O PINTOR Malangatana Valente Ngwenya foi distinguido ontem com o grau de “Doutor Honoris Causa” em arte, comunicação e linguagem, que lhe foi conferido pela Universidade Politécnica, em reconhecimento, entre outros méritos, do seu talento cultural e da sua dimensão humana e de cidadania, demonstrados ao longo dos seus 71 anos de idade. Numa cerimónia bastante concorrida, reunindo personalidades do meio académico, político e diplomático, bem como admiradores da multifacetada obra do artista, o Presidente da República, Armando Guebuza, também presente, qualificou o acontecimento de histórico não só para o mestre das nossas artes como também para a universidade moçambicana, “que desperta para uma valorização das experiências e dos saberes nacionais”, no passado negadas pela dominação estrangeira.
Maputo, Quinta-Feira, 13 de Setembro de 2007:: Notícias
O Chefe do Estado apontou que a nossa academia vem consolidando uma tendência salutar de valorização da moçambicanidade nas suas diferentes vertentes, recordando que a pioneira foi a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), ao conferir o grau de “Doutor Honoris Causa” ao falecido poeta José Craveirinha e, mais recentemente, o Instituto Superior de Ciência e Tecnologia (ISCTEM), ao graduar na mesma modalidade o também poeta, mas mais conhecido pelo envolvimento e destaque na luta de libertação da pátria, Marcelino dos Santos.
Como acontece nestas ocasiões, o graduado deu a sua primeira lição na nova qualidade, que consistiu na apresentação do que descreveu como um filme dos seus 71 anos de vida, em que “se alguma coisa realizei, foi resultado de tudo que fui ouvindo e vendo no decorrer dos dias, ao longo dos anos”.
“Tudo o que me vai saindo das mãos - estas mãos sapudas, feias e pequenas -, é resultado das múltiplas experiências em que me envolvi e em causas em que estava empenhado”, salientou o pintor-mor moçambicano, também herói da luta pela independência nacional, já que participou em actividades nacionalistas e contestatárias da dominação colonial. Esta entrega valeu-lhe a prisão em 1965, juntamente com patriotas como Raul Honwana, José Craveirinha e Abner Muthemba, quando a então Polícia política portuguesa, PIDE, o declarou “um africano altamente suspeito”. Nessa época, no norte do país, a FRELIMO já havia iniciado a guerra, que só terminaria em 1974, com a assinatura dos Acordos de Lusaka.
Malangatana é um homem de arte e cultura, de conhecimento e de uma consciência nacional insubstimável. A Universidade Politécnica justificou a atribuição do grau ao mestre por se tratar de um homem com uma inestimável dimensão humana e de cidadania, artista que projecta Moçambique além-fronteiras, professor de arte e de história, sobretudo de crianças, reconhecido pintor, escultor, poeta, dançarino, cantor e contador de “estórias” e ainda por ser um homem que convive perfeitamente com os dois mundos: intelectual e social e urbano e rural.
Abordado pelo “Notícias”, Malangatana disse, num misto de alegria e emoção, normais num estudante quando chega ao fim de uma meta académica, que “valeu a pena viver e pertencer à minha cultura, ao meu povo e à nossa história”. Dedica a distinção à sua esposa, Gelita Mhangwana, mas partilha-a com os intervenientes culturais moçambicanos e não só, que com ele dividem a entrega na causa das artes, da moçambicanidade e, em algum sentido, da universalidade. Refere-se de uma forma geral a colegas de arte, personalidades e instituições que consigo trabalham em prol do progresso de Moçambique.
Depois da cerimónia de gradua챌찾o, foi inaugurado, no pátio da Universidade Politécnica, um mural em bet찾o produzido por Malangatana.
O mestre das artes plásticas nacionais nasceu em Matalana, distrito de Marracuene, Maputo, em 1936. Estudou numa escola da miss찾o suí챌a e depois noutra católica. Depois de obter o diploma da terceira classe rudimentar, fixou-se em Maputo, onde reside até hoje.
GIL FILIPE