O Haiti foi a primeira colónia esclavagista do mundo a ascender à independência, em 1804, depois de uma batalha com os exércitos de Napoleão, mas a soberania não trouxe estabilidade: até 1915 teve nada menos do que 26 presidentes (21 eram miliares), mantendo durante esse período uma estrutura social dual, que opunha, de um lado os negros e os crioulos, praticantes de vudu, e do outro os terratenentes católicos descendentes de europeus. A economia da metade francesa da ilha - bem como a da outra metade, a Republica Dominicana, que estava sobre controlo espanhol - baseava-se no cultivo da cana de açúcar, nos vales, e do café, nas montanhas. Foi este último produto e o facto de os terratenentes preferirem estabelecer relações comerciais com os EUA em vez da França, o leitmotiv económico por detrás da independência.
Os Estados Unidos tiveram a partir de então uma importncia preponderante na ilha, a ponto de a terem ocupado militarmente, entre 1915 e 1934. Durante este período, até lhe impuseram uma constituição, em 1918, cujo autor terá sido o então secretário da Marinha, que se tornaria mais tarde uma personagem incontornável na história americana, o Presidente Franklin Delano Roosevelt.
Em 1957, "Papa Doc" Duvalier ascendeu ao poder através de eleições livres mas cedo se revelaria, à escala haitiana, um dos maiores torcionários de sempre. Fundou os Tonton Macoute - a milícia paramilitar que consolidou o poder do Presidente pelo terror. Em 1971, faleceu e o seu filho, Baby Doc, sucedeu-lhe no cargo e no estilo de governação, dando um contributo decisivo para que o país fosse um dos mais pobres do mundo.
Baby doc foi deposto em 1986, mas a instabilidade política continuou até 1990, data em que Jean Bertrand Aristide, um antigo sacerdote católico, ganhou as eleições, mas o seu primeiro mandato foi breve, tendo sido deposto num golpe militar em 1991 e obrigado a fugir para os EUA, que suspenderam as ajudas ao país, contribuindo assim para agravar a miséria reinante. Em 1994, Washington decide-se pela invasão e devolve Aristide ao poder, um golpe plebescitado nas eleições de 1995, que o antigo padre ganhou com 88% dos votos. A instabilidade e a violência crónica mantiveram-se no entanto até 2006, altura em que se realizaram novas eleições sob a égide da ONU, ganhas por René Préval, o actual Presidente. A ONU mantém um contingente de quase sete mil homens neste que é dos exemplos clássicos de um estado falhado, onde a sociedade civil está desarticulada, a eficácia governativa é quase nula e os partidos políticos ou movimentos social com um mínimo de representatividade são praticamente inexistentes.
Radiografia
- Nome - República do Haiti
- Independência - 1804 (da França)
- Área - 27 750 km2
- População - 9 milhões (estimativa)
- 95% dos habitantes são negros e crioulos de origem africana
- Metade da população vive em áreas urbanas
- Cerca de 25% da população reside na capital, Port-au-Prince
- Port-au-Prince foi das cidades que mais cresceu, a nível mundial, nas últimas seis décadas. Passou de 250 mil habitantes para cerca de 2,5 milhões
- A língua oficial do país é o francês, apenas falada por 20% da população. A maioria usa o crioulo
- O país é considerado o mais pobre da América Latina
- Ocupa o lugar 149 no mais recente Índice de Desenvolvimento da ONU (que inclui 182 países)
- Mais de metade dos haitianos não tem trabalho
- 72,1% vive com menos de 2 dólares por dia
- 42% não tem acesso a água potável
- 22% das crianças têm peso abaixo do indicado para a idade
- O PIB é de 6 908 milhões de dólares (2009)*
- PIB per capita é de 772 dólares (2009)*
- Os 10% mais pobres do país representam 0,9 do PIB e os 10% mais ricos 47,8
- Desde 1980 que o país vive em estagnação económica
- 66% da população trabalha na agricultura, 25% nos serviços e 9% na indústria
- A esperança média de vida é de 62,9 anos para as mulheres e 59,1 para os homens
- Tem uma das mais altas taxas de emigração do mundo e quem mais abandona a ilha são os que têm formação universitária (67,5%).
- Taxa de alfabetização - 62,1% (a partir dos 15 anos)
- É um dos países mais corruptos do mundo, ocupando a 177ª posição (entre 180 estados), segundo a International Transparency
* Estimativas do FMI, em Outubro de 2009
Fontes: Nações Unidas, FMI, CIA Worldfactbook