Os profissionais de saúde podem ajudar a resolver o problema da violência contra as mulheres aprendendo a fazer perguntas apropriadas sobre o assunto, aprendendo a melhor detectar os sinais que identificam as vítimas da violência doméstica ou do abuso sexual, e ajudando as mulheres a se protegerem criando um plano de proteção pessoal. Todos podem fazer algo para estimular os relacionamentos não violentos.
Será que nós, que trabalhamos na área de saúde, somos parte do problema? (Veja a figura 1)
Ou somos parte da solução? (Veja a figura 2)
Como fazer perguntas sobre o abuso
Um dia depois de ler um folheto informativo sobre a violência doméstica, o ex-presidente da Sociedade Americana de Ginecologistas e Obstetras, Richard Jones, perguntou a uma de suas antigas pacientes se seu marido já a havia espancado alguma vez. Para seu assombro, ela respondeu: “Doutor, o senhor não imagina há quanto tempo eu esperava que me fizesse esta pergunta.” (242)
Todo profissional de saúde pode dar sua contribuição “fazendo a pergunta”. Agora, o Dr. Jones inquire todas as suas pacientes sobre a questão da violência doméstica e estimula seus alunos a fazerem o mesmo. O primeiro passo é pensar em como abordar a questão e, depois, desenvolver uma forma padrão de fazer a pergunta às clientes. Apresentamos a seguir algumas opções:
Como introduzir o assunto
“Antes de discutirmos as opções de anticoncepcionais, talvez fosse bom eu saber um pouco mais sobre o relacionamento que você tem com seu parceiro.”
“Como a violência é agora uma ocorrência comum na vida da mulher, passamos a consultar todas as clientes com relação ao abuso.”
“Não sei se você tem este tipo de problema, mas muitas das minhas clientes estão tendo que lidar com uma situação de tensão doméstica. Algumas têm muito medo ou não se sentem à vontade para abordar este tema, então resolvi eu mesmo abordá-lo como parte de minha rotina.”
Como fazer perguntas indiretas
“Seus sintomas podem estar relacionados ao estresse. Você e seu parceiro brigam freqüentemente? Já se feriu alguma vez em uma dessas brigas?”
“Seu marido consome álcool ou drogas em excesso ou joga muito? Isto afeta o comportamento dele com você e os filhos?”
“Para decidir que método anticoncepcional é o mais adequado para você, um fator muito importante é saber se você tem condições de prever ou não quando terá relações sexuais. De forma geral, você acha que tem controle sobre quando deseja ter relações sexuais ou não? Pode ocorrer que seu parceiro a force, de repente, a ter relações sexuais? “
“Ocorre, às vezes, que seu parceiro quer ter relações sexuais e você não quer? O que acontece nesses casos?”
Como fazer perguntas diretas
“Como você sabe, hoje em dia é comum a mulher sofrer abuso emocional, físico ou sexual em algum momento da vida, o que pode afetar sua saúde muitos anos depois. Isto já aconteceu alguma vez a você?”
“às vezes, vejo pessoas que apresentam ferimentos como o seu porque foram espancadas. Foi isto o que aconteceu com você? ”
“Seu parceiro ou ex-parceiro já bateu em você alguma vez, ou a feriu de alguma outra forma?”
“Seu parceiro já forçou você a ter relações sexuais quando você não queria?”
“Você teve alguma experiência sexual perturbadora quando era criança?”
Perguntas para uso em históricos clínicos ou fichas de registro de pacientes
“Você participa ou já participou de um relacionamento que lhe provocou ferimentos físicos ou no qual foi ameaçada ou amedrontada?”
“Você já foi estuprada ou forçada a participar de uma atividade sexual contra sua vontade?”
“Quando criança, você participou de alguma experiência sexual da qual não queria participar?”
Fontes: Center for Health and Gender Equity e Family Violence Prevention Fund, 1988 (460)
Pessoal da área de saúde: Esteja Alerta ás "Bandeiras Vermelhas"!
O melhor modo de descobrir se a cliente foi vítima de abuso é fazer perguntas sobre o assunto. Vários tipos de ferimentos, condições de saúde e comportamentos das clientes podem gerar suspeitas dos profissionais de saúde quanto à possibilidade de violência doméstica ou abuso sexual. Se notarem estes sinais, ou “bandeiras vermelhas”, os profissionais de saúde não podem deixar de perguntar às clientes sobre possíveis abusos, sempre procurando ser atencioso e respeitoso da privacidade da cliente.
Violência Doméstica
- Queixas crônicas, porém vagas, da cliente, sem nenhuma causa física óbvia, - Ferimentos que não parecem corresponder à explicação de como ocorreram, - Parceiros que observam ou controlam os movimentos da mulher com muita insistência ou que não se afastam do lado da mulher, - Ferimentos físicos durante a gravidez, - Demora para iniciar o atendimento pré-natal, - Histórico de tentativa ou tendência ao suicídio, - Demora em buscar tratamento para ferimentos sofridos, - Infecção do trato urinário, - Síndrome da irritação crônica do intestino, - Dor pélvica crônica.
Abuso Sexual
- Gravidez de mulheres solteiras com menos de 14 anos de idade, - Infecções sexualmente transmitidas a crianças ou meninas, - Prurido ou sangramento vaginal, - Evacuação dolorosa ou dor ao urinar, - Dor pélvica ou abdominal, - Problemas sexuais, perda do prazer, - Vaginismo (espasmos de músculos ao redor da abertura da vagina), - Ansiedade, depressão, comportamento auto-destrutivo, - Problemas do sono, - Histórico de sintomas físicos crônicos inexplicáveis, - Dificuldade ou recusa em fazer exames pélvicos, - Problemas com álcool e drogas, - “Representações” sexuais, - Obesidade aguda.
Fontes: Center for Health and Gender Equity e Family Violence Prevention Fund, 1988 (460)
(Veja a figura 3)
Como preparar um plano de proteção
Os profissionais de saúde podem ajudar as mulheres a se protegerem da violência doméstica, mesmo que não estejam ainda prontas para abandonar o lar ou de disponham a informar às autoridades sobre os parceiros abusivos. Quando as pacientes têm um plano de proteção pessoal, elas têm mais condições de lidar com as situações violentas. Os profissionais de saúde podem discutir os seguintes pontos com cada mulher, ajudando-a a preparar seu próprio plano de proteção pessoal:
- Identifique um ou mais vizinhos a quem você pode informar sobre a situação de violência que enfrenta em sua casa, pedindo-lhes que peçam ajuda se ouvirem algum distúrbio em sua casa. - Se for impossível evitar uma discussão com seu parceiro, procure mantê-la em um cômodo ou área da casa de onde você possa sair facilmente, se as coisas piorarem. Afaste-se de qualquer lugar da casa onde possam haver armas à disposição dele. - Pratique como fugir de sua casa de forma segura. Identifique as portas, janelas, elevadores ou escadarias que você deveria usar em caso de emergência. - Mantenha sempre uma sacola pronta com um jogo extra de chaves, dinheiro, documentos importantes e roupas. Deixe esta sacola na casa de um parente ou amigo, caso você tenha que abandonar sua casa às pressas. - Escolha uma senha para sinalizar aos seus filhos, familiares, amigos e vizinhos se estiver precisando de ajuda de emergência ou se quiser que eles liguem para a polícia. - Decida para onde irá se decidir abandonar o lar e tenha um plano de como chegar nesse lugar (mesmo que ache que não precisará fugir). - Use seus instintos e discernimento. Se a situação for perigosa, talvez seja melhor concordar com as exigências do parceiro para acalmá-lo. Você tem o direito de se proteger e aos seus filhos. - Lembre-se: você não merece ser espancada ou ameaçada.
Fonte: Adaptado de Buel 1995 (49).
(Veja a figura 4)
Como estimular relacionamentos não violentos onde quer que atue
Todos podem fazer alguma coisa para promover relacionamentos não violentos.
Os profissionais da área de saúde podem:
- Manter-se informados sobre o abuso físico, sexual e emocional e discutir abertamente seus próprios preconceitos, medos e opiniões tendenciosas. - Oferecer um atendimento às vítimas da violência que lhes ofereça apoio e não crítica. - Inquirir as clientes sobre o abuso de forma simpática e delicada.
Os líderes dos programas de saúde reprodutiva podem:
- Estabelecer diretrizes e procedimentos para perguntar às clientes sobre o abuso. - Estabelecer protocolos que indiquem claramente o atendimento e/ou encaminhamento apropriado às vítimas de abuso. - Promover o acesso à contracepção de emergência. - Oferecer o uso das instalações às mulheres que desejam organizar grupos de suporte e fazer reuniões.
Os líderes comunitários e religiosos podem:
- Pedir a compreensão, compaixão e preocupação pelas vítimas de violência. - Questionar as interpretações religiosas que justificam a violência e o abuso das mulheres. - Colocar as igrejas e casas de oração disponíveis como refúgios temporários para as mulheres em crise. - Oferecer orientação emocional e espiritual para as vítimas do abuso. - Apoiar os esforços das vítimas do abuso para abandonar relacionamentos que as colocam em risco. - Incluir discussões sobre relacionamentos saudáveis e alternativas à violência nos programas de educação religiosa.
Os meios de comunicação de massa podem:
- Respeitar a privacidade das vítimas de estupro não publicando seus nomes sem sua permissão. - Evitar sensacionalizar os casos de violência contra as mulheres; colocar os eventos em seu próprio contexto e usálos como uma oportunidade para informar e educar. - Oferecer a transmissão ou publicação gratuita de mensagens sobre a violência de gênero e anúncios dos serviços relacionados que estão disponíveis. - Reduzir a veiculação de violência pela televisão. - Desenvolver programas de rádio e televisão mais responsáveis socialmente, sobretudo os que mostrem relacionamentos igualitários e não violentos entre homens e mulheres. - Criar programas que gerem um diálogo público sobre a coerção sexual, o estupro e o abuso físico.
Os pais podem:
- Evitar as brigas ou discussões na frente dos filhos. - Ensinar os filhos a respeitar o próximo e a si mesmos. - Estimular a saúde, segurança e o desenvolvimento intelectual de suas filhas e filhos e a sua auto-estima. - Evitar espancar os filhos e usar, ao invés, formas não violentas de disciplina. - Ensinar aos filhos formas não violentas para resolver conflitos. - Discutir com os filhos as questões do sexo, amor e relações pessoais; enfatizar que o sexo deve ser sempre consensual.
Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA
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