ABSURDO
Jota Há
Para ser bem preciso, o relógio assinalava: 1:29’10" (uma hora, vinte e nove minutos e dez segundos), pleno início de mais um dia. àquela hora que as pessoas de bom senso já estão dormindo e sonhando com os anjos – nem sempre–, mas é isto que se costuma dizer. Eu, que de há muito, curto minha insônia, estava na frente da maldita telinha procurando de canal em canal, algo que me chamasse atenção e que me fizesse companhia em mais uma madrugada solitária que estava se iniciando. De controle remoto em punho, aquele pauzinho que alguém chama de poder, acabei nesse horário tropeçando por um canal exatamente quando, com aquela voz bem postada um locutor transmitia a seguinte notícia: "Cientistas americanos – só podia ser – afirmam que para cada cigarro consumido se perde 7 (sete) minutos de vida."
Chamou-me a atenção, e por aí começou mais aquela madrugada. Calculem vocês: eu fumei – hoje já não fumo – mais ou menos 40 anos - não vai aqui nenhuma apologia ao cigarro – Deus me livre –, o que equivale há 14.600 dias. Minha média como fumante era de um maço e meio de cigarros por dia. Para quem não sabe, cada maço contém 20 cigarros, portando, 30 cigarros dia. Calculem mais uma vez; e saberão que já fumei nada mais, nada menos que 438.000 cigarros, isto porque, no presente momento eu não estou fumando. Por conta própria, sem precisar de conselhos, consegui deixar o maldito vício.
Vamos fazer mais um simples calculo comigo e vamos esclarecer o absurdo.
Segundo tais "cientistas" eu, que nesta hora, 1:45’ do início de mais um dia estou lhes escrevendo – ainda sinto vontade de fumar –, já perdi de vida devido ao maldito vício do fumo a quantia de 3.206.000 minutos, que correspondem há 534.333 horas e alguns minutos que eu nem vou calcular, pois dá uma dízima periódica de 3, por intuição de calculo acho que são mais 20 minutos, correspondem por sua vez há 22.263 dias e vinte e uma horas, que também correspondem há 60 anos, mais 363 dias, se calcularmos que em quase 61 anos vamos ter 15 anos bissextos, portanto mais 15 dias, arredondando por baixo, eu já perdi, por culpa dos cigarros, segundo tais cientistas americanos, a ninharia de 61 anos da minha preciosa vida. A guisa de esclarecimentos: comecei a fumar aos 16 anos, mais 40 de fumante são 56 anos.
Deduz-se então que destes preciosos 56 eu perdi 61 anos de vida devido aos cigarros. Portanto, eu ainda não nasci e se acaso nascesse hoje, já estaria devendo os primeiros cinco anos de vida que os cigarros já devoraram. Com um calculo bastante simplista – mas sem perder o enunciado dos cientistas – chegaremos à outra absurda conclusão: 61 + 56 = 117 anos, como eu ainda não morri, pois estou aqui escrevendo e posso segundo as probabilidades viver mais uns 20 anos, eu iria ao todo aos 137 anos. Ora, como à afirmação é categórica que: para cada cigarro consumido se perde 7 minutos de vida. Basta apenas à abstinência do cigarro, e tais cientistas, já fazem jus ao prêmio Nobel da Longevidade. É mole? 137 anos bem vividos. Só não fumar.
Mas tudo isto, é bem feito, quem me manda querer ser diferente, lugar de curtir insônia é na cama contando carneirinhos ou coisas que equivalha e não assistindo televisão até à uma hora dessas, bem feito! Bem feito! Bem feito!…Apenas mais uma curiosidade, nada com relação aos respeitáveis cientistas americanos.
O cigarro que eu fumava, mede 8,5 cm. se já fumei 438.000, vejamos: 438.000 x 8,5 = 3.723.000 centímetros de cigarros fumados, ou seja, 37.230 metros de cigarros ou 37 quilômetros de cigarros bem fumados é quase uma maratona.