Musa dos olhos verdes
Musa dos olhos verdes, musa alada, Ó divina esperança, Consolo do ancião no extremo alento, E sonho da criança;
Tu que junto do berço o infante cinges C'os fúlgidos cabelos; Tu que transformas em dourados sonhos Sombrios pesadelos;
Tu que fazes pulsar o seio às virgens; Tu que às mães carinhosas Enches o brando, tépido regaço Com delicadas rosas; Casta filha do céu, virgem formosa
Do eterno devaneio, Sê minha amante, os beijos meus recebe, Acolhe-me em teu seio!
Já cansada de encher lnguidas flores Com as lágrimas frias, A noite vê surgir do oriente a aurora Dourando as serranias.
Asas batendo à luz que as trevas rompe, Piam noturnas aves, E a floresta interrompe alegremente Os seus silêncios graves.
Dentro de mim, a noite escura e fria Melancólica chora; Rompe estas sombras que o meu ser povoam; Musa, sê tu a aurora!
Machado de Assis |