A costa oeste de África
Em 1434 Gil Eanes contornou o Cabo Bojador, dissipando o terror que este promontório inspirava. No ano seguinte, navegando com Afonso Gonçalves Baldaia descobriram Angra de Ruivos e este último chegou ao Rio de Ouro, no Saara Ocidental. Entretanto, após a derrota portuguesa de Tnger em 1437, os portugueses adiaram o projecto de conquistar Marrocos no Norte de África.[5]
Já na regência de D. Afonso V, em 1441 Nuno Tristão chegou ao Cabo Branco. Juntamente com Antão Gonçalves fizeram incursões ao Rio do Ouro, de onde foi obtido ouro em pó. A partir de então ficou generalizada a convicção de que essa área da costa africana poderia, independentemente de novos avanços, sustentar uma actividade comercial capaz de responder às necessidades de numerário que, em Portugal, como em toda a Europa, se fazia sentir. Em 1456, Diogo Gomes descobre Cabo Verde e segue-se o povoamento das ilhas ainda no século XV.[6]
Em 1455 é emitida a bula do Papa Nicolau V declarando que as terras e mares descobertos são pertença dos reis de Portugal. No ano seguinte chegava a Bristol o primeiro carregamento de açúcar provindo da ilha da Madeira. Em 1460, Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Nesse ano faleceu o Infante D. Henrique. Após a sua morte, a missão é atribuída temporariamente ao seu sobrinho, o Infante D. Fernando (filho de D.Duarte).
Portulano de Pedro Reinel mostrando as ilhas e a costa africana conhecida em 1485
Em 1469, Afonso V, Rei de Portugal dadas as poucas receitas da exploração, concedeu o monopólio do comércio no Golfo da Guiné ao mercador de Lisboa Fernão Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis[7]. Segundo João de Barros, ficava aquele «honrado cidadão de Lisboa» com a obrigação de continuar as explorações, pois o exclusivo era garantido com «condição que em cada um destes xinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu arrendamento desse quinhentas léguas descobertas[8]». Este avanço, do qual não há grandes pormenores, teria começado a partir da Serra Leoa, onde haviam já chegado Pedro Sintra e Soeiro da Costa.
Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro Escobar, Lopo Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do contratado. Com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul. João de Santarém e Pêro Escobar exploraram a costa setentrional do Golfo da Guiné, atingindo a «minha de ouro» de Sama (actualmente Sama Bay), a costa da Mina, a de Benin, a do Calabar e a do Gabão e as ilhas de São Tomé e Príncipe e de Ano Bom,[9] Quando as expedições chegaram a Elmina na Costa do Ouro em 1471, [10], encontraram um florescente comércio de ouro.
Seguiram-se outros navegadores como Soeiro da Costa (que deu nome ao rio Soeiro), Fernão do Pó (que descobriu a ilha Formosa (em África), que ficou conhecida posteriormente pelo seu nome), João Vaz Corte-Real, que em 1472 descobriu a Terra Nova, e em 1473 Lopes Gonçalves (cujo nome se transmitiu ao cabo Lope, hoje conhecido por Cabo Lopez) ultrapassou o Equador.
Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João II, com apenas dezanove anos, a organização das explorações por terras africanas. Mais tarde, em 1481, o rei confirmou a missão do príncipe em novo diploma: «...sabemos certo que ele dá, per si, e per seus oficiais, mui boa ordem à navegação destes trautos e os governa mui bem.». Assim que lhe foi entregue a política de expansão ultramarina, D. João organizou a primeira viagem de Diogo Cão. Este fez o reconhecimento de toda a costa até à região do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão levou a cabo uma segunda viagem até à Serra Parda. Há notícias de carregamentos de açúcar da Madeira serem entregues em Rouen (1473) e Dieppe (1479).
Em 1479, buscando proteger o investimento resultante das descobertas, Portugal negociou com Castela o Tratado das Alcáçovas-Toledo, estabelecendo a paz e concertando a política externa Atlntica dos dois reinos rivais: Portugal obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam. O tratado dividia as terras descobertas e a descobrir por um paralelo na altura das Canárias, dividindo o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Preservavam-se, desse modo, os interesses de ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois ciclos da expansão: o chamado ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa garantia o seu progresso para o sul e o Oriente, contornando a costa africana (o chamado "périplo africano"); e o que se denominou posteriormente de ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano Atlntico, para oeste até ao Novo Mundo.
Em 1482 dá-se a construção da Fortaleza de São Jorge da Mina e, no ano seguinte, Diogo Cão chega ao rio Zaire.
A Fortaleza de São Jorge da Mina e a cidade foram construídos em 1482 em redor da indústria do ouro.[11] Com os lucros deste comércio, Fernão Gomes auxiliou o monarca na conquista de Arzila, Alcácer Ceguer e Tnger. Além da aquisição do ouro e malagueta, o comércio esclavagista oferecia boas perspectivas de lucro.[12]