[editar] Categorias fundamentais da Psicologia Social
A Psicologia Social - é a ciência que procura compreender os “como” e os “porquê” do comportamento social. A interação social, a interdependência entre os indivíduos e o encontro social. Seu campo de Acção é portanto o comportamento analisado em todos os contextos do processo de influência social. Uma pesquisa nos manuais e ensino e ementas das diversas universidades nos remetem à:
- interacção pessoa/pessoa;
- interacção pessoa/grupo (os grupos sociais)
- interacção grupo/grupo. (enfoques nacionais, regionais e locais)
Estuda as relações interpessoais:
- influências;
- conflitos; comportamento divergente
- autoridade, hierarquias, poder;
- o pai, a mãe e a família em distintos períodos históricos e culturas
- a violência doméstica, contra o idoso, a mulher e a criança
Investiga os factores psicológicos da vida social:
- sistemas motivacionais (instinto);
- estatuto (status) social;
- liderança;
- estereótipos (estigma);
- alienação;
- Identidade, valores éticos;
Teoria das representações sociais, a Produção de Sentido Dialética Exclusão /Inclusão Social
Analisa os factores sociais da Psicologia Humana
- motivação;
- o processo de socialização
- as atitudes, as mudanças de atitudes;
- opiniões / Ideologia, moral;
- preconceitos;
- papéis sociais
- estilo de vida (way of life - modo ou gênero de vida)
Naturalmente a subdivisão dos temas acima enumerados é apenas didática os mesmos estão intrinsecamente relacionados. Observe-se também que muitos desses temas e conceitos foram desenvolvidos ou são também abordados por outras disciplinas (e inter-disciplinas) científicas seja das ciências sociais ou biológicas, cabe ao pesquisador na sua aproximação do problema ou delineamento da pesquisa estabelecer os limites e marco teórico de sua interpretação de resultados. Pode-se ainda dar um destaque aos temas:
Agressão humana (violência) Trabalho e Ação Social Relações de Gênero, Raça e Idade Psicologia das Classes Sociais – Relações de Poder Psicanálise e questões sócio-políticas Dinmica dos Movimentos Sociais Saúde mental e justiça: interfaces contemporneas
Em 1895, o cientista social francês Gustave Le Bon (1841-1931) apresentou, em seu pioneiro trabalho sobre a Psicologia das Multidões, a proposição básica para o entendimento de uma psicologia social: sejam quais forem os indivíduos que compõem um grupo, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seus modos de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo, coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os fazem sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento [9: p. 18]. Essa proposição e os argumentos de Le Bon para justificá-la, serviu de parmetro para o estudo sobre Psicologia de Grupo publicado por Sigmund Freud em 1921.
A questão teórica de Le Bon, com quem Freud dialogou era "massa", não "grupo". Um problema de tradução entre o alemão e o inglês fez com que surgisse o termo "grupo" em Freud, embora não haja evidências de que o mesmo tenha se preocupado com esta questão. Contudo essa categoria de explicação é retomada em diversos dissidentes da psicanálise como Carl Gustav Jung (1875-1961) que introduziu o conceito inconsciente coletivo - o substrato ancestral e universal da psique humana, e surpreendeu o mundo com sua célebre interpretação do fenômeno dos discos voadores como um mito moderno e Wilhelm Reich com sua análise da anomia (Escutas a Zé Ninguém) e governos totalitários (Psicologia das Massas e do Fascismo). A psicanálise dos governantes ou relação entre a psique individual e a cultura ou civilização por sua vez é um tema freqüente na obra de Freud e outros psicanalistas (E. Eriksom, E. Fromm etc.) que estudam a relação dessa ciência com a antropologia.
A relação entre a etnologia e psicologia é especialmente fecunda, inúmeros etnólogos investigaram e tomaram como ponto de partida das suas pesquisas as teorias picanalíticas e psicológicas a exemplo de Ruth Benedict Margaret Mead Malinowski Lévi-Strauss.
Por outro lado observa-se também que psicologia desenvolveu sua notoriedade como disciplina científica ao afirma-se como uma ciência natural em oposição às ciências sociais ou humanas nos finais do século XIX. Crente na impossibilidade teórica da mente voltar-se sobre- se mesmo como sujeito objeto de pesquisa Wilhelm Wundt (1832-1920) propôs a psicologia como um novo domínio da ciência em 1874 no seu livro Princípios de Psicologia Fisiológica e a criação de um laboratório de psicologia experimental (1879) em Leipzig. Esse mesmo autor contudo suponha ser necessários estudos complementares voltados ao estudo da mente em suas manifestações externas, a sua Völkerpsychologie - Psicologia dos povos / social ou cultural (10 volumes) escritos entre 1900 e 1920 com análises detalhadas da língua e cultura. Três dos volumes são dedicados aos mitos e religião; dois à linguagem (hoje seria considerados como psicologia lingüística); dois à sociedade e um à cultura e história (a psicologia social de hoje); um a lei (hoje a psicologia forense ou jurídica) e um à arte (um tópico que abrange as modernas concepções de inteligência e criatividade).
Tal aspecto de sua obra vem sendo recuperada por sua aplicação e semelhança com os modernos estudos de psicologia cognitiva. Segundo Farr é possível perceber o desenvolvimento posterior das idéias de Wundt na psicologia social de G. H Mead e Herbert Blumer, os criadores do interacionismo simbólico na Universidade de Chicago e Vygotsky na Rússia.
O grupo como objeto de estudos ganhou densidade na psicologia social durante a segunda guerra mundial, com Kurt Lewin (1890-1947), considerado por muitos autores como fundador da psicologia social. Contemporneo dos fundadores da psicologia da gestalt e integrante dessa teoria esse autor radicou-se nos Estados Unidos a partir de 1933 onde chefiou no MIT Massachusetts Instituto de Tecnologia o Centro de Pesquisa de Dinmica de Grupo junto com uma série de autores que desenvolveram a escola americana de psicologia social a exemplo de D. Cartwright que assumiu a direção do instituto após a sua morte e Leon Festinger (1919-1979) que desenvolveu a teoria da dissonncia cognitiva explorando o desconforto da contradição dos conflitos e estado de consistência interna ainda hoje referência para os estudos de valores éticos em psicologia social.
A Dinmica de Grupo ou ciência dos pequenos grupos, é para alguns autores o objeto e método da psicologia social, limita-se porém ao estudo empírico da interação dentro dos grupos. Sendo porém relevantes as suas contribuições sobre a estrutura grupal, os estilos de liderança, os conflitos e motivações, espaço vital ou o campo de forças que determinam a conduta humana possuem diversas aplicações e entre elas a psicologia infantil e a modificação de comportamentos seja para benefícios dietéticos (estudos de pesquisa – ação realizados com Margareth Mead) seja para melhor a produtividade e desempenho nos ambientes de trabalho.
Na escola americana de psicologia social cabe ainda um destaque para William McDougall (1871-1938). Esse autor, britnico que viveu 24 anos na América, foi um dos primeiros a utilizar o nome de psicologia social (1908) e comportamento (behavior) e representa a tendência evolucionista americana, pós efeito da teoria da evolução de Darwin que veio a reforçar a tendência aos estudos de psicologia comparada e da abordagem comportamental apesar da diferença essencial entre as proposições quanto utilização do conceito de “instinto” como categoria explicativa aproximando-se portanto de um corrente representada por S. Freud e G. H. Mead.
George Hebert Mead (1863-1931) inserido no pragmatismo James (1842-1910) Peirce (1839-1931) e Dewey (1859-1952) americano o criador da teoria do interacionismo simbólico em seu curso de psicologia social da Universidade de Chicago do qual nos deixou o livro construído a partir de anotações de sues alunos Mind Self and Society é bem melhor compreendido por sociólogos do que por psicólogos. Essa relação com a sociologia não vem só do fato de seu curso e teoria ter sido continuado por um sociólogo Herbert Blumer e sua rejeição no contexto do paradigma behaviorista mas por que os conceitos de ato, ação e ator social são essencialmente úteis ao entendimento das políticas públicas e intervenções sociais. Sua importncia vem sendo reconhecida em nossos dias pela influência da sua teoria nos estudos e proposições Erving Goffman autor de Prisões manicômios e conventos, um livro fundamental no processo de transformação do tratamento psiquiátrico (reforma psiquiátrica) e luta anti-manicomial em nossos dias.