Foi no primeiro dia de escola que os dois se encontraram. Maria completara 12 anos, Manou já passava dos 20. Apesar de "grande, gordo e feio", impressionou--a porque era respeitado no pátio da escola da cidade holandesa de Zwolle. Os joelhos de todas as raparigas tremiam com a hipótese de ele lhes poder falar, mas foi a Maria a quem ele disse "Olá". Ela pensou "que era especial". Estava dado o primeiro passo de Manou, o loverboy.
Os loverboys são uma nova categoria de proxenetas surgida na Holanda com o virar do século. Muitas vezes menores, estes jovens seduzem raparigas vulneráveis, tornam-se seus namorados e depois obrigam-nas a prostituir-se (ver caixa).
Durante duas semanas, Manou conversou com Maria no pátio da escola. Um dia, convenceu-a a faltar às aulas, levou--a até ao seu apartamento, deu-lhe um charro de marijuana e disse que gostava de dormir com ela. Maria recusou, ele insistiu: "Vais sair-te bem. Tens o tamanho certo, estás bem tratada... eles gostam disso." Maria não percebeu o recado. Dormiu com ele. Passados alguns dias, entrava num apartamento onde dois homens esperavam sentados. Instantaneamente reconheceu o cheiro a droga. Manou falou: "Vais ter sexo com eles, coração." "Estás doido? Nem os conheço", protestou. Ele arrastou-a para a cozinha, espancou-a - "para a fazer ouvir" - e deu-lhe novamente um charro. Estava convencida.
Maria vivia com a mãe, professora de Teatro, na pequena e aborrecida cidade de província e nunca tinha conhecido o pai. Manou prometeu-lhe roupas, comprou-lhe um gelado, ofereceu-lhe um telemóvel e começou a controlar todos os seus movimentos. Era o seu namorado, ela achou "tudo normal".
"Ia para a escola na minha bicicleta, ele estava lá a minha espera. Dava-me outras roupas, se não a minha mãe sentiria o cheiro a tabaco. Pensava em tudo. Assegurava que estava de regresso a casa às 17h00, para jantar com a minha mãe", descreveu Maria ao jornal britnico "The Guardian". Durante o dia, encontrava- -se com homens, às vezes atendia dois e três ao mesmo tempo. "Ele tinha clientes regulares. Pais, homens de família, gestores de empresas, directores de escolas." Alguns batiam-lhe. Além de se prostituir, Maria ajudava a identificar novas vítimas. Passaram-se anos. A mãe nunca percebeu nada. "Sempre que chegava a casa, a Maria tomava duche, mas pensava que era por suar ao andar de bicicleta. Nunca saía à noite, durante o dia não sabia o que se passava na escola", confessou ao mesmo jornal. Agora, Lucie Mosterd processou a escola por nunca ter sido informada das faltas da filha e exige 74 mil euros pelos danos causados. "Se aconteceu a mim, pode acontecer a qualquer mãe."
Um dia, um professor confrontou Maria. "O que está errado?", perguntou. A jovem prostituta, que nunca falara sobre o assunto com ninguém, decidiu naquele momento contar tudo sobre a sua vida secreta. Ou pelo menos parte. Começou a falar e descreveu o dia em que o namorado a levou a "uma casa cheia de homens" e a mandou dormir com todos eles. Depois, contou como tinha sido violada também por todos. Chocado, o professor contou à mãe. Maria não percebeu a reacção dos adultos. "Naquela altura, já tudo era normal para mim."
Maria Mosterd conta a sua história no bestseller "Real Men Don't Eat Cheese" (não está editado em Portugal), que será adaptado ao cinema. Mas Maria não se prostituía por dinheiro. Nunca recebeu um cêntimo. Fazia-o para matar o vício. "Estava viciada no Manou", confessa.