QUERO-ME INTEIRA
Ah!
Que terrível mutilação esse ter que nos dar assim todos os dias!
dar-nos
aos pedaços - um pouco a um, um pouco a outro, sem que fique
nada de verdadeiramente nosso em nós.
Pertencemos aos
que nos afagam por hábito, aos que nos possuem com os olhos, aos
que nos esperam sensatos, aos que nos amam doidos e, afinal, aos
que nos querem como nós não somos.
Quero-me eu, completa,
autêntica, cheia de abandono pertencendo-me sem nenhuma clemência para
com a alheia expectativa.
Eu, para dar-me ou negar-me sem
explicações, falsos pudores ou inúteis justificativas.
Não é o
melhor nem o mais fácil o que peço. Quero-me rir ou chorar para
viver ou morrer. Inteira.
(Lara de Lemos)
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