do pronome você, porque divulgam a programação utilizando esse pronome.

Submetamos o você a um teste:

(8) "Querida Sofia. Certamente você ficou impressionada com a teoria das idéias de Platão. E você não é a primeira. Não sei se você aceitou tudo sem maiores problemas, ou se você tem algum comentário crítico a fazer. Mas se você fez críticas à teoria de Platão, saiba que essas mesmas críticas já foram feitas por Aristóteles". Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, 121.

Retirando os vocês do texto (8), temos:

(9) "Querida Sofia. Certamente ficou impressionada com a teoria das idéias de Platão. E não é a primeira. Não sei se aceitou tudo sem maiores problemas, ou se tem algum comentário crítico a fazer. Mas se fez críticas à teoria de Platão, saiba que essas mesmas críticas já foram feitas por Aristóteles".

Conclusão: Não podemos utilizar o recurso de omitir o pronome você para evitar repetições, porque o texto ficará ambíguo, sem compreensão, com várias possibilidades de interpretação. O você é imprescindível e sem ele os sujeitos dos verbos destacados serão indeterminados (os pronomes a gente, você, ele ou ela).

Passando o texto (8) para a linguagem padrão, trato íntimo ou como se fosse, temos:

(10) "Querida Sofia. Certamente ficaste impressionada com a teoria das idéias de Platão. E tu não és a primeira. Não sei se aceitaste tudo sem maiores problemas, ou se tens algum comentário crítico a fazer. Mas se fizeste críticas à teoria de Platão, sabe que essas mesmas críticas já foram feitas por Aristóteles".

Análise das duas linguagens: O texto (8) é redundante, repetiu o pronome você 5 vezes, e deselegante, utiliza o vulgar você. O texto (10) não repetiu nenhuma palavra; é claro, conciso, elegante e irretocável. Uma das qualidades do bom texto, e eu diria também da boa conversação, é não repetir demasiadamente a mesma palavra.

O pronome você facilita a linguagem mas impõe condição obrigatória: o emissor terá de repeti-lo sempre que se dirigir ao interlocutor, tornando-se cativo, refém dele. Como num diálogo são inúmeras as vezes que o emissor se dirige ao interlocutor, terá de repeti-lo dezenas vezes. Diferentemente, os pronomes tu e vós permitem liberdade; o emissor é livre para usá-los ou não.

O pronome você é classificado pelos autores como pronome de tratamento e atualmente é usado no trato familiar ou íntimo, mas sugerimos evitá-lo pois compromete a qualidade do texto e constitui desvio da linguagem padrão (eu, tu, ele, nós, vós, eles), embora a grande maioria dos brasileiros o usem normalmente.

Leitor, observa os estragos provocados pelo você no belo texto a seguir (repetição do você 18 vezes):

(11) Flores Falarão por Mim. Não sei como vou encontrar você, mas estas flores falarão por mim. Seja ou não o seu aniversário, que elas signifiquem para você o mais singelo presente. Você tenha ou não crianças por perto, que elas levem a você o viço de nova vida. Se você perdeu um ente querido, que elas possam lembrar você que Deus existe. Se você não tem estado feliz, que elas ajudem você a recuperar a felicidade. Se sua fé tem sido abalada, que elas possam fazer com que milagres aconteçam.

Se alguém magoou seu coração, que elas levem luz a esse espírito que não conhece a lei do retorno. Se finanças preocupam você, possam elas lembrar você que o Universo sempre acaba suprindo nossas necessidades. Se você se vê sozinho e esquecido, que elas façam você sentir a presença do seu Anjo Guardião. Se você pensa que ninguém dá importncia para você, que elas façam com que você reconheça o seu próprio valor. Nesse lugar onde você está, deixe que essas flores falem por mim... Eu só desejo que você esteja bem. Mas se você não estiver, lembre-se: sob a luz do Amor não há mal que não encontre o seu fim. Nesse texto o você foi usado em lugar dos pronomes tu, te, ti, contigo, a forma de expressão que os veículos de comunicação estão impondo ao povo brasileiro.

Passando para a linguagem padrão, temos:

(12) "Flores Falarão por Mim. Não sei como vou te encontrar, mas estas flores falarão por mim. Seja ou não o teu aniversário, que elas te signifiquem o mais singelo presente. Tenhas ou não crianças por perto, que elas te levem o viço de nova vida. Se perdeste um ente querido, que elas possam lembrar-te que Deus existe. Se não tens estado feliz, que elas te ajudem a recuperar a felicidade. Se tua fé tem sido abalada, que elas possam fazer com que milagres aconteçam.

Se alguém magoou teu coração, que elas levem luz a esse espírito que não conhece a lei do retorno. Se finanças te preocupam, possam elas te lembrar que o Universo sempre acaba suprindo nossas necessidades. Se te vês sozinho e esquecido, que elas te façam sentir a presença do teu Anjo Guardião. Se pensas que ninguém te dá importncia, que elas façam com que reconheças o teu próprio valor. Nesse lugar onde estás, deixa que essas flores falem por mim... Eu só desejo que tu estejas bem. Mas se não estiveres, lembra-te: sob a luz do Amor não há mal que não encontre o seu fim". (Título: Y Love You Son. Música: Johnny Mathis. Letra: Sílvia Schmidt).

É triste constatarmos o quanto a linguagem do brasileiro está se distanciando da linguagem padrão. A história demonstra que a preferência pelas expressões vulgares (a gente, você, o mesmo, o referido etc) lança os termos padrões (eu, tu, ele, nós, vós, eles) em desuso. Os pronomes retos e oblíquos aplicam-se a todas as situações de comunicação, inclusive à distncia: televisão, rádio, jornal, telefone, internet etc.

Se considerarmos que os profissionais de comunicação, atores, professores, escritores, etc., são formadores de opinião, referência, modelo à sociedade, na verdade os verdadeiros professores de "língua portuguesa" dos brasileiros, mais razão há para demonstrarem zelo pelos termos padrões porque influenciarão os interlocutores. Se queremos preservar aquelas relíquias do latim e continuar desfrutando-as, usemo-las; esta é a única maneira de preservá-las. Ou será que nós, os brasileiros, somos de inteligência tão curta a ponto de vulgarizar a língua com bugigangas, porque a nossa capacidade intelectual não permite assimilar os pronomes pessoais?

Finalizo parafraseando palavras do renomado professor Napoleão Mendes de Almeida: "Saber usar a linguagem padrão faz parte dos deveres cívicos, pois a ela é a mais viva expressão da nacionalidade. Como exigiremos que os estrangeiros respeitem nossa nacionalidade se somos os primeiros a desrespeitar o que a exprime e a representa, o idioma pátrio?". 

Por Cláudio Rodrigues



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