Longe de ser uma tendência recente, o vegetarianismo começou a dar nas vistas na década de 60 do século XX, no entanto, a verdade é que já existem vegetarianos há muitos séculos.
- Existem provas que grupos religiosos egípcios adoptaram uma dieta anti-carne na longínqua era de 3200 a.C., simplesmente porque acreditavam que uma alimentação centrada nas plantas era meio caminho andado para uma reencarnação bem-sucedida.
- A prática do vegetarianismo tem as suas raízes nas civilizações antigas da Índia e da Grécia. Impulsionado por crenças religiosas e filosóficas, os primeiros grupos de vegetarianos não consumiam carne porque defendiam a não-violência contra os animais.
- Na antiga Índia, o vegetarianismo era praticado pelos budistas e pelos seguidores da religião que antecedeu o hinduísmo, a védica. Tanto uma como outra tinham na sua base o respeito e a defesa dos seres vivos (as vacas e os macacos eram vistos como sagrados!), promovendo uma alimentação à base de cereais e fruta, que consideravam a mais equilibrada.
- No quotidiano de outros povos, caso dos celtas e azetecas, a carne estava reservada única e exclusivamente para ocasiões especiais e/ou rituais de sacrifício em honra de deuses pagãos.
- Na China e no Japão antigos, as populações receberam bem as imposições do budismo (que proibiam a caça e a pesca) porque estavam habituados a viver apenas das plantações de arroz, dos crustáceos e do peixe. Aliás, existem documentos que descrevem um Japão sem cabras, vacas, cavalos ou tigres!
- As civilizações gregas e romanas privilegiavam os produtos da terra – o trigo, a vinha e a oliveira principalmente – em detrimento da carne que não consideravam um bem essencial. Já nessa era, o matemático grego Pitágoras e o filósofo romano Platão defendiam o vegetarianismo pelos mesmos motivos que hoje conhecemos: crenças religiosas, uma saúde mais equilibrada e responsabilidade ambiental. Aliás, a influência de Pitágoras foi tão marcante que até 1800 os vegetarianos eram conhecidos como “pitágorianos”. Atribui-se a essa época histórica a escrita do texto pró-vegetariano mais antigo de sempre. Da autoria de Porphyry, um seguidor de Platão, intitula-se “On abstinence from beings with a soul”.
- O Cristianismo primitivo revia-se no vegetarianismo por ser a forma perfeita de purificar o corpo e alcançar níveis espirituais superiores. No entanto, com a Cristianização do Império Romano, os vegetarianos europeus quase que desapareceram e reinava a ideia da supremacia humana sobre os animais. Os cereais e os vegetais serviam apenas para alimentar os animais e a carne tornou-se um produto de luxo e de status social. Nesta altura, quem defendesse os direitos dos animais era considerado fanático e acabava muitas vezes por ser perseguido.
- Na Idade Média, foram os monges e eremitas europeus que diminuíram e até eliminaram por completo o consumo de carne das suas alimentações, alegando motivos espirituais, mas nenhum deixou de comer peixe (afinal Jesus Cristo também se alimentava dele!). Nessa altura, muitas ordens religiosas não permitiam o consumo de carne, a não ser aos doentes, ou seja, já nesse tempo havia pesco-vegetarianos! Enquanto S. Jerónimo era o vegetariano-mor e tinha muitos seguidores, S. Agostinho e S. Tomás de Aquinas professavam que o Homem não devia nada aos animais.
- A época renascentista trouxe o vegetarianismo de volta à Europa onde as razões por de trás desta filosofia de vida eram já extremamente éticas. Razões e motivações defendidas por Leonardo da Vinci e Thomas Tryon, mas rejeitadas por filósofos tão influentes como Descartes e Kant que afirmavam que o homem não tinha qualquer dever moral para com os animais.
- No início do século XIX, a Inglaterra era a capital do vegetarianismo europeu e os ingleses, em particular o poeta Percy Shelley, foram ávidos promotores desta “forma natural de viver”. Em 1847, 140 pessoas fundaram a Vegetarian Society, uma associação que, seis anos depois, congregava já 900 membros. Em 1880 já existiam vários restaurantes vegetarianos em Londres que, ao servirem refeições saudáveis e económicas, estavam sempre cheios.
- A “febre” do vegetarianismo chegou à Rússia pela mão do grande activista Leo Tolstoy; e à Alemanha graças ao político revolucionário Gustav Struve.
- Apesar de já existirem pequenos grupos de vegetarianos cristãos nos Estados Unidos do século XVIII, o movimento vegetariano começou a ganhar maior fulgor no mundo ocidental a partir de meados do século XIX, e para a qual contribuíram o Reverendo William Metcalfe e Sylvester Graham. Juntos fundaram, em 1850, a American Vegetarian Society.
- O último quarto do século XIX assistiu à criação de inúmeras associações vegetarianas e o início do século XX foi marcado pela fundação da International Vegetarian Union (inicialmente conhecida como Vegetarian Federal Union) em 1908, uma espécie de federação que agregou todos os movimentos e associações nacionais… e que continua no activo ainda hoje.
- Uma prática desde sempre associada aos hippies, o vegetarianismo ganhou, de facto, a sua maior projecção nos países ocidentais a partir dos anos 60, altura em que as preocupações éticas, morais, ambientais, económicas e de saúde ficaram intimamente associados a esta escolha alimentar. Com fortes influências orientais, o vegetarianismo tornou-se cada vez mais apelativo, especialmente à medida que as pessoas se informavam acerca dos seus benefícios individuais (uma melhoria significativa na saúde pessoal) e colectivos (conservação dos recursos naturais).
- Actualmente, cerca de 70% dos vegetarianos do mundo (grande parte dos quais são lacto-vegetarianos) concentram-se na Índia, onde cerca de 20 a 40% da população não come carne e onde outros 30% fazem-no esporadicamente.
- Hoje, a lista de vegetarianos famosos contém nomes como: Clint Eastwood, Joaquin Phoenix, Demi Moore, Natalie Portman, Brigitte Bardot, Paul McCartney, Joss Stone, Mel C, entre muitos outros.
- Também no nosso país as preocupações em ter uma vida saudável são cada vez mais e os dados portugueses apontam para a existência de cerca de 30 mil vegetarianos em Portugal.