O intricado dos fios em prata, minuciosamente soldados, não deixam ao engano os 50 anos de trabalho em
filigrana do minhoto Carlos Ribeiro. Tudo começou quando uma amigo da numerosa família de Carlos Ribeiro convenceu o seu pai a deixá-lo ser aprendiz na arte da filigrana. Recém-chegado à oficina, Carlos Ribeiro aprendeu a fundir a prata e «puxar o fio» para talhar as peças. Como inspiração tinha algumas fotografias. Outras vezes o ourives recorria a formas geométrica intrincadas que lhe nasciam da imaginação. Crescia o seu afecto pela arte e um percurso com cinco décadas. Hoje, olhamos para o trabalho minucioso com regalo para os olhos; um primor nos pormenores e na fragilidade aparente. Carlos Ribeiro expõe os tradicionais brincos do Minho e algumas peças onde introduz inovações como a prata oxidada, mais escura, e a prata dourada.
O orgulho de Carlos Ribeiro centra-se no presépio em filigrana (três figuras em prata com rostos imprecisos) feito pelas mãos do seu filho, também de nome Carlos Ribeiro. Este seguiu as pisadas do pai desde os tempos de escola. Após deixar a faculdade dedicou-se de corpo e alma à filigrana em prata. «O filho cria estas novidades e eu fico-me pelo que é mais tradicional», refere o artesão, explicando como é dividido o trabalho na sua oficina em Custóias, concelho de Matosinhos. As obras, essas ficam expostas na loja à espera de comprador. «As peças custam entre cinco a 500 euros, o preço depende da elaboração, da pesagem», explica o ourives.
Sobre o momento actual para esta arte e negócio diz-nos Carlos Ribeiro: «a filigrana, regra geral, tem pouca saída. Antigamente trabalhava-se muito com a exportação mas agora esse mercado também está complicado». Carlos suaviza: «contrariamente ao que tem acontecido, este ano a filigrana tem saído mais». O artesão refere a apreensão dos ourives devido ao aumento dos assaltos. Em relação ao futuro do ofício Carlos Ribeiro fala de uma escola em Gondomar, com uma componente ligada à filigrana, para jovens com apetência para a arte de ourivesaria. Uma arte complexa à qual muitos jovens fogem «porque é muito trabalhosa e minuciosa. Ultimamente fui, contudo, informado, que têm aparecido alguns jovens interessados pela saída que o produto tem tido», explica.
As feiras representam para o ourives uma fonte de rendimento e um meio de apresentar o seu trabalho ao longo do país. Carlos Ribeiro lamenta, no entanto, a invasão de falta de qualidade que invade as feiras de artesanato e afugenta os compradores. Para superar estas adversidades e rematar a conversa o ourives afirma com um sorriso que «o artesão tem de inovar como em tudo na vida».