ÁGUAS DE VERãO
Cleide Canton
Se ora me deito nessa longa espera
ou se me perco ainda olhando estrelas,
que bom seria quando, ao esquecê-las,
ficasse o brilho neste olhar. Quem dera!
Se o vento cala o canto dividido
entre as vacncias desta calmaria,
eu me pergunto, então, como seria
o trovejar do amor nunca esquecido.
Enquanto afago a chaga semi-aberta
secando ao sol, devasso e imprevidente,
a chuva leva o broto da semente
que sem querer vingou em lua incerta.
Lá vai ele no rio que segue ao mar,
temendo ver, após as corredeiras,
o rebentar das livres cachoeiras,
onde o temor maior é naufragar.
Na queda brusca o grito, então clemente,
em tom maior quiçá mudasse a morte
e sorriria, entregue à própria sorte,
o amor audaz, prodígio dissidente.
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