ANJOS MULHERES
As mulheres voam como os anjos Com as suas asas feitas de cristal de rocha da memória
Disponiveis para voar
soltas...
Primeiro lentamente uma por uma
Depois, iguais aos passaros
fundas...
Nadando, juntas
Secreta a rasar o chão
a rasar a fenda da lua
no menstruo por entre a fenda das pernas
às vezes é o aço que se prende na luz
A dobrarmos o espaço?
Bruxas pomos asas em vassouras de vento
E voamos
Como as asas lhe cresciam nas coxas
diziam dela que era um anjo do mar
Rondo alto, postas em nudez de ombros e pernas
perseguindo,
pelos espaços, lunares da menstruação
e corpo desavindo
Não somos violencia mas o voo
quando nadamos de costas pelo vento
até à foz do tempo no oceano denso da nossa própria voz
Sabemos distinguir a dormir os anjos das rosas voadoras
pelo tacto?
Somos os anjos do destino
com a alma pelo avesso do utero
Voamos a lua menstruadas
Os homens gritam - são as bruxas
As mulheres pensam - são os anjos
As crianças dizem - são as fadas
Fadas?
filigrama cintilante de asas volteando no fundo da vagina
Nadamos?
De costas, no espaço deste século
Mudar o rumo e as pernas mais ao fundo
postas por trás dobradas pelos rins
Abrindo o ar com o corpo num só golpe
Soltas, voando até chegar ao fim
Dizem-nos que nos limitemos ao espaço
Mas nós voamos também debaixo de água
Nós somos os anjos deste tempo
Astronautas, voando na memória nas galáxias do vento...
Temos um pacto com aquilo que voa
- as aves da poesia
- os anjos do sexo
- o orgasmo dos sonhos
Não há nada que a nossa voz não abra
Nós somos as bruxas da palavra
Maria Teresa Horta
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