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SENSUALIDADES: Obstáculos ao combate da violência
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De: NATY-NATY (Mensaje original) |
Enviado: 10/11/2009 18:47 |
Obstáculos ao combate da violência
Por que os profissionais e serviços de saúde tem sido lentos no combate à violência contra as mulheres? Os médicos geralmente pensam que são as pacientes e não eles próprios o principal obstáculo a um melhor atendimento (139). Mas o fato é que os profissionais de saúde são geralmente parte do problema.
Existe uma rede complexa de considerações profissionais, culturais, pessoais e institucionais que afetam a habilidade e vontade do pessoal de saúde de enfrentar a violência doméstica, como mostram alguns estudos realizados na África, Ásia, América Latina e EUA (86, 143, 252, 361, 374, 428, 465). Entre as barreiras mais fortes à adoção de respostas eficazes ao problema estão a falta de competência técnica, estereótipos culturais e atitudes sociais negativas dos próprios profissionais e auxiliares de saúde, além das restrições institucionais.
Falta de competência técnica e recursos. Muitas vezes, os profissionais e auxiliares de saúde deixam de perguntar às mulheres sobre sua experiência de violência doméstica porque sentem-se despreparados para atender às necessidades das vítimas. Alguns consideram a violência doméstica como um assunto de cunho privado e temem perturbar ou ofender as clientes fazendo perguntas sobre este assunto. Outros pensam não dispor do tempo ou dos recursos necessários para prestar ajuda (86, 374, 428).
Os profissionais de saúde que recebem treinamento especializado sobre a violência doméstica ficam mais à vontade para inquirir sobre o assunto e sentem-se mais competentes para tratar das necessidades das vítimas de abuso (309, 434). Apesar de algumas faculdades e cursos profissionalizantes estarem se esforçando para incluir o tema da violência doméstica em seus currículos-um exemplo é o das escolas de enfermagem nos EUA (476)-a maioria dos cursos profissionais do mundo inteiro não tratam da violência doméstica ou o fazem de forma muito reduzida (5, 321, 353). Por exemplo, um estudo dos EUA mostrou que dois terços dos profissionais de saúde nunca tinham recebido qualquer treinamento sobre violência doméstica (434). No México e Zimbábue, profissionais e serviços de saúde informaram que seu treinamento médico era mais um obstáculo do que ajuda para tratar da violência doméstica, porque preparava-os para tratar somente dos sintomas físicos da paciente, sem considerar a pessoa como um todo (143, 465).
Estereótipos culturais e atitudes sociais negativas. Os profissionais de saúde geralmente compartilham os mesmos valores culturais e atitudes sociais com relação ao abuso que predominam na sociedade como um todo. Os profissionais podem até achar que algumas mulheres merecem o tratamento abusivo ou que o dever da esposa é estar sempre disponível quando o marido desejar ter relações sexuais (252). Também assumem que a violência doméstica e a agressão sexual só acontecem entre mulheres pobres ou entre mulheres de certas classes étnicas ou religiosas (86, 252). Tais atitudes acabam impedindo o tratamento compassivo e atencioso de que as mulheres necessitam depois de sofrerem abuso doméstico.
Por exemplo, um estudo da África do Sul observou que as enfermeiras geralmente consideravam a violência doméstica como um sério problema para as mulheres mas, ao mesmo tempo, achavam que as próprias mulheres assumiam atitudes e se comportavam de formas que poderiam provocar a violência, inclusive o estupro (252). No caso dos enfermeiros, estes desfiaram uma longa lista de razões que justificariam o espancamento de uma esposa, entre elas, se a esposa desobedecer ou desrespeitar o marido ou se ela descuidar-se de suas obrigações de cuidar da casa e dos filhos. Eles não consideravam como estupro o homem forçar sua esposa à atividade sexual e afirmaram que a prática do espancamento era tanto uma forma de disciplina como uma expressão de amor ou perdão (252).
Mesmo em culturas onde a violência do parceiro é considerada inaceitável, as atitudes sociais negativas às mulheres espancadas já estão embutidas muito profundamente e são difíceis de superar. Estas convicções podem influenciar a forma em que um profissional da área de saúde avalia a sinceridade de uma mulher ou a sua responsabilidade pela situação que atravessa. Por exemplo, nos EUA, muitos clínicos revelaram sua atitude parcial ao fazer declarações tais como “uma mulher espancada vai sempre lhe dizer o que você está querendo ouvir” e “é difícil lidar com o tipo de mulher que se envolve em situações de violência; achamos difícil aceitar as mulheres que permanecem em tais situações” (86).
Alguns clínicos do sexo masculino podem hesitam em aceitar o relato de uma mulher sobre uma situação de violência porque se identificam com o agressor. Como disse um médico nos EUA: “ Talvez a descrição da agressão me incomode, porque eu mesmo já senti instinto de agressão deste tipo” (374). Mesmo as profissionais do sexo feminino que já passaram elas mesmas por situações de abuso poderão ter dificuldade em discutir a violência com suas clientes. Alguns estudos revelaram que até um terço das profissionais da área de saúde tinham experimentado a violência doméstica (252, 309, 370, 428).
Restrições institucionais. Geralmente, os clínicos que trabalham com vítimas da violência doméstica sentem que as instituições onde trabalham e que seus colegas valorizam menos seu trabalho do que outros tipos de intervenções clínicas (86). A maioria dos programas criados para tratar do abuso em instituições de saúde resultaram do trabalho e dedicação de alguns indivíduos, mas raramente estas iniciativas acabam se transformando em diretrizes institucionais. Quando estes líderes deixam as instituições onde trabalham, muitos programas perdem seu impulso e até acabam (86, 298).
O medo de obrigações legais em processos impede muitos profissionais de saúde de fazer mais pelas vítimas do abuso. Em alguns países, os profissionais de saúde podem às vezes recusar-se a fazer exames em mulheres vítimas de estupro ou outros atos de violência para não ter mais tarde que depor em um tribunal (221, 347, 465). Outros países aprovaram leis que exigem que os profissionais de saúde informem às autoridades os casos de abuso infantil e, às vezes, de abuso de mulheres adultas. No caso das vítimas adultas, estas leis são geralmente contraproducentes porque retiram da mulher agredida a possibilidade de assumir o controle da situação, colocam sua segurança em risco e tornam menos provável que a mulher busque ajuda por temer que, ao fazer isto, seu parceiro seja colocado na prisão (7, 78, 221, 236, 461).
As necessidades das mulheres são freqüentemente ignoradas devido às lacunas burocráticas ou falta de coordenação entre os sistemas judiciário e de saúde. Em alguns países, os médicos não podem tratar as mulheres que foram estupradas ou espancadas sem a autorização dos tribunais ou da polícia. Em outros, somente os médicos forenses designados pelos tribunais podem examinar as vítimas de crimes (461). No Zimbábue, por exemplo, uma mulher estuprada pode ter que esperar três dias ou mais para uma consulta com um médico oficial do governo. Estes são os únicos médicos autorizados a documentar casos de estupro ou agressão. Quando a mulher finalmente consegue a consulta, pode não haver mais nenhuma evidência física do crime (465). Exigências semelhantes existem em outros lugares, inclusive nos países da América Central, na Índia e no Peru (202, 220, 361).
A relutncia das mulheres em denunciar a violência. Muitas mulheres não dão voluntariamente a informação sobre atos de violência, a não ser que sejam inquiridas diretamente. Por exemplo, a pesquisa DHS de 1998 na Nicarágua mostrou que mais de um terço das mulheres que tinham sofrido abuso de seus parceiros nunca tinham revelado tais ocorrências a ninguém. Embora 57% das mulheres tinham sofrido ferimentos, só 13% receberam atendimento médico em algum momento. Mesmo assim, a maioria das mulheres não revelou o motivo dos ferimentos. Somente 7% das mulheres pesquisadas disseram ter buscado, em algum momento, a ajuda de um centro de saúde ou hospital para seus problemas de violência (386).
A vergonha foi uma das principais razões dadas pelas mulheres da Nicarágua para não denunciar a violência. Como explicou uma delas: “Pensei que eram poucas as mulheres que viviam nestas condições e, também, tinha vergonha que alguém descobrisse como ele me maltrata desta maneira.” (131) Muitas mulheres não dizem nada sobre a violência porque temem que sejam consideradas as culpadas. Uma mulher dos EUA informou ao pessoal da pesquisa que teve que ir ao médico várias vezes para tratar dos ferimentos mas, mesmo assim, conseguiu esconder o motivo dos ferimentos durante nove anos (379).
O medo de represálias por parte de seus agressores é outra razão pela qual muitas mulheres permanecem em silêncio. Como disse uma mulher nos EUA: “Sei que se eu contasse o que de fato aconteceu, eles chamariam a polícia e aí eu teria que apresentar queixa, mas eles não estariam lá 24horas ao meu lado para me proteger contra este maníaco.” (379)
Em grande parte do mundo as mulheres não conseguem um atendimento de saúde sem o conhecimento ou permissão dos seus cônjuges ou de outros familiares do sexo masculino (333, 386). As mulheres que vivem em condições de abuso doméstico geralmente estão sujeitas a controles rígidos de sua mobilidade e os maridos abusivos podem recorrer a medidas extremas para impedir que elas obtenham ajuda. É comum os homens não permitirem que suas esposas visitem os centros de saúde desacompanhadas, especialmente se elas buscarem tratamento por ferimentos resultantes da violência doméstica (293). É extremamente improvável que uma mulher revele a ocorrência de abuso doméstico a um profissional de saúde, se ela estiver na presença do próprio agressor.
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