Amnésia
A amnésia é a incapacidade parcial ou total de recordar experiências recentes ou remotas.
As causas da amnésia só se conhecem em parte. Um traumatismo cerebral pode causar uma perda de memória de acontecimentos ocorridos imediatamente antes da lesão (amnésia retrógrada) ou imediatamente depois (amnésia pós-traumática). De acordo com a gravidade da lesão, a maioria dos casos de amnésia tem uma duração de alguns minutos ou de horas e desaparece sem tratamento. Mas nos traumatismos cerebrais graves a amnésia pode ser permanente.
A aprendizagem requer memória. As memórias adquiridas durante a infncia conservam-se com mais intensidade do que as adquiridas durante a idade adulta, talvez porque o cérebro jovem possui uma faculdade especial para a aprendizagem. Os mecanismos do cérebro para receber informação e evocá-la a partir da memória estão localizados, principalmente, nos lobos occipitais, parietais e temporais. As emoções que têm origem a partir do sistema límbico do cérebro podem influenciar o armazenamento e a recordação da memória. O sistema límbico está estreitamente ligado às áreas responsáveis pelos estados mentais de perspicácia e do conhecimento. Dado que a memória implica muitas funções entrelaçadas, uma perda da mesma pode ocorrer como consequência de praticamente qualquer lesão cerebral.
A amnésia global transitória consiste numa crise súbita de perda de memória grave e confusão de tempo, de lugar e de pessoas. Muitas pessoas com amnésia global transitória têm somente uma crise durante a sua vida, enquanto outras podem sofrer crises recidivantes. Os ataques podem durar de apenas 3 minutos até 12 horas. Provavelmente a causa reside no facto de as pequenas artérias do cérebro estarem obstruídas de forma intermitente devido à aterosclerose. Nas pessoas jovens, as dores de cabeça por uma crise de enxaqueca, que transitoriamente pode reduzir o afluxo de sangue ao cérebro, também podem dar lugar a esta perturbação. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou de tranquilizantes, como os barbitúricos e as benzodiazepinas, pode também causar uma crise de curta duração. A amnésia pode levar a uma desorientação total e bloquear a recordação dos acontecimentos que tiveram lugar apenas há alguns anos. Depois de uma crise, frequentemente a confusão cede com rapidez e o habitual é que haja uma recuperação total.
Uma forma de amnésia pouco habitual, conhecida como síndroma de Wernicke-Korsakoff, pode afectar os alcoólicos e outras pessoas com desnutrição. A síndroma consiste na coexistência de duas perturbações: um estado confusional agudo (um tipo de encefalopatia) e uma amnésia de duração mais longa. Ambas as perturbações podem produzir-se como consequência de uma disfunção cerebral causada pelo défice de tiamina (vitamina B1). Quando ocorre uma ingestão excessiva de álcool e não se consomem alimentos que contenham tiamina, diminui o fornecimento desta vitamina ao cérebro. Por outro lado, a ingestão de grande quantidade de líquidos (ou se eles se receberam por via endovenosa em virtude de uma cirurgia) pode também provocar a encefalopatia de Wernicke numa pessoa que anteriormente tinha uma desnutrição acentuada.
As pessoas com encefalopatia aguda de Wernicke tendem a gaguejar, apresentam problemas nos olhos (como paralisia dos movimentos oculares, visão dupla ou nistagmo), confusão e sonolência. A perda de memória é muito grave. Estas alterações corrigem-se geralmente administrando tiamina por via endovenosa. Se não se tratar, a encefalopatia aguda de Wernicke pode ser mortal. Por esta razão, é habitual que o tratamento com tiamina se inicie de imediato se um alcoólico manifestar sintomas neurológicos pouco frequentes ou um estado de confusão.
A amnésia de Korsakoff acompanha a encefalopatia aguda de Wernicke e pode ser permanente se aparecer como consequência de ataques repetidos de encefalopatia ou então da abstinência alcoólica. A perda grave de memória é acompanhada, às vezes, por agitação e delírio. Na amnésia crónica de Korsakoff conserva-se a memória imediata, mas perde-se a memória para factos recentes ou relativamente distantes. No entanto, às vezes, conserva-se a memória dos factos remotos. As pessoas com amnésia crónica de Korsakoff podem ser capazes de se relacionar socialmente e de manter uma conversa, apesar de não conseguirem recordar nada do que aconteceu nos dias precedentes, meses, anos ou, inclusive, minutos antes. Confundidos por esta falta de memória, tendem a inventar coisas em vez de admitir que não as podem recordar.
Embora a amnésia de Korsakoff habitualmente se produza devido a um défice de tiamina, pode também desenvolver-se um padrão similar de amnésia depois de um grave traumatismo craniano, uma paragem cardíaca ou uma encefalite aguda. Nos alcoólicos, a administração de tiamina corrige a encefalopatia de Wernicke, mas nem sempre se consegue o desaparecimento da amnésia de Korsakoff. Há casos em que ambas as perturbações podem desaparecer por si só se se suspender a ingestão de álcool e se instaurar o tratamento de qualquer outro processo que possa contribuir para o seu desenvolvimento.
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