O ESSENCIAL E O FUNDAMENTAL
Por Cristina Mello⋅ September 10, 2008 ⋅
Acordar de manhã e estar feliz, naturalmente linda e magra, é o sonho de consumo de toda mulher. Pois bem, no meu caso, acordei com o rosto inchado, com dor de cabeça, pensando em que corte de cabelo fazer para combinar com a cor vermelha que coloquei anteontem em sinal de súplica por dias melhores e levemente acima do peso - Eu disse: levemente!
Mulher é mesmo difícil de entender.
Natural que ela queria estar eternamente apaixonada, com a roupa mais linda e confortável do mundo, com os cabelos sempre sedosos, a pele macia e a jóia mais discreta e ao mesmo tempo mais provocadora da inveja alheia!
O que restou como consolo? Escrever. Peguei este hábito de uns tempos pra cá e confesso que vem servindo de terapia já que o analista está muito caro e não sei se estou bem preparada para ouvir o que ele tem para me dizer! Quando a gente escreve começa a prestar atenção em tudo, todo e qualquer movimento faz sentido e vira motivo para algumas palavras rabiscadas no papel usado para rascunho. E rabiscar palavras ao invés de digitá-las também tem feito parte da minha rotina. Havia até esquecido como a minha letra cursiva me caía bem! Mas então, estava eu no cabeleireiro, quando li uma reportagem bem interessante sobre uma nova onda – a de viver de forma simples.
Andam falando em simplicidade voluntária que, para Duane Elgin, ” é uma maneira de viver exteriormente mais simples e interiormente mais rica, um modo de ser no qual nosso eu mais autêntico é posto em contato direto e consciente com a Vida.”
A palavra chave é AUTONOMIA, ou seja, ter liberdade para não ser escravo do Ter. Os anos 20 foram os propulsores desse aceleramento no qual vivemos hoje. Com o passar dos anos, as pessoas foram percebendo que era preciso desacelerar. Nos 60 e 70 movimentos hippies já buscavam enaltecer o amor e a simplicidade. Na década de 90, Domenico de Masi vendeu feito água o livro Ócio Criativo. Mas nem tanto ao céu nem tanto a terra. A simplicidade que vem rondando este século não precisa viver de amor e uma cabana! Ela apenas diz que não temos que ser escravos do que possuímos.
Entre tantas coisas ali descritas, uma me chamou mais a atenção: o saber diferenciar o essencial do fundamental. Essencial é aquilo que não se pode viver sem e o fundamental seria aquilo que serve de “escada” para se manter. Aproveitando o viés, acho que ando buscando essa onda de simplicidade.
Nossa relação começou de forma violenta, quase como um estupro, mas vem ganhando espaço e transformando minha mente. Fundamental para mim é: ter um emprego – portanto dinheiro, ter morada, vestimenta. Agora o essencial seria: o ar, o alimento, a saúde, o amor, a fé, o conhecimento e os amigos! Não uma tropa! Mas poucos e bons!
Budha já dizia:”Para ser feliz, o ser humano precisa somente de duas coisas: cultivar sementes de paz em seu coração e ter bons amigos. ” Amigo mesmo é aquele que sabe todos os nossos defeitos - e veja você, ainda assim nos aceita do jeito que somos!
Amigo é aquele que perdoa o que é imperdoável, porque o que for perdoável é fácil, agora o que não tem perdão é bem mais complicado e requer um coração muito grande e humano. Amigo é aquele que gosta de você e pronto, você pode estar “pelado”, distante por um longo período ou numa fase muito estranha e mesmo assim continuará sendo amigo - fazendo votos de pronto restabelecimento e conservação dessa amizade.
Vivo momentos de comunhão com poucos e bons amigos. Nas noites em que nos encontramos, afogamos tristezas nas taças de vinho e brindamos a alegria e a vida. São 6 pessoas, 6 vidas com histórias e origens diferentes, com pensamentos e sonhos distintos e um desejo em comum: fazer das pequenas reuniões noturnas um espaço para brincar, rir, botar para fora as dores, compartilhar as alegrias e vitórias e fazer revelações que até Deus dúvida!
Simplicidade para mim é isso, estar com quem é essencial brindando a vida!