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General: CRÔNICAS ♣♣♣♣♣CRÔNICAS
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De: NATY-NATY (Mensaje original) |
Enviado: 18/10/2009 21:20 |
Tenho uma amiga me cobrando a prosa encantadora. E me ocorreu que a gente, muitas vezes, não se relaciona com as pessoas realmente, mas com uma imagem delas gravada em algum momento da relação.
Nós estamos continuamente em mutação, mas, mesmo quando percebemos isso em nós mesmos, é difícil reconhecer no outro, e continuamos a nos relacionar com uma pessoa que já não está mais lá exatamente. Como a mudança é geralmente lenta, esse desvio no relacionamento é imperceptível durante um bom tempo. A cobrança vem quando o novo outro, já bem modificado, entra em desacordo com o outro que nós gravamos, então começamos a cobrar que ele corresponda à imagem inicial.
A mudança, por vezes, nem é definitiva, é cíclica. Feito as estações do ano. Quantas vezes queremos sol quando o tempo é de chuva, frio quando é época de calor!
O problema, que nunca está realmente no outro, deve estar na nossa relação conosco. Possivelmente gravamos de nós mesmos uma imagem que fica desatualizada, por assim dizer. Então não é apenas a prosa que não é mais encantadora, mas é a própria pessoa que lê que não é mais tão encantável. Aí ficamos feito pingo d'água reclamando sol, gota de suor desejando cobertor.
Mas mesmo sendo isso verdade — que minha amiga está menos encantável —, devo assumir minha parte: minha prosa está mesmo desencatada. Que posso fazer? Minha prosa encantadora vem de eu mesmo estar encantado, e eu não estou. Coisa que estou é outra coisa que ainda não dei nome: feito bebê crescendo na barriga. Vou esperar nascer — e ver a cara — pra só depois batizar.
Enquanto isso, sou isso. Que outra coisa posso ser? Sou como um livro fechado. O livro aberto tem um fio que a gente acompanha, um fluxo, um enredo. A gente vai lendo e seguindo. Um livro fechado tem tudo junto, sem tempo. O que, pela leitura, é passado, presente e futuro, pela não-leitura não é tempo, é espaço: não é mais história, é geografia. É quando a gente deixa de ser encanto, em ritmo, em música, e vira em mapa. Mulheres, em geral, não gostam de mapas. Homens, normalmente, lidam bem com eles. Mulheres são do tempo, homens são do espaço.
Bom é quando espaço e tempo, homem e mulher, mapa e encanto se encontram. É paixão, é amor, é sexo, é casamento, é união. Mas não está sendo. Minha presente condição é não estar. Sem desespero, sem alarme, sem cobrança. Não estou.
Minha prosa agora é cartográfica: mapeia sentidos. O que sinto? O que penso? Onde há aglomerados? Onde há desertos? Quais as elevações? Quais as depressões? De onde para onde flui a água das emoções? Que rotas precisam ser sinalizadas? Que estradas precisam ser criadas?
Quando o mapa estiver pronto, eu me ponho novamente em jogo, em movimento. Até lá, estou sem canto: sobrevoo, lá do alto, os muitos cantos da minha alma lá embaixo.
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CRÓNICA D’EL-REI DOM JOãO II
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Só faltou o Tevez…
Eu sou uma pessoa extremamente preconceituosa com relação a cinema que não seja o hollywoodiano. Principalmente o brasileiro. Mais ainda aos que tem o dedo (ou a mão inteira, às vezes o pé também) da Globo. Todos eles têm a “missão” de serem um filme-novela, com aquelas bobagens que só a Globo mostra. Mas ontem, deixando o meu preconceito com filmes fora do eixo comercial de lado, e, surpreendente, sem demonstrar resistência alguma, aceitei o pedido da Ana para acompanhar o primeiro filme da Mostra de Cinema Argentino, nos cinemas do Tivoli Shopping, em SBO/Americana. E, com nova surpresa, saí de lá com uma outra visão do cinema latino-americano. Continuo achando os filmes da Globo um lixo, mas confesso que prestarei mais atenção nos lançamentos “alternativos”.
Durante toda essa semana, sempre às 19h, um filme argentino estará em cartaz no Moviecom do Tivoli. Ontem, assisti ao longa “Crônica de uma fuga” (participou da Seleção Oficial do Festival de Cannes, ano passado) , com Rodrigo de la Serna (que bem lembrou a Núria, nos comentários do post anterior, interpretou Alberto Granado, o companheiro de Ernesto Guevara (pré-Che) em sua viagem pela América Latina em Diários de Motocicleta). Neste filme ele interpreta o goleiro Cláudio Tamburrini, detido (ou sequestrado) por engano em 1977 por agentes da ditadura argentina. No cativeiro, uma mansão nos arredores de Buenos Aires, em que é torturado durante meses, conhece outros presos, que juntos manterão viva a resistência contra a ditadura. Qualquer semelhança com o período da ditadura brasileira, definitivamente, não é nenhuma coincidência.Pena que não terei a chance de acompanhar os outros filmes da mostra, que, pelas sinopses, parecem ser tão bons quanto o primeiro. Mas fica a dica, pra quem puder. A programação tá aqui.
Aproveitando a passagem pelo shopping, decidi entrar nas Lojas Americanas. E a Ana, sempre ela, achou Trainspotting por R$9,99! Como diria o grande Armando Volta, da Escolinha do Professor Raimundo: “Por que comprá-lo? Por que não comprá-lo? Por que comprá-lo? Por que não comprá-lo? Comprei-ôô… E toca pintinho…é papo dez…Sambarilove!” E viva as Americanas…
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De: ZÉMANEL |
Enviado: 18/10/2009 21:38 |
Crónicas medievais, ou o auto da ginjinha
Rezam as lendas, que numa longínqua semana, vários cavaleiros da ordem do garfo e faca se sentaram á mesa, para um frugal repasto de fim de Julho. Gratos pelo cair da noite na feira, o ar quente tornou-se suportável. Longas foram as conversas da nobre cortes, onde um porco bravo com castanhas deliciou os convivas.
Correu célere o delicioso vinho tinto, servido em canecas de barro, escorrendo pelas gargantas sempre secas dos convivas. Serenos e alegres deliciaram-se e alegraram-se na noite. Terminada a farta refeição, logo os cavaleiro partiram em demanda. Buscavam no meio da multidão, algum artigo por entre as tendas dos artificies que pudessem levar para os seus solares.
Mas eis que esta pequena aventura, rapidamente se tornou numa epopeia digna de ser cantada por todas os seríes de jograis por este reino fora. Os quatro cavaleiros mais bravos deparam-se inesperadamente com uma tenda com um precioso tesouro escondido iria maravilhar os seus olhos e gargantas. Tratava-se de um nêctar, uma ambrósia divina servida em pequenos copos esculpidos em madeira chamada Ginjinha.
Tratava-se de Ginjinha de óbidos, com um maravilhoso paladar a canela, como que irresistível ao palato mais exigente. Depois as lendas começam a divergir. Conta-se que dois cavaleiro se entusiasmaram tanto que tiveram como montada, uma linda burra chamada Luana. Conta-se também que os escudeiros que traziam a Luana graciosamente ajudaram a que a deliciosa ginjinha começasse lentamente a desaparecer das pipas. Conta-se também que os cavaleiros ao se verem confrontados por uma cmara de reportagem e ao saberem que se tratava da TVI se recusaram determinantemente a serem entrevistados por tão medíocre meio de informação.
Longa foi a noite e ainda amanhecia, quando exaustos, os cavaleiros prometeram não esquecer aqueles momentos medievais.
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De: vylma |
Enviado: 19/10/2009 20:39 |
MARISA ROSA CABRAL
Mulher de Peito!
“Homem!
Pra que tê-lo, mas se não tê-lo como sabê-lo?” Deveria ter sido escrito
exatamente assim o famoso texto de O Profeta de Kahlil Gibran, sem
tirar nem pôr! Pensei, impaciente, pegando a bolsa sobre a mesa,
ignorando as indiretas de Túlio a respeito da consulta de Mariana para
as sete horas no centro da cidade. Vaidades! Vaidades! É só isso
que sabe dizer quando o assunto não lhe compete. Se fosse para uma
partida de futebol, estaria pronto há séculos.
“- Vaidade é
uma ova! Minha filha não vai crescer com complexos. Já basta ser pobre,
pois pra isso não tem médico que resolva.” Gritei exausta pegando
Mariana pela mão, saindo porta afora.
- Ele se quiser que nos
alcance! Falei sozinha comigo mesma, lembrando os cento e vinte três
dias, catorze horas e vinte e dois minutos de angústia esperando por
esta bendita consulta, que não deixaria perder pela preguiça de um
marido imprestável.
A carona de Cícero veio a calhar. Por
graças, chegamos bem adiantados. Deixei marido e filha acomodados
esperando, e fui me certificar das coisas por ali. Furtei
disfarçadamente um cafezinho na sala de exames e caminhei pelos
corredores respirando fundo a fim de amenizar a tensão.
Lembrei
carinhosamente de Gilda. Foi ela quem me instruiu e até indicou o
melhor cirurgião plástico da Santa Casa. Dr. Carlos Gusmão. O mesmo que
há cinco meses executou a bela plástica em seus patrimônios, pois era
assim que ela se referia aos próprios bustos avantajados. “Hoje
tombados e esquecidos, mas quando firmes fizeram muitas histórias por
aí!” Gargalhei sozinha esquecida de tudo ali.
De fato ficaram
lindos! Parece até, seios de moça solteira. Graças às mãos do doutor,
ainda permanecem aptos em fazer histórias por aí.
Tomara Deus
que o médico, tão competente, promova o mesmo milagre com o nariz
“chato” de Marianinha... Será que ele conseguiria mudar também o nimo
de marido imprestável? Pensei sorrindo dispensando o copinho plástico à
lixeira.
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De: vylma |
Enviado: 19/10/2009 20:41 |
CARMEM LÚCIA CARVALHO
Amor platônico
Era
uma cidadezinha do interior onde em sua praça, cartão postal do lugar,
ficaram guardadas muitas histórias de amor, que lhes davam um toque de
romantismo, com sua fonte luminosa que fazia bailar suas águas
furta-cores e sonhar os jovens apaixonados. O clima contribuía para que
ela fosse uma garota sonhadora. Nem bonita, nem feia, mas carismática,
de olhar meigo e profundo. Seu grande sonho: ser bailarina e dançar,um
dia,no Teatro Municipal .Dedicava grande parte de seu tempo ao ballet
clássico. Aos sábados e domingos, ia à praça ou ao cinema, com as
amigas. às vezes, ao clube, onde sempre aconteciam bailes
inesquecíveis.
Certo dia, um burburinho veio mudar a rotina da
cidade. Pelo menos a das meninas, que começaram a se enfeitar, a rir à
toa e a cochichar segredinhos, umas às outras. Para o azar dos meninos,
que carrancudos, não conseguiam disfarçar os ciúmes.
Chegara,
recentemente àquele lugar, um moço, mais precisamente um príncipe, que
era o que parecia. Não levou muito tempo e muitas garotas foram
flechadas pelo cupido. Para a menina bailarina, ele passou a ser um
sonho inatingível, impossível. Não poderia jamais competir com as
outras, lindas, bem vestidas e deliciosamente extrovertidas, realidade
bem diferente da dela, pela simplicidade de se vestir, de vida e pela
timidez nitidamente retratada em seu olhar. Sentia-se a própria gata
borralheira. Porém, na dança, conseguia extravasar, livrar-se desse seu
fardo. Nessa época preparava-se para dançar numa grande festa que
estava para acontecer no clube da cidade. Havia feito muitos
ensaios,sempre incansável, num pátio de sua escola, ao som de uma
vitrola.
Na véspera da festa, o último ensaio seria no clube e
com piano. La Violetera era a música. Subiu ao palco e viu surgir o
pianista. Nesse momento pensou que seu coração fosse sair pela boca.
Era ele, o príncipe! Ainda mais lindo, trazendo o céu no olhar. Ambos
se olharam.
Ela procurou conter sua emoção e ao ouvir os
primeiros acordes musicais, começou a dançar. E dançou, dançou como
nunca. Parecia levitar, alcançar as estrelas, roubar-lhes seu brilho,
perambular entre elas. Ao terminar ouviu aplausos. Ele a aplaudia em
pé. Ela fugiu do palco e dele, pois lágrimas de emoção e encantamento
rolaram por suas faces e não queria que ele as visse. Chegara o grande
dia! Caracterizada como verdadeira vendedora de flores, ela carregava
um cestinho dourado, repleto de buquês de violetas azuis e brancas. A
cortina se abriu e as luzes dos refletores fizeram dela uma figura
etérea, surreal. Ela olhou para seu amado, que lhe abriu um largo e
branco sorriso, talvez de admiração, lançando-lhe seu olhar mais azul
do que nunca. Era a glória!
Durante a coreografia, ela desceu
do palco e atirou para a platéia embevecida os buquês que carregava.
Havia reservado o último para o pianista, seu príncipe. Ao voltar ao
palco, colocou as violetas em cima do piano. E juntamente com elas,
todo o seu amor, num gesto que simbolizava entrega total, a quem
conseguisse perceber.
Encontraram-se casualmente, algumas
vezes, na praça e por várias vezes ele tentara falar-lhe... e ela fugia
sempre. Seu desejo era o de declarar o seu imenso amor por ele, gritar
ao mundo, deixar os borralhos, tornar-se Cinderela, mas sua timidez, o
rubor de suas faces a impediam.Nunca havia namorado ninguém.Mas
enamorara-se dele,perdidamente.
Numa tarde de domingo o viu ao
lado da fonte e da menina mais bonita da cidade. De mãos dadas,
trocando beijos e abraços. O céu desabou... O chão se abriu.De repente
se fez noite.E ela chorou copiosamente. Sentiu que o perdera, sem ao
menos nunca tê-lo tido, sem ao menos um único beijo. Sua primeira
desilusão amorosa. Sua primeira dor. Seu primeiro amor.
Fim de um sonho de adolescente. Soubera,
através de amigas, que ele havia ido embora do país, tocar piano no
exterior. Continuou sua vida, dedicando-se ainda mais a sua arte:o
ballet clássico. Porém, o vazio que seu primeiro amor (platônico) havia
deixado jamais fora preenchido.
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