ERA UMA VEZ UMA FLOR
Nasceu ali a beira da encosta alta que antecede o mar.
Seus primeiros momentos foram para o sol! Achou maravilhoso o calor agradável que ele emanava e abriu as pétalas com alegria!
Sentiu uma brisa suave balançando suas folhas e percebeu o vento!
Notou o céu azul com algumas nuvens brancas e sorriu. Agradecia ao Criador por tê-la colocado ali naquela duna de areias brancas com outras florezinhas e rala vegetação verde.
Não se incomodou com o pouco caso das outras flores. - Elas se acostumarão comigo – Pensava rindo de felicidade, por que era muito bom estar vivendo em um mundo tão agradável.
A noite chegou e outro dia amanheceu belo!
A flor extasiava-se a cada nascer do sol! Existiam coisas muito bonitas no mundo! Pensava e cantarolava balançando ao vento matinal.
Foi então que olhando fixamente para baixo viu o mar!
Sem fala contemplou a imensidão azul esverdeada dele! Não conhecia o mar.
Perguntou as outras flores o que era aquela imensidão verde azulada ou azul esverdeada, não sabia muito bem! Perguntou o que era. As flores responderam que era o mar.
Ficou olhando o vai e vem das águas que chegavam até uma faixa dourada que descobriu logo depois ser a areia.
Sentiu uma ponta de inveja da areia! Ela era tão dourada, tão bela, mansa esperando os carinhos do mar...
Foi então que a flor entendeu o que era amor. Havia ouvido outras plantas comentando que existia esse sentimento arrebatado e forte, cheio de ardor e paz... Um sentimento impar que atingia o ser vivo com força e paixão.
A flor olhava para o mar e agora morria de ciúmes da areia.
Compreendeu que a areia era a amante do mar! Ele vinha e voltava se entregando a ela despudoradamente a luz do sol ou da lua pálida.
Perdeu o encanto por tudo ao seu redor. Não gostava da noite que a impedia de ver em meio à escuridão. Esperava impaciente o dia que mostrava a ela em todo esplendor o gigante sem fim.
Cantava as musica mais bonitas que conhecia e pedia ao vento que as entregasse ao mar.
Gritava que o amava e esticava seu caule fino quanto podia na esperança de que ele pudesse vê-la. Entretanto o mar só possuía olhos para a areia que o acolhia displicente sem o menor gesto de paixão.
A flor não entendia por que a areia era tão passiva! O mar sempre chegava manso, mas em algumas vezes era arrebatado e forte.
Seu amor crescia a cada dia, por fim pediu ao vento que a levasse ate o mar. Todas as flores gritaram que era imprudência. Não devia fazer isso. Ninguém tinha alcance de quão forte podia ser a força do mar. Morreria se tentasse.
O vento, entretanto respondeu que não podia levá-la! Era somente brisa tranqüila que dançava ao calor do dia. Fosse sua irmã a tempestade, certamente a levaria e nem precisaria pedir. Do jeito que ela era exagerada e fulminante carregava tudo que vivia em meio a sua dança furiosa e arrebatadora.
Duas lágrimas rolaram sobre as pétalas da flor. Sentiu uma dor profunda e seus vizinhos se compadeceram dela. – Esqueça o mar – Dizia a folhagem rala. – Esqueça – Diziam as outras flores. Esqueça o mar murmurava a duna branca, ele não é de ninguém...
A flor inconformada queria chegar ao mar de todo jeito!
Então um dia o sol não apareceu. Em seu lugar havia nuvens escuras e soprava um vento mais forte.
A flor perguntou o que estava acontecendo. Vai chover disseram suas vizinhas. Uma gaivota pairava por ali e avisou que viria uma tempestade. Tratassem de se abrigar como pudessem, pois esta era violenta.
à tarde os pingos fortes da chuva caíram molhando o chão e o vento ficou mais forte.
As flores se encolheram rente ao chão, mas o vento as fustigava sem piedade. A florzinha viu que chegara sua oportunidade de chegar perto do mar.
- Deite-se pequena, você será levada pela tempestade!
- Mas eu desejo ser levada pela tempestade! Ela me levara ao meu amor!
- Não seja tola – Gritavam as plantas na encosta alta e se encolheram não sem antes verem a florzinha arrancada pela tempestade rolando duna abaixo caindo nos braços do mar.
O mar furioso nem percebeu a flor! Jogava-se furioso sobre a areia e por tudo que via a sua frente.
A flor delicada falava do seu amor imenso, de como esperou aquele momento...
A areia recebeu a flor quase desfalecida, as pétalas juntinhas encolhidas, chorando a dor de tanto amar.
- Pobre flor pensou a areia. Não devia ter se apaixonar por alguém inconstante como o mar. Devia ter amado o sol! Tão bonito e brilhante! Ou mesmo o vento que soprava devagar com ternura incontida... Mas o mar...
Amanheceu um dia bonito cheio de sol, sem nuvens com a brisa suave depois da tempestade esmagadora.
A flor estava largada a beira mar. Agonizava. A areia então contou ao mar que aquela pequena flor estava morrendo de amor... Jogara-se na tempestade para sentir o abraço desse amor.
O mar sentiu-se tocado e alguma coisa quebrou em seu coração inconstante. Pegou a flor e a levou para o lugar mais profundo que existia e ali a amou com todo amor que é possível existir neste universo infinito de Deus.