BEIJO
Os lábios tocam-se, roçam,
molham-se carnosos, sofregam,
sorvem a saliva do outro
e provam o sabor um noutro.
A língua sabe a quente e entra,
por dentro e também por fora
por baixo e também por cima,
arde em vontade que queima!
Os dentes tocam de leve, mordem
suavemente os grossos lábios,
os de baixo, que logo surgem
dentro doutra boca, esguios,
sugados dum lado ao outro,
por baixo e por cima agora
por dentro e também por fora
- é bom!, sabe sempre a pouco!
A língua vê-se mordida,
não reage, surpreendida,
goza o gosto da saliva
doutro, que ternamente beija...
Tocam-se quentes as línguas,
molhadas, violentas,
fustigam ardentes as bocas
em vontade crescente! Loucas!
As línguas sugam-se, aqui e além,
perdidas de ardor e ritmo
em movimentos de vai-e-vem,
ardendo de lascivo mimo.
Caiem, desfalecidas,
sem resistir, sem se mover,
alegres, fogosas e rendidas
à doce vontade de amar.
(António Eco)