Dizem que Deus foi o arquiteto do universo. Ao que parece, porém, Ele foi arquiteto e engenheiro. Engenheiro quando criou o homem e arquiteto ao gerar a mulher. Ao homem coube a maior força física, a estrutura necessária para o embate com as adversidades da vida, quando a força bruta ainda se fazia necessária à sobrevivência. Ao lado do homem caçador, guerreiro e competitivo ficava a mulher, em geral fisicamente mais frágil, mas trazendo em si a força da feminilidade: a sensibilidade, a ternura, a intuição, a cooperação, a capacidade de gerar novas vidas. Forças complementares, masculino e feminino possuem dentro de si um germe de seu gênero oposto, embora as sociedades patriarcais tenham cuidado de estabelecer a noção de “homem” e “mulher” como entes separados, opostos, cada qual ocupando espaços distintos na sociedade.
Em busca de libertar-se do jugo masculino, impelida pela vida que procura seu equilíbrio, a mulher lutou pelo seu natural espaço na sociedade. Mas diante do machismo, provar seu valor passava pela prova de competência no que o universo masculino valorizava. Devia a mulher ser também competitiva, forte, “guerreira” no trabalho.
Resultou disso a absorção de parte do arquétipo masculino pela mulher. Assumiu ela características masculinas em detrimento das femininas, fortaleceu o animus em detrimento da anima e, paradoxalmente, perdeu parte da sua força essencial ao tentar conquistar um melhor lugar em um universo masculino e incompleto, necessitado exatamente do aspecto vital feminino.
Nas atitudes, no vocabulário, em quase todos os aspectos da vida da mulher a entrada de elementos masculinos é perceptível, o que pode ser visto como uma evolução no comportamento humano enquanto tal alteração significa a quebra das barreiras do preconceito e a negação à subserviência historicamente imposta às mulheres, mas também como um desequilíbrio na estrutura social quando a mulher perde sua feminilidade primordial ao assumir o que de pior se encontra no arquétipo masculino.
A asfixia dos valores femininos nas sociedades ocidentais é perceptível pelo que caracteriza os objetivos impostos a seus membros. Citando Cécile Sagne: “Os ideais e modelos que nos apresentam orientam-se cada vez mais no sentido da velocidade, da violência, da competição, da conquista, da agitação frenética e de uma tensão explosiva, ao mesmo tempo física, emocional e mental. Os mitos modernos exaltam os superativos, os superexcitados e os supermachos – detetive, bandido, assaltante, mercenário, grande fera ou Super-Homem das finanças e da política.” Se antes a mulher era pressionada a assumir o papel de mãe e dona-de-casa a fim de ser reconhecida como um membro útil e bem-sucedido da comunidade, hoje a medida de seu sucesso é dada pela sua capacidade profissional.
Mencionar o fato de que a mulher perde parte de sua força ao assumir comportamentos masculinos, não significa, de modo algum, a defesa do retorno a uma sociedade ainda mais machista que a atual, nem tampouco da criação de uma nova ordem social baseada tão-somente no arquétipo feminino, mas da necessidade da estruturação de um sistema mais equilibrado, onde masculino e feminino sejam aspectos igualmente importantes e complementares e onde cada um tenha a oportunidade de crescer a partir de sua própria individualidade. É imprescindível que a sociedade valorize a diferenciação entre os sexos e compreenda a importncia da presença completa de ambos na vida de forma geral.
“O feminino na mulher e no homem é o esprit de finesse (...). É a capacidade de inteireza, de percepção de totalidades orgnicas, de unicidade do processo vital em suas mais diversas manifestações; é subjetividade, ternura, cuidado, acolhida, nutrição, conservação, cooperação, sensibilidade, intuição, experiência do caráter sagrado e misterioso da vida e do mundo.
O masculino no homem e na mulher é o esprit de géometrie, de objetividade, de análise, de trabalho, de competição, de auto-afirmação, de racionalidade, de capacidade de abrir caminhos, de superar obstáculos e de concretizar com determinação um projeto.
Não devemos monopolizar o masculino somente no homem e o feminino somente na mulher. Tal é o equívoco da cultura dualista ocidental e de outras culturas patriarcalistas. Olvidou-se que homem e mulher têm dentro de si a totalidade masculina e feminina. Cada qual deve realizar a síntese a partir de sua situação concreta ou de homem ou