O ESTADO DAS COISAS
Se existe uma coisa que mencionamos todos os dias, e centenas de vezes por dia, essa coisa é coisa. A palavra “coisa”. Diz o Gênesis bíblico que no princípio Deus criou todas as coisas e só depois criou o homem. Portanto, tecnicamente, no princípio tudo o que não era gente, era coisa.
Isso durou até 1963, quando Vinícius de Moraes elevou gente à categoria de coisa ao cantar – no bom sentido – A Garota de Ipanema. “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça”.
Na vida corporativa, a coisa está substituindo qualquer coisa. Outro dia, ouvi um diálogo entre dois gerentes mais ou menos assim:
- Quer saber de uma coisa? Pra mim chega.
- Também não gosto desse estado de coisas.
- A coisa realmente está preta.
- Nem me diga. É coisa de doido.
- Pode crer. Aí tem coisa.
O pior é que um parecia entender perfeitamente o que o outro falava. Esse é o mal das coisas. A língua portuguesa conta com um acervo de centenas de milhares de palavras, mas parece ter encontrado um sinônimo perfeito para qualquer uma delas: coisa.
Alguém ponderaria que a comunicação verbal eficiente depende da espontaneidade, da técnica e do vocabulário. Outro diria: “Concordo com essas coisas aí que o colega falou”. Todo mundo entenderia melhor o que o segundo disse, além de suspeitar que o primeiro estaria enrolando.
De minha parte, sempre defendi o uso do português correto nas empresas. Partindo do princípio de que o segredo do sucesso profissional depende do entendimento da essência de filosofia corporativa, que está baseada em três pilares e que são:
1. Entender como a coisa funciona
2. Fazer a coisa certa
3. Falar coisa com coisa.
Max Gehringer