Deuses do Tempo
O que são sonhos? Quem são estes que aparecem protegidos pela noite enquanto durmo, com rostos tão conhecidos e gestos tão familiares? Que querem me dizer as caricaturas que vejo das coisas que virão?
Com elas tento aprender a assistir meus dias correndo na frente do sol, os momentos quase esquecidos em meu futuro. Rios que transformo em braços de mar, desenhando a tela de minha vida. Recordo dos tons azuis e dos cinzas, dos vermelhos e amarelos; as cores que conservarei ou cobrirei, ora mais fortes e mais intensas, ora, simplesmente, mais eu.
Hoje acordei lembrando de como serão as noites de Junho e os dias de novembro, de como sentirei a tua falta nestes últimos. Consigo enxergar claramente nossa história desenrolando um novelo e transformando-o num entrelaçado de lã sem forma definida que seu significado pareceu confuso para mim. Sei tudo o que acontecerá – já sabia – só não sei no que nos servirá.
Agora não tem mais jeito: nossas linhas vitais já se misturaram e o desfecho será inevitável!
Durmo. Tento me consolar fazendo de conta que não acredito no que vejo. Busco outras alternativas, inserindo em mim memórias falsas de um futuro imprevisível, forçando-me a sonhar com incertezas e acasos. Mas aqueles seres voltam a aparecer, com as mesmas faces e feições já familiares me fazendo recair no futuro e voltar a ter certeza que só meu passado é desconhecido.
Almas mortais que habitam meus sonhos, e os fazem realidades, que realidade torta seria esta desenhada nos dias, meses e anos atrás de mim?
As noites de Junho: umas de céu aberto, outras nubladas, mas todas frias e aconchegantes. Cada uma única em seu jeito, do nosso jeito.
Que faço eu agora? As deixo intactas, mágicas, permanecendo no passado no passado que terei em novembro? Ou... Não sei? Não há mais o que fazer!
Meu mundo agora gira em sentido negativo na contagem regressiva de minhas memórias futuras. Se quero? Ao menos espero! Até que sejam, e caiam ma incerteza de meu passado, possibilitando aos meus anjos mortais a seleção do que mereça ou não acontecer.
Tainã Alcântara