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Compreender e Unir
Já
são em número demasiado os que vieram ao mundo para combater e separar; o
progresso e valor de cada seita e de cada grupo dependeram talvez desta atitude
descriminadora e intransigente; aceitemos como o melhor que foi possível tudo o
que nos apresenta o passado; mas procuremos que seja outra a atitude que
tomarmos; lancemos sobre a terra uma semente de renovação e de íntimo
aperfeiçoamento. Reservemos para nós a tarefa de compreender e unir;
busquemos em cada homem e em cada povo e em cada crença não o que nela existe de
adverso, para que se levantem as barreiras, mas o que existe de comum e de
abordável, para que se lancem as estradas da paz; empreguemos toda a nossa
energia em estabelecer um mútuo entendimento; ponhamos de lado todo o instinto
de particularismo e de luta, alarguemos a todos a nossa simpatia. Reflitamos
em que são diferentes os caminhos que toma cada um para seguir em busca da
verdade, em que muitas vezes só um antagonismo de nomes esconde um acordo real.
Surja à luz a íntima corrente tanta vez soterrada e nela nos banhemos.
Aprendamos a chamar irmão ao nosso irmão e façamos apelo ao nosso maior esforço
para que se não quebre a atitude fraternal, para que se não perca o dom de amor,
para que se não cerre o coração à mais perfeita voz que nos chama e solicita.
Não os queremos trazer ao nosso grémio nem ingressar no deles; apenas
desejamos que da melhor compreensão entre uns e outros, do conhecimento das
essências, se erga a morada de um Pai que não distingue entre os eleitos e a
todos por igual protege e incita; cada um ficará em sua lei; só pretendemos que
não tome os de leis diferentes por implacáveis inimigos ou por almas perversas e
perdidas; são homens como nós e vão-se dirigindo ao mesmo fim; desde já os
vejamos como futuros companheiros.
Agostinho da Silva, in
'Considerações'
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