QUANTO mais fotógrafos existirem melhor andará este mundo porque esta classe reporta com fidelidade qualquer realidade deste planeta. Esta tese foi defendida por Ricardo Rangel, co-autor da exposição fotográfica âUm Olhar Sobre a Cidade da Beira Através do Séculoâ, patente desde semana passada no Instituto Camões naquela capital provincial. A mostra encerra na próxima semana e envolve 53 imagens que nos trazem o percurso histórico do âChiveveâ desde de 1892 â quando a Beira se chamava Aruângua, nome do quartel militar que deu origem a urbe â até ao presente.
Maputo, Quarta-Feira, 24 de Outubro de 2007:: Notícias
S찾o, na realidade e na maior parte, imagens a preto e branco buscadas no Arquivo Histórico de Mo챌ambique através do Centro de Documenta챌찾o e Forma챌찾o Fotográfica (CDFF), que é actualmente dirigido pelo decano do foto-jornalismo mo챌ambicano, Ricardo Rangel. Algumas fotografias foram cedidas pelos residentes daquela cidade, como é o caso do empresário Zaid Aly. Outras - 16 no total - foram feitas pelo próprio Rangel entre 1990 e 2007.
A imagem mais antiga, de 1892, ilustra o Porto da Beira feito de material local, numa altura em que Aru창ngua era apenas um povoado pouco habitado. Era uma zona pobre, mas com um mar bastante rico, como o é hoje.
A exposição trás ainda outras fases da Aruângua, com os edifícios de madeira e zinco a marcarem a originalidade de uma cidade preenchida de linha férrea usada para os negros transportarem os colonos brancos em meios de transporte típicos, os riquexós, que se assemelhavam aos actuais tchova. A “veterana” Cadeia Central da Beira e a Catedral aparecem bem notórias na exposição, notabilizando-se como uma das mais antigas construções beirenses.
O actual edifício do Conselho Municipal da Beira, a Casa de Portugal, as pontes sobre o rio Chiveve, a Casa de Ferro, entre outras infra-estruturas, aparecem bem patentes na exposi챌찾o em alus찾o para mostrar a evolu챌찾o registada pela capital provincial de Sofala longo do tempo.
Os organizadores do evento, o Centro de Documentação e Formação Fotográfica, a Associação Moçambicana de Fotografia, o Instituto Camões-Pólo da Beira e a Cooperação Italiana, frisaram que o evento se insere nas celebrações do centenário do Chiveve”, que vem sendo comemorado desde 20 de Agosto. As comemorações terminarão em Dezembro e incluem ainda várias realizações culturais.
Com efeito, Ricardo Rangel, a figura do evento, disse ter sido aquela uma das formas encontras por ele para homenagear a cidade onde começou a trilhar primeiros caminhos da fotografia, sabendo-se, no entanto, que o visado trabalhou bastante tempo nos jornais “Notícias” e “Diário de Moçambique”.
UMA HOMENAGEM A SEBASTIÃO DE RESENDE
Maputo, Quarta-Feira, 24 de Outubro de 2007:: Notícias
Ricardo Rangel afirmou que a acabada de inaugurar na Beira também serve para gratificar os feitos de um dos grandes homens que residiu nesta urbe e que, apesar de ser estrangeiro, lutou muito contra o colonialismo e o regime fascista portugu챗s. Trata-se de Dom Sebasti찾o de Resende, primeiro bispo daquela cidade, que foi, por sinal, após a sua morte, enterrado na urbe.
Visivelmente emocionado, o decano do foto-jornalismo moçambicano disse que se inspirava bastante em Dom Sebastião de Resende. âO que mais me marcou na Beira foram as pessoas, uma delas foi o primeiro bispo desta cidadeâ, apontou. Aliás, Rangel trabalhou no âDiário de Moçambiqueâ numa altura em que o matutino era dirigido por aquele representante da Igreja Católica.
Convidado pelo “Notícias” a deixar um apelo para os que procuram um lugar ao sol na carreira fotográfica, Rangel referiu que tem o hábito de dizer aos mais jovens que “quanto mais fotógrafos existirem melhor andará este mundo”, numa clara alusão a fidelidade que as imagens fotográficas trazem. Não só, o nosso informador deixou claro que a paixão pela beleza que os fotógrafos possuem é uma outra razão que justifica a sua tese.
Sendo assim, convidou aos jovens a apostarem bastante nesta área que ainda é pouco explorada no nosso país, principalmente nas zonas suburbanas, onde quase n찾o se fala da fotografia.
Disse ainda que, num futuro breve, poderá trazer à tona exposições de género reportando o historial doutros pontos do nosso país. Outras cidades também têm passado, elas têm uma história secular, por isso, poderei nos próximos tempos trazer algo. Já me convidaram para falar de Inhambane e outros cantos deste país”, ajuntou.
Por seu turno, Guido Larcher, embaixador da Itália em Mo챌ambique, considera que o evento tinha, igualmente, como objectivo fortificar cada vez mais os la챌os históricos entre o seu país e a cidade da Beira, em particular, e a província de Sofala, no geral.
Larcher considerou ainda a exposição como um contributo da Cooperação Italiana na valorização e conservação da cultura moçambicana. Sublinhou, no entanto, que aquela não era o único contributo do seu país no âmbito das festividades do centenário da cidade da Beira. Apontou, para o efeito, o CinemArena, um programa cinematográfico de educação cívica e moral sobre HIV/SIDA exibido recentemente naquele ponto do país.
Enquanto isso, Daviz Simango, presidente do Conselho Municipal da Beira, reconheceu que, a pouco e pouco, os amigos daquela cidade est찾o a conseguir ajudar na edifica챌찾o da história daquela urbe, dando o seu contributo quer singular, bem como colectivo.
Para ele, a exposi챌찾o vai ajudar a nova gera챌찾o a compreender melhor a evolu챌찾o da capital provincial de Sofala e, por conseguinte, vai dar algum ímpeto para que se fa챌a com que o Chiveve cres챌a cada vez mais.
Para Maria Pinto de Sá, presidente da Associa챌찾o Cultural Casa do Artista e coordenadora da exposi챌찾o, as 53 fotos da mostra abrem uma página da história do Chiveve, pouco conhecida por grande parte dos seus actuais residentes.
De Sá reconheceu que a exposição será, para além do seu lado documental, uma contribuição didáctica para muitos jovens desta região do país, particularmente os interessados no estudo da história da do Chiveve.
Entretanto, a cerimónia foi bastante concorrida, com muitos principiantes na área da fotografia a procurarem buscar algo do mestre Rangel. Não só, o evento acabou sendo o encontro de nostalgia pelo facto de muitos decanos do jornalismo beirense aproveitarem a ocasião para reviver alguns “pedaços” do passado com o co-autor.
EDUARDO SIXPENCE