Ecoando o desamor
Não podemos lamentar em corredeiras, o que já foi perdido.
É viver no engano causando-se danos.
O silêncio estóico da resignação deve morrer
Antes de nascer em verbo, aturdido.
A primavera também acontece na minha janela,
Apesar dos dias escuros em breus de chuvas.
Águas turvas serpenteiam as ruas lavando as peles
Expostas em trocas e cosméticos.
(Eu apenas não quero a sombra de outra cobra em meus caminhos de trocas.)
Mas tudo soa espectral, até mesmo a dor de outros terceiros
Em seus terreiros lamentando os danos,
Esgarçando a esperança sob os escombros da compaixão,
E no enlameado das perdas ouvem-se os gritos dos semimortos.
(Sigo sem entrar nas portas onde a outra cobra trama com dados.
Não me atrai tal existência, a não ser para decantar em desengano um que de conto
apenas para mostrar o desconforto que senti desde que a vi, tramando.)
Não consigo sair a cantar, por enquanto,
É que não há instrumento que eu saiba tocar.
Nem aqui, nem acolá...
Sequer tenho outro lugar para ir,
A não ser ir e vir, de dentro pra foraDe mim...
(Mas posso ceder mais uma vez, então suprimi a fala, obedecendo a sua lépida repreensão.)
Hoje não choveu, mas em mim é cheia
Apesar desta primavera sem verão.